
A guerra entre Israel e Irã fez os preços do petróleo dispararem há poucas semanas. Analistas chegaram a prever que o barril do Brent, referência global do mercado, poderia chegar a US$ 130, ante valores médios de US$ 65-US$ 70 praticados antes do conflito. O arrefecimento das tensões no Oriente Médio, porém, estancou rapidamente a escalada de preços – o Brent era negociado a US$ 67 ontem (1/7).
Frente aos ânimos mais calmos e à perspectiva de excesso de oferta, o Morgan Stanley jogou o preço do Brent ainda mais para baixo. O banco projeta que o barril deve ficar em US$ 60 no início de 2026, segundo informaram Reuters, Exame, Economia em Pauta e Trading View.
Na semana passada, o petróleo acumulou a maior queda semanal dos últimos dois anos. A redução abrupta ocorreu após a trégua entre Irã e Israel aliviar os temores de uma possível interrupção no fornecimento mundial, já que parte significativa do óleo cru produzido no mundo passa pelo Estreito de Ormuz, que o governo iraniano ameaçou fechar.
O Morgan Stanley também vê um crescimento robusto da oferta por países não pertencentes à OPEP ao longo de 2025/26, na ordem de 1 milhão de barris por dia (bpd) a cada ano. O volume seria suficiente para atender ao crescimento da demanda. Mas, como a OPEP continua a reverter seus cortes de produção, o banco ainda espera um excesso de oferta de 1,3 milhão de bpd em 2026.
Cartel de grandes produtores mundiais de petróleo e aliados – entre eles o Brasil –, a OPEP+ concordou em maio com outro aumento de 411.000 barris de petróleo por dia para julho. Com isso, o total de aumentos feitos ou anunciados desde abril pelo grupo chegou a 1,37 milhão de bpd. Vale lembrar que o Brasil não adere às decisões do cartel de redução ou aumento de cotas de produção.
Analistas aumentaram marginalmente suas previsões de preços do petróleo após o aumento das tensões no Oriente Médio. No entanto, o aumento da oferta da OPEP+ e uma perspectiva de demanda moderada continuam a pesar sobre o petróleo bruto, mostrou uma pesquisa da Reuters na 2ª feira (30/6).
A queda dos preços e da demanda global por petróleo é péssima para os produtores do shale oil dos EUA, que precisam que o óleo cru esteja a pelo menos US$ 65 para ter lucro. A notícia também é ruim para a Petrobras e seus planos de explorar combustíveis fósseis na Foz do Amazonas – afinal, a petroleira brasileira terá de fazer grandes investimentos até o início da produção no bloco FZA-M-59, o que só deve ocorrer em 2031/2032, se de fato houver petróleo na região.
Com a demanda caindo ainda mais a partir de 2030, segundo cenário da Agência Internacional de Energia (IEA), a tendência da Petrobras ficar com um ativo encalhado nas mãos é cada vez maior. Um relatório do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), World Benchmarking Alliance (WBA) e WWF-Brasil já havia mostrado que 85% dos projetos da Petrobras podem ser economicamente inviáveis se a meta de 1,5oC de aumento de temperatura estabelecido pelo Acordo de Paris for cumprida. Mais um motivo para que a petroleira acelere sua transformação em uma empresa de energia, investindo mais em transição energética e menos em combustíveis fósseis.