BRICS podem liderar reindustrialização verde com cooperação Sul-Sul

Relatório aponta caminhos para transformar setores estratégicos e promover uma nova fase de industrialização de baixo carbono entre os países do bloco
2 de julho de 2025
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Carbon Analytics

Um novo estudo produzido pela rede de pesquisadores Zero Carbon Analytics, encomendado pelo Instituto ClimaInfo, mostra que os países fundadores do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) podem ganhar ao investir em conjunto na industrialização verde, ampliando sua autonomia tecnológica e reduzindo a dependência de outras cadeias de suprimento. Contudo, apesar do potencial, o tema ainda não é uma prioridade do grupo nem da sua presidência brasileira, em 2025.

De acordo com o documento “Potencial da Indústria Verde nos BRICS”, a maior parte dos esforços dos BRICS volta-se para a industrialização e a transição energética, mas pouco para o resultado da união de ambos os assuntos. Para a pesquisadora brasileira Renata Albuquerque Ribeiro, autora do estudo, é essencial que o tema ganhe protagonismo nas próximas cúpulas: “A reunião dos BRICS é uma ótima oportunidade para estruturar a transição energética como um eixo central para a industrialização de baixo carbono e fortalecer a cooperação internacional em áreas como energias renováveis, eletrificação e setores industriais de difícil abatimento.”

Setores como minerais críticos, baterias, energia eólica, combustíveis sustentáveis para aviação (SAF) e veículos elétricos (VEs) são estratégicos para o bloco. Os países do BRICS detêm parte significativa das reservas globais de minerais essenciais como grafite, níquel e manganês. No setor de combustíveis sustentáveis para aviação, Brasil e Índia se destacam: enquanto a nação sul-americana lançou três projetos que, juntos, terão capacidade de produzir 1,1 bilhão de litros por ano a partir de 2027, e recebe investimento de US$ 1 bilhão da empresa chinesa Envision Energy para produzir SAF a partir da cana-de-açúcar, a Índia projeta uma produção de até 10 bilhões de toneladas por ano até 2040, com investimentos estimados entre US$ 70 e 85 bilhões.

A indústria de veículos elétricos também mostra dinamismo. A China respondeu por 70% da produção global em 2024, enquanto as importações brasileiras atingiram US$ 1,6 bilhão, um salto de 108% em relação ao ano anterior. As vendas no Brasil cresceram 89% no mesmo período. Para dar conta da demanda, a montadora chinesa BYD iniciou a instalação de uma fábrica na Bahia, prevista para operar até o final de 2026.

Um dos destaques do estudo é o papel estratégico do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) como catalisador da reindustrialização verde no BRICS. Criado em 2015, o banco já destinou US$ 5,2 bilhões a projetos de financiamento climático entre 2015 e 2021, cerca de 18% do total de suas aprovações no período. Dentre os projetos apoiados, estão empréstimos para o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil, projetos de energia renovável na Índia e uma emissão de green bonds de US$ 1,25 bilhão em 2024. 

Contudo, para o ciclo 2022–2026, o NDB planeja aplicar US$ 30 bilhões em infraestrutura e sustentabilidade, dos quais 40% devem ser direcionados a energias renováveis — uma queda em relação à meta anterior de 60%. O estudo sugere que o banco poderia exercer um papel ainda mais ambicioso no financiamento de tecnologias verdes e apoiar de forma mais decisiva a reindustrialização de baixo carbono dos países-membros.

O documento também analisa os impactos das tarifas comerciais impostas pelos EUA, especialmente após o retorno de Donald Trump à presidência. A tarifa de 50% sobre aço e alumínio pode custar ao Brasil até US$ 1,5 bilhão em exportações, além de reduzir a produção nacional. As sobretaxas sobre produtos chineses, como painéis solares e baterias, podem ultrapassar 82% até 2026, o que deve acelerar a reorientação comercial da China em direção aos parceiros do BRICS.

Sobre o ClimaInfo
O Instituto ClimaInfo é uma organização da sociedade civil brasileira que atua em comunicação e produção de conhecimento sobre a crise climática, promovendo políticas públicas e engajamento social para uma economia de baixo carbono.

Sobre a Zero Carbon Analytics
A Zero Carbon Analytics é uma organização internacional dedicada à produção de análises baseadas em evidências para apoiar decisões estratégicas sobre ação climática e transição energética.

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