Agropecuária brasileira consome mais energia fóssil que média global

Puxado pelo uso de diesel em maquinários pesados para produção extensiva, o combustível fóssil responde por 73% da energia consumida no campo.
25 de junho de 2025
agropecuária brasileira consome mais energia fóssil que média global
David Dibert/Unsplash

O consumo de energia fóssil no agronegócio brasileiro supera a média global (ainda que ligeiramente), segundo estudo do Observatório da Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 2022 o país utilizou 1,4 gigajoules (GJ) de combustíveis fósseis para cada US$ 1 mil de produção agropecuária, enquanto a média mundial foi de 1,2 GJ.

A dependência do diesel explica o desempenho brasileiro. O combustível responde por 73% da energia consumida no campo, ante 70% da média global. Esse cenário reflete uma produção ainda predominantemente extensiva, que demanda maior uso de maquinário movido a diesel em comparação com outros modelos agrícolas.

Apesar do alto consumo de fósseis, o Brasil tem eficiência energética geral superior à média mundial. O agronegócio nacional consumiu 1,2 GJ de energia total por US$ 1 mil produzidos, contra 1,5 GJ da média global. O dado sugere que, embora dependa muito de combustíveis fósseis, o país utiliza outros tipos de energia de forma mais eficiente. O estudo indicou grande variação entre países: a Argentina registrou 7,9 GJ/US$ 1 mil, enquanto a Índia apresentou apenas 0,1 GJ/US$ 1 mil.

A Europa apresenta intensidade energética muito maior que a brasileira, especialmente em países com agricultura intensiva. Na Holanda, onde a irrigação é essencial, o consumo de energia fóssil chegou a 5,9 GJ/US$ 1 mil. Como o Globo Rural assinalou, o contraste revela que, apesar dos desafios, o Brasil está em posição intermediária, com consumo menor que nações altamente mecanizadas, mas ainda acima de economias com agricultura menos dependente de combustíveis.

O Globo Rural também destacou um paradoxo da energia do agro: a participação da bioenergia na matriz energética brasileira saltou de menos de 10% na década de 1970 para 30% entre 2020 e 2023, segundo o estudo da FGV. Esse crescimento foi impulsionado pela expansão dos veículos flex e do programa de biodiesel, tornando a matriz brasileira uma das mais renováveis do mundo.

Em 2023, as fontes renováveis representaram 49,1% da matriz energética nacional. Sem a contribuição do agronegócio – que inclui biocombustíveis e geração de energia a partir de matérias-primas agrícolas -, esse percentual cairia para apenas 20%, próximo da média global de 15%, conforme cálculos do pesquisador Luciano Rodrigues, da FGV.

O aumento do uso de bioenergia no país foi impulsionado principalmente pela expansão dos carros flex e pela política de mistura de biodiesel ao diesel comum. Dados de 2023 mostram que a biomassa da cana-de-açúcar sozinha respondeu por 16,87% da oferta total de energia do país, superando a contribuição das hidrelétricas (12,01%) no mesmo período, explica o Valor. Essas boas notícias só podem se consolidar com a diminuição da queima fóssil na produção.

O clima tropical, a produção extensiva com menos irrigação, a elevada produtividade por hectare, mais de uma safra por ano, tecnologia e manejo adaptados às condições edafoclimáticas do país favorecem o uso de energias limpas.

“No entanto, essa vantagem convive com uma vulnerabilidade: a dependência do diesel. Em 2022, 73% da energia usada diretamente na agropecuária brasileira veio de combustíveis fósseis, em especial o diesel. Isso torna o setor sensível a choques externos, como variações no preço do petróleo ou crises geopolíticas”, explicou Luciano Rodrigues no portal da FGV.

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