Senado derruba decreto que demarcava Terras Indígenas em SC

Aprovação em Plenário acirra disputa jurídica sobre novas homologações enquanto marco temporal segue em conciliação no STF.
28 de maio de 2025
senado derruba decreto que demarcava terras indígenas em sc
Lula Marques/Agência Brasil

Foi aprovada em votação simbólica no plenário do Senado na noite desta 4ª feira (28/5) um projeto que derruba decretos do presidente Lula homologando terras indígenas em Santa Catarina. O Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 717/2024 já havia passado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no período da tarde, quando foi solicitada – e aceita – urgência para sua votação em Plenário.

O texto original do relator Alessandro Vieira (MDB-SE) foi alterado por uma versão alternativa do senador Sérgio Moro (União-PR), aprovado após intensa articulação da oposição. Apenas os senadores Randolfe Rodrigues (PT-AP), Jaques Wagner (PT-BA) e Rogério Carvalho (PT-SE) votaram contra. Agora a matéria segue para a Câmara dos Deputados.

O projeto aprovado suspende os efeitos de dois decretos presidenciais de dezembro de 2023 que homologaram as Terras Indígenas Morro dos Cavalos, na Grande Florianópolis, e Toldo Imbu, em Abelardo Luz, no Oeste catarinense – a penúltima etapa do processo demarcatório, que estabelece limites territoriais e garante direitos constitucionais. A medida também derruba parte de um decreto de 1996 sobre o rito de reconhecimento de Terras Indígenas, originalmente proposto pelo senador Espiridião Amin (PP-SC).

O processo revela profunda divergência entre os Poderes. Senadores da oposição argumentam que Lula violou acordo político para não avançar em demarcações enquanto o STF analisa o marco temporal, alegando que o governo se comprometeu a aguardar as conclusões do Supremo sobre as regras promulgadas pelo Congresso em 2023. Por outro lado, o relator original Alessandro Vieira considerou a derrubada dos decretos “inconstitucional”, defendendo que eventuais irregularidades deveriam ser questionadas no Judiciário, não no Legislativo.

O contexto jurídico é complexo. O STF declarou inconstitucional a tese do marco temporal (que limitava demarcações a terras ocupadas antes de 1988), o que não impediu o Congresso de aprovar uma lei formalizando essa tese. Em abril de 2024, o ministro Gilmar Mendes abriu conciliação sobre o tema, e em janeiro, André Mendonça já havia suspendido os efeitos do decreto de Toldo Imbu até o julgamento definitivo. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), defendeu que não houve “má-fé” na assinatura dos decretos, afirmando que “o governo interpretou e entendeu que cabia assinar o decreto, e assim o fez”.

O Ministério dos Povos Indígenas reagiu imediatamente já na aprovação do texto na CCJ, classificando a decisão como “retrocesso aos direitos indígenas”.  O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) manifestou que tratava-se da aprovação de um projeto “que desmonta o rito de demarcação de Terras Indígenas”.

“A demarcação das Terras Indígenas Toldo Imbu e Morro dos Cavalos é resultado de um processo histórico e legalmente embasado. O PDL em questão representa uma afronta aos direitos indígenas, ao meio ambiente e à segurança jurídica. Por isso, é fundamental que o Congresso Nacional rejeite essa medida e garanta a proteção dos territórios tradicionais”, disse a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) em nota.

O Globo, g1, Agência Brasil, CNN Brasil , CBN, entre outros, repercutiram as tramitações do PDL717 no Senado.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Desafios e soluções

Aqui você terá acesso a conteúdo que permitirão compreender as consequências das mudanças climáticas, sob os pontos de vista econômico, político e social, e aprenderá mais sobre quais são os diferentes desafios e as possíveis soluções para a crise climática.
15 Aulas — 7h Total
Iniciar