Silenciosa, acidificação dos oceanos atinge patamares sem precedentes

Danos já são visíveis em ecossistemas marinhos ao redor do globo; queima de combustíveis fósseis é apontada como principal causa. 
9 de junho de 2025
acidificação dos oceanos
Matt Hardy/Unsplash

Pesquisadores do Plymouth Marine Laboratory e da NOAA descobriram que a acidificação dos oceanos ultrapassou globalmente seu limite seguro no ano 2000, ameaçando ecossistemas marinhos em escala global. O estudo, publicado na revista “Global Change Biology”, mostra que as águas superficiais já atingiram níveis perigosos, enquanto 60% das regiões e até 200 metros de profundidade também ultrapassaram esse patamar. Os cientistas alertam que os impactos são mais graves e extensos do que se imaginava. O processo é considerado como uma destrutividade silenciosa causada pelas mudanças  climáticas.

Os danos já são visíveis em diversos ecossistemas: recifes de coral tropicais perderam 43% de seus habitats adequados e moluscos costeiros tiveram redução de 13% em suas áreas de sobrevivência. Nas regiões polares, as borboletas-do-mar, espécies-chave na cadeia alimentar, enfrentam perdas de até 61% de seu habitat natural. O estudo recomenda a revisão do limite de segurança, já que uma variação de apenas 10% em relação aos níveis pré-industriais é suficiente para causar danos significativos. As regiões polares são as mais afetadas na superfície, enquanto águas profundas próximas aos pólos e a zonas de ressurgência, como as costas da América do Norte e do Equador, registram as mudanças mais severas. Como grande parte da vida marinha habita camadas intermediárias e profundas, os efeitos da acidificação podem ser ainda mais graves do que o previsto, ameaçando corais de profundidade, moluscos e espécies bentônicas, como caranguejos e ostras.

A queda no pH reduz a disponibilidade de carbonato de cálcio, mineral essencial para a formação de conchas e esqueletos em organismos marinhos. Espécies como corais, mexilhões e ouriços-do-mar enfrentam crescimento mais lento, estruturas enfraquecidas e menor sucesso reprodutivo. Esse fenômeno não só coloca em risco a biodiversidade, mas também atividades humanas dependentes dos oceanos, como pesca e turismo.

Além dos danos ecológicos, a acidificação tem sérias implicações econômicas. Recifes de coral e a aquicultura sustentam bilhões em receitas e subsistência de comunidades costeiras. Steve Widdicombe, coautor do estudo, alerta que adiar ações significa colocar em risco tanto a vida marinha, quanto as economias locais. A pesquisa reforça a necessidade de medidas urgentes para se proteger áreas menos impactadas e fortalecer a resiliência dos ecossistemas.

Os autores defendem políticas de conservação direcionadas às regiões mais vulneráveis e melhor gestão dos oceanos diante das múltiplas pressões ambientais. Eles destacam que a proteção de habitats profundos e a redução das emissões de CO₂ são passos essenciais para minimizar os impactos da acidificação. O estudo serve como um alerta global: sem ações imediatas, os danos aos oceanos podem se tornar irreversíveis.

“É complicado observar os efeitos biológicos porque eles vão levar muito tempo para se manifestar, e diferenciar os impactos da acidificação dos oceanos de outros fatores como temperatura, pressão da pesca e poluição torna realmente difícil criar impulso e mobilização entre os tomadores de decisão e formuladores de políticas para enfrentar o problema com a seriedade necessária”, diz o professor Steve Widdicombe, diretor de ciência do PML e uma das principais vozes globais sobre acidificação dos oceanos ao Guardian

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar