
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alertou que a severa seca na Síria em 2025 pode levar à perda de 75% da safra de trigo do país, colocando milhões em risco de insegurança alimentar. O ministério da Agricultura sírio confirmou à Reuters que as autoridades estão tomando medidas emergenciais, incluindo restrições ao cultivo de plantações que demandam grande quantidade de água.
O fim parcial das sanções internacionais, anunciado pelo presidente americano Donald Trump na semana passada e seguido pela União Europeia em 20 de maio, pode permitir a importação de fertilizantes e tecnologias de irrigação antes proibidas. A FAO estima um déficit de 2,7 milhões de toneladas de trigo neste ano – quantidade suficiente para alimentar 16,3 milhões de sírios por doze meses.
Agricultores já enfrentam perdas totais em Aleppo, em meio a uma crise agravada por 13 anos de guerra. A Rússia, principal fornecedora de trigo durante o governo de Bashar al-Assad, suspendeu os envios após a tomada de poder por rebeldes islamitas.
As autoridades sírias afirmam que o fim das sanções não resolverá a seca, mas permitirá modernizar sistemas de irrigação e melhorar a produtividade agrícola. O país, que durante anos dependeu da Rússia e do Irã devido ao isolamento econômico, agora busca alternativas para garantir seu abastecimento alimentar.
A crise atual expõe a vulnerabilidade da Síria frente às mudanças climáticas e à instabilidade política. Enquanto o governo tenta implementar soluções de longo prazo, a população enfrenta a escassez de alimentos básicos, em um dos anos mais difíceis desde o início da guerra civil.
Como destaca o francês Le Monde, o conflito arrasou propriedades agrícolas e sistemas de irrigação, já fragilizados pelos impactos das alterações climáticas. Numa nação onde 45% da população vive direta ou indiretamente da agricultura, o governo atual tem como prioridade estratégica restabelecer a capacidade de produção alimentar interna.
A seca também transformou o acesso à água potável em um desafio para os sírios. O manancial que forma o rio Barada, responsável por abastecer 5 milhões de pessoas na região metropolitana de Damasco, está em situação crítica. Este sistema hídrico fornece aproximadamente 70% do consumo total da capital síria e seus arredores, informou a Associated Press.
Diante da pior crise de abastecimento dos últimos anos, a população vem sendo obrigada a recorrer a caminhões-pipa abastecidos por fontes subterrâneas. Autoridades governamentais emitiram alertas sobre o agravamento do cenário durante os meses de verão, recomendando à população medidas rigorosas de economia de água em atividades cotidianas como higiene pessoal, limpeza doméstica e lavagem de utensílios.
Em tempo: Mesmo que a guerra tivesse tomado rumos diferentes, a Síria não poderia contar com os suprimentos da Rússia, maior exportador global de trigo. O país enfrenta uma crise agrícola severa em Rostov, sua principal região produtora de grãos, levando o governo a declarar estado de emergência na semana passada. Geadas destrutivas e uma prolongada seca ameaçam reduzir drasticamente a colheita. Especialistas alertam que as chuvas de maio de 2025 são insuficientes para reverter o cenário crítico. As informações são da Reuters.