
O crescimento do uso de fornos de arco elétrico (EAF), uma ação-chave para “esverdear” a siderurgia, uma das indústrias mais poluentes do mundo, está se concretizando. No entanto, a descarbonização do segmento dependerá da Índia adotar métodos de produção mais limpos. É o que mostra o relatório anual do Global Energy Monitor (GEM) sobre a produção global de ferro e aço.
Até 2030, a proporção da capacidade siderúrgica global que usa fornos de arco elétrico, de menor emissão, deverá atingir 36%, ou 868 milhões de toneladas por ano (mtpa), pouco abaixo da meta de 37% projetada pela Agência Internacional de Energia (IEA). Contudo, embora a proporção da capacidade siderúrgica com EAF tenha aumentado gradualmente desde o início da década, a produção de aço a carvão continua dominante, destaca o relatório.
A produção de aço responde por 11% das emissões globais de GEE, e a demanda global pelo produto deve ultrapassar 2 bilhões de toneladas até 2030, destaca o GEM. Enquanto a tecnologia de EAF deve aumentar 24% até lá, a capacidade dos altos-fornos, movidos a carvão, deve crescer apenas 7%, mas ainda respondendo por 64% da produção global total, relatou a Reuters.
Como destacou a Bloomberg, é nesse ponto que o setor siderúrgico da Índia pode ser o sucesso ou o fracasso de uma meta global fundamental de descarbonização. Enquanto a China domina em capacidade operacional, a Índia tem a siderurgia mais poluente do planeta. Grande parte dos fornos em implantação no país será alimentada por carvão, já que a Índia ainda carece de matéria-prima de sucata usada em métodos de produção mais limpos.
“A Índia é agora o termômetro da descarbonização global do aço”, disse Astrid Grigsby-Schulte, gerente de projetos do Global Iron and Steel Tracker do GEM e coautora do relatório. “Se o país não intensificar seus planos de produção de aço verde, todo o setor perderá um marco importante”, ressaltou.
A Associated Press informou que a Índia planeja expandir sua capacidade de produção de aço de 200 milhões para mais de 330 milhões de toneladas por ano até 2030. Mais de 40% da capacidade global em desenvolvimento – cerca de 352 milhões de toneladas por ano – está no país. E mais da metade usando carvão.
No entanto, como pontuado pela AFP, há uma lacuna grande entre os planos e os desenvolvimentos reais na prática, disse o GEM. Apenas 12% da nova capacidade siderúrgica anunciada entrou em operação desde que o país divulgou sua Política Nacional do Aço de 2017. Na China, esse número foi 80%.
Isso sugere que os “ambiciosos planos de crescimento são mais conversa do que ação até agora”, pontua o GEM. E isso “deixa uma grande percentagem de seus planos de desenvolvimento que ainda podem mudar para tecnologias de menor emissão”, acrescentou Astrid.