
Os números são inquietantes: nos últimos dez anos, os desastres causados por chuvas intensas no país aumentaram 222%. Os dados, compilados por uma rede de pesquisadores ligados à Universidade Federal de São Paulo e instituições internacionais, revelam uma transformação radical no padrão climático brasileiro – com consequências devastadoras para a população.
Entre 1991 e 2023, mais de 26 mil eventos extremos foram registrados, atingindo 83% dos municípios brasileiros. E o cenário se agrava ano após ano – a média atual de ocorrências é sete vezes superior à registrada nos anos 1990. Enquanto o Sul e Sudeste enfrentam chuvas 30% mais intensas, as regiões Norte e Nordeste caminham para um futuro com até 40% menos precipitações até o final do século.
“Esse número [83%] foi um choque, mas ele é um choque de união, porque a gente entendeu que esta é uma pauta que é de todo mundo: Norte, Sul, Leste, Oeste, cidade pequena, cidade grande, cidade do interior, cidade litorânea, capital, não capital, ou seja, é todo mundo”, afirmou Ronaldo Christofoletti, do Instituto do Mar da UNIFESP e coordenador do estudo, ao UOL Ecoa.
O impacto humano dessa crise climática é avassalador. Mais de 91 milhões de brasileiros já foram diretamente afetados – número que representa um aumento de 82 vezes em relação aos anos 1990. O desastre no Rio Grande do Sul em 2024, que deixou 2,4 milhões de vítimas, elevou a média anual para 6,8 milhões de pessoas atingidas, quase o dobro da década anterior.
As enxurradas e inundações respondem por 64% dos desastres, seguidas por chuvas torrenciais (31%) e deslizamentos (5%). Além das perdas materiais, nove em cada dez sobreviventes carregam sequelas psicológicas permanentes. Diante desse cenário, especialistas defendem medidas urgentes que vão desde sistemas de alerta precoce até a reestruturação completa do planejamento urbano nas áreas de risco.
A situação se intensifica com um efeito dominó global, com a fuligem das queimadas brasileiras acelerando o derretimento do gelo antártico, que por sua vez altera todo o regime de chuvas no planeta.
“As mudanças climáticas têm reflexos diretos no regime de chuvas, tornando os eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos. A intensificação de chuvas fortes tem aumentado a ocorrência de desastres como alagamentos, enxurradas, inundações e escorregamento de encostas, especialmente em áreas urbanas e regiões serranas. Cidades e comunidades localizadas em vales, zonas de baixa elevação e encostas são particularmente vulneráveis ao aumento de precipitação, colocando milhares de vidas em risco”, pontuou o estudo.
Folha, O Globo, Jornal do Comércio, CNN Brasil, g1, Exame, Istoé e Istoé Dinheiro repercutiram o estudo.