
Pesquisadores do Plymouth Marine Laboratory e da NOAA descobriram que a acidificação dos oceanos ultrapassou globalmente seu limite seguro no ano 2000, ameaçando ecossistemas marinhos em escala global. O estudo, publicado na revista “Global Change Biology”, mostra que as águas superficiais já atingiram níveis perigosos, enquanto 60% das regiões e até 200 metros de profundidade também ultrapassaram esse patamar. Os cientistas alertam que os impactos são mais graves e extensos do que se imaginava. O processo é considerado como uma destrutividade silenciosa causada pelas mudanças climáticas.
Os danos já são visíveis em diversos ecossistemas: recifes de coral tropicais perderam 43% de seus habitats adequados e moluscos costeiros tiveram redução de 13% em suas áreas de sobrevivência. Nas regiões polares, as borboletas-do-mar, espécies-chave na cadeia alimentar, enfrentam perdas de até 61% de seu habitat natural. O estudo recomenda a revisão do limite de segurança, já que uma variação de apenas 10% em relação aos níveis pré-industriais é suficiente para causar danos significativos. As regiões polares são as mais afetadas na superfície, enquanto águas profundas próximas aos pólos e a zonas de ressurgência, como as costas da América do Norte e do Equador, registram as mudanças mais severas. Como grande parte da vida marinha habita camadas intermediárias e profundas, os efeitos da acidificação podem ser ainda mais graves do que o previsto, ameaçando corais de profundidade, moluscos e espécies bentônicas, como caranguejos e ostras.
A queda no pH reduz a disponibilidade de carbonato de cálcio, mineral essencial para a formação de conchas e esqueletos em organismos marinhos. Espécies como corais, mexilhões e ouriços-do-mar enfrentam crescimento mais lento, estruturas enfraquecidas e menor sucesso reprodutivo. Esse fenômeno não só coloca em risco a biodiversidade, mas também atividades humanas dependentes dos oceanos, como pesca e turismo.
Além dos danos ecológicos, a acidificação tem sérias implicações econômicas. Recifes de coral e a aquicultura sustentam bilhões em receitas e subsistência de comunidades costeiras. Steve Widdicombe, coautor do estudo, alerta que adiar ações significa colocar em risco tanto a vida marinha, quanto as economias locais. A pesquisa reforça a necessidade de medidas urgentes para se proteger áreas menos impactadas e fortalecer a resiliência dos ecossistemas.
Os autores defendem políticas de conservação direcionadas às regiões mais vulneráveis e melhor gestão dos oceanos diante das múltiplas pressões ambientais. Eles destacam que a proteção de habitats profundos e a redução das emissões de CO₂ são passos essenciais para minimizar os impactos da acidificação. O estudo serve como um alerta global: sem ações imediatas, os danos aos oceanos podem se tornar irreversíveis.
“É complicado observar os efeitos biológicos porque eles vão levar muito tempo para se manifestar, e diferenciar os impactos da acidificação dos oceanos de outros fatores como temperatura, pressão da pesca e poluição torna realmente difícil criar impulso e mobilização entre os tomadores de decisão e formuladores de políticas para enfrentar o problema com a seriedade necessária”, diz o professor Steve Widdicombe, diretor de ciência do PML e uma das principais vozes globais sobre acidificação dos oceanos ao Guardian.