
O governo de Donald Trump nos Estados Unidos demitiu quase 400 cientistas responsáveis pela Avaliação Nacional do Clima (NCA, da sigla em Inglês), relatório federal que analisa os impactos das mudanças climáticas nos EUA a cada quatro anos. A medida, vista como um ataque à Ciência Climática, levou a União Geofísica Americana (AGU, da sigla em Inglês) e a Sociedade Meteorológica Americana (AMS) a anunciarem na última semana a criação de uma coleção especial de pesquisas independentes para preservar os dados descartados.
Inédita, a iniciativa visa evitar um apagão de informações essenciais para políticas públicas, já que a próxima edição oficial do relatório, prevista para 2027, pode ser drasticamente reduzida devido às demissões. A decisão de Trump coloca em risco a base científica que orienta governos e empresas no combate aos efeitos das mudanças climáticas, como secas, enchentes e incêndios florestais.
A Avaliação Nacional do Clima é exigida por lei desde 1990 e serve como ferramenta vital para Adaptação e Mitigação. A Casa Branca afirmou que “avalia o escopo” do próximo relatório, sinalizando possível censura a descobertas que contradigam o negacionismo vigente. Especialistas alertam que, sem dados precisos, os EUA ficarão vulneráveis a crises ambientais e econômicas.
O NY Times lembrou que a iniciativa não substitui o relatório federal oficial, mas busca preservar pesquisas cruciais. Enquanto a Casa Branca alega estar “reavaliando” o escopo do relatório climático nacional, conforme e-mail enviado aos pesquisadores demitidos, especialistas alertam que o corte de verbas e equipe pode inviabilizar a próxima edição do documento.
Os autores do relatório alternativo, que já trabalhavam há um ano em capítulos sobre modelos climáticos e adaptação urbana ao calor, agora terão na publicação alternativa uma chance de divulgar seus estudos. “Não substitui a avaliação oficial, mas permite concluir pesquisas já iniciadas”, destacou Jason West, cientista que participou da edição anterior, ressaltando a importância do processo de revisão governamental e pública do relatório original. Anjuli Bamzai, ex-presidente da Sociedade Meteorológica, destacou que o relatório oficial fornece cenários para os próximos 25 e 100 anos, fundamentais para o planejamento de infraestrutura e políticas públicas., informou a Associated Press.
Nature, Guardian, Bloomberg, CBS News, Deutsche Welle, CNN, Reuters, entre outros, repercutiram a iniciativa das entidades científicas norte-americanas.
Em tempo: Não são só os cientistas: o ataque direto de Trump à geração de energia eólica também ganhou sua devida reação. Uma coalizão liderada por procuradores-gerais democratas de 17 estados e do Distrito de Columbia (distrito equivalente ao nosso Distrito Federal) moveu uma ação no tribunal federal de Boston para barrar a suspensão indefinida de licenças para projetos eólicos decretada pelo presidente dos EUA em 20 de janeiro, noticiaram Guardian, NY Times e Reuters. Os autores da ação alegam que a decisão é ilegal e ameaça um setor vital de energia limpa, com a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, acusando a administração de “destruir” uma fonte energética em crescimento. O processo busca anular a medida - que paralisa tanto projetos offshore quanto terrestres - e impedir que agências federais a cumpram, enquanto a Casa Branca mantém silêncio sobre o caso.