
A reciclagem avançada, que inclui a reciclagem química, é uma alternativa mais controversa do que faz acreditar a indústria fóssil que a defende como solução, segundo relatório técnico divulgado pelo Center for Climate Integrity (CCI) nesta semana.
Diferente dos métodos tradicionais que apenas trituram e derretem o material, a reciclagem avançada quebra as moléculas do plástico através de processos como pirólise e gaseificação, transformando-o novamente em matéria-prima para fabricação de produtos com qualidade equivalente ao material virgem.
No entanto, o estudo revela que os benefícios ambientais da técnica ainda enfrentam obstáculos significativos. O alto consumo energético dos processos químicos aparece como principal entrave, já que a pegada de carbono pode superar a da produção convencional caso utilize fontes não renováveis, noticiou o Grist.
Além disso, os pesquisadores alertam para a falta de regulamentação clara sobre o destino final dos produtos reciclados, com risco de que parte do material seja simplesmente queimado como combustível em vez de realmente reinserido na cadeia produtiva. Essas limitações colocam em xeque a eficácia da tecnologia como solução isolada para a crise dos plásticos.
O relatório destaca que o potencial sustentável da reciclagem avançada depende fundamentalmente de seu acoplamento a políticas abrangentes de economia circular. Quando combinada com a redução do consumo de plásticos virgens e o fortalecimento da reciclagem mecânica tradicional, a técnica pode contribuir para diminuir a extração de petróleo e o acúmulo de resíduos no meio ambiente. Os autores enfatizam, contudo, que sua implementação em larga escala exigirá pesados investimentos em infraestrutura e o desenvolvimento de marcos regulatórios específicos para garantir transparência e eficiência no processo.
Nas condições atuais, a tecnologia ainda não consegue competir economicamente com a produção convencional de plásticos, necessitando de subsídios e incentivos governamentais para se tornar viável. Países europeus aparecem na vanguarda deste movimento, com projetos-piloto que já demonstram a possibilidade de integração a sistemas industriais de baixo carbono. Mesmo nestes casos, porém, os resultados ainda são limitados e de pequena escala quando comparados ao volume global de resíduos plásticos gerados anualmente.
Os pesquisadores recomendam que governos e empresas tratem a tecnologia como complemento e não substituto de estratégias mais amplas de redução na fonte e reutilização de materiais, além do investimentos paralelos em energias renováveis para tornar o processo verdadeiramente sustentável. O desafio, segundo os especialistas, está em encontrar o equilíbrio entre inovação tecnológica e mudança nos padrões de produção e consumo.
O Guardian destacou os principais pontos do relatório.