
A adaptação climática emerge como o novo front do capitalismo em tempos de crise. Enquanto a mitigação tenta frear as emissões de carbono, a adaptação prepara o mundo para os impactos inevitáveis, de cidades transformadas para o enfrentamento a enchentes até cultivos capazes de resistir a longos períodos de seca.
Um estudo do fundo soberano de Cingapura (GIC) e da Bain & Co. revela que o mercado da adaptação, hoje avaliado em US$ 1 trilhão, pode quadruplicar até 2050, transformando ameaças em oportunidades para investidores visionários. A contradição é evidente: o mercado enxerga lucro onde governos ainda lidam com nebulosas previsões de despesas.
Os números impressionam, mas escondem uma dura realidade. Embora o valor das empresas de adaptação possa saltar para US$ 9 trilhões em três décadas, os financiamentos atuais cobrem apenas um sexto do necessário até 2030, segundo o JP Morgan. Cada dólar investido hoje em adaptação pode economizar seis em reconstrução amanhã, mas a janela para ação está se fechando. De sistemas de alerta precoce à infraestrutura resiliente, as soluções existem, mas falta transformá-las em prioridade antes que eventos extremos as imponham pela força.
Componentes arquitetônicos resistentes a ventos extremos, cultivos imunes a secas e sistemas de alerta precoce representam a nova fronteira de investimento, destacaram Straits Times e Economic Times, lembrando que enquanto furacões e tempestades já devoram 55% das perdas econômicas globais deste século.
Apesar de 2024 bater recordes históricos de calor e eventos extremos terem causado US$ 4,3 trilhões em danos desde 1970, menos de um sexto do financiamento necessário para adaptação foi mobilizado. Planos nacionais de adaptação, exigidos pela ONU até 2025, avançam vagarosamente diante de um contexto que já estrangula economias vulneráveis.
Por outro lado, diferente da mitigação, refém de incertezas políticas, a adaptação oferece solidez. Seu potencial de investimento varia menos de 4% seja num cenário otimista (1,4°C de aquecimento) ou catastrófico (+4°C). Para investidores, o caminho segue por monitorar inovações tecnológicas, escalabilidade de soluções e a aceleração dos desastres.
O relatório narra que não se trata mais de escolher entre lucro e sobrevivência, mas de entender que ambos estão irrevogavelmente entrelaçados.
Em tempo: Um relatório das Nações Unidas divulgado na última 2a feira (5/5) destacou que os países asiáticos precisam direcionar centenas de bilhões de dólares para financiar medidas de adaptação climática, com custos anuais podendo atingir US$ 340 bilhões até 2030 apenas nas nações em desenvolvimento, noticiou a Bloomberg . A ONU alerta que planos nacionais robustos são urgentes para proteger infraestruturas e economias contra eventos extremos, atraindo investimentos alternativos além da mitigação de emissões. No entanto, apenas 19 países da Ásia-Pacífico apresentaram estratégias concretas até agora, revelando uma lacuna crítica entre necessidade e ação em uma das regiões mais vulneráveis do mundo.