Lobby do gás e do carvão faz Brasil insistir em usinas a combustíveis fósseis

Ministério de Minas e Energia defende as termelétricas como garantia de segurança energética.
8 de junho de 2025
lobby gás e carvão brasil usinas combustíveis fósseis
Divulgação/Neoenergia

A Justiça suspendeu em março uma audiência pública sobre a instalação de uma termelétrica a gás natural em Samambaia (DF), enquanto duas empresas desistiram de construir usinas a carvão no Rio Grande do Sul após questionamentos judiciais. Os casos reacendem o debate sobre a expansão de termelétricas fósseis no Brasil, que emitiram 17,9 milhões de toneladas de CO₂ em 2023 – volume superior às emissões anuais da cidade de São Paulo (14,5 milhões de toneladas), segundo dados do IEMA e do SEEG.

O ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira defende as termelétricas como garantia de segurança energética, argumentando que elas podem ser acionadas independentemente de condições climáticas. O Plano Decenal de Energia 2034 prevê o “fortalecimento da geração termelétrica”, mas especialistas apontam alternativas, como a modernização de hidrelétricas antigas. “Trocar turbinas geraria mais energia sem impactos ambientais adicionais”, afirma Shigueo Watanabe Jr., do ClimaInfo, ao Deutsch Welle.

O lobby por combustíveis fósseis é evidente em manobras legislativas. Em 2021, a lei da privatização da Eletrobras incluiu a obrigação de contratar 8 GW de termelétricas a gás, enquanto o marco da energia eólica offshore tentou impor mais 4,25 GW e estender a vida útil de usinas a carvão até 2050. Embora Lula tenha vetado os trechos, o Congresso pode derrubar os vetos e manter os subsídios a fontes poluentes.

A crise hídrica de 2001 justificou a primeira onda de termelétricas, mas hoje o cenário climático exige mudanças. “O preço do gás é volátil e as emissões são incompatíveis com as metas ambientais”, alerta Watanabe. Enquanto isso, projetos como a usina de carvão Nova Seival, que consumiria água para 230 mil pessoas diariamente, enfrentam resistência. No RS, uma decisão judicial inédita passou a exigir análise climática nos licenciamentos de termelétricas.

Com 100 projetos em tramitação, o Brasil caminha na contramão da transição energética. Um estudo publicado em dezembro pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) mostrou que as 67 termelétricas fósseis conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) emitiram, em 2023, quase 18 milhões de toneladas de gás carbônico (CO₂), o principal responsável pelo aquecimento global, destacou a Isto É Dinheiro. “Termelétricas são caras, poluentes e agravam a crise hídrica”, destaca Raíssa Gomes, do IEMA. Ela defere avaliações ambientais rigorosas e critica leilões que habilitam usinas sem licenças. Enquanto o lobby do gás e do carvão pressiona, a conta climática e tarifária recairá sobre a população.

UOL, g1, entre outros, repercutiram o questionamento sobre o uso de termelétricas no Brasil.

  • Em tempo 1: Em maio, lembra o Estado de Minas, a ANEEL ativou a bandeira amarela nas contas de energia devido à transição para o período seco, com previsão de chuvas e vazões abaixo da média nos reservatórios das hidrelétricas nos próximos meses. A agência alertou que a menor geração hídrica pode exigir maior acionamento de termelétricas, cuja energia é mais cara, após meses com bandeira verde (sem custo extra) devido às condições favoráveis de geração. O sistema de bandeiras tarifárias, criado em 2015, indica os custos variáveis da energia: a amarela adiciona R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos, enquanto a vermelha (com dois patamares) pode elevar a tarifa em até R$ 7,877 para o mesmo consumo.

  • Em tempo 2: Um estudo encomendado pelo Movimento União BR à Nexus apontou que 82% dos brasileiros acima de 16 anos já realizaram ações de auxílio a vítimas de desastres naturais, sendo as doações de roupas (68%), alimentos (58%) e dinheiro (37%) as mais comuns. A pesquisa, realizada com 2.013 pessoas em todas as unidades da Federação entre abril e maio de 2025, também mostrou que 25% dos entrevistados já vivenciaram ou conhecem alguém afetado por eventos climáticos extremos, com enchentes (68%) sendo os mais citados. Apesar da solidariedade, 77% da população nunca tomou medidas preventivas contra desastres, e metade desconhece canais de informação para emergências. Folha, Exame, Correio Braziliense, O lobo, Agência Brasil, Isto É, Isto É Dinheiro, Imirante.com, DOL, entre outros, repercutiram o estudo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar