
Pouco mais de um mês após deixar a Comissão de Infraestrutura do Senado por ter sido atacada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, voltou a enfrentar hostilidades gratuitas durante audiência na Comissão de Agricultura da Câmara na última 4a feira (2/7). Mais uma vez, o tom dos parlamentares foi desrespeitoso e agressivo.
A presença da ministra foi requisitada pelos deputados bolsonaristas Evair Vieira de Melo (PP-ES) e Rodolfo Nogueira (PL-MS), este presidente do colegiado. Inicialmente, o foco era a construção da polêmica Avenida da Liberdade, em Belém (PA), alvo de críticas por desmatamento às vésperas da COP30. Marina afirmou que o licenciamento da obra é de responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Semas), não do IBAMA, e recomendou que os questionamentos fossem direcionados ao governo estadual.
Ao invés de discutir o mérito da questão, Vieira de Melo preferiu atacar a ministra: “A senhora tem dificuldades com o agronegócio. Porque a senhora nunca trabalhou, nunca produziu, não sabe o que é prosperidade construída pelo trabalho. Todo mundo sabe, o mundo sabe que a senhora tem um discurso alinhado com essas ONGs internacionais”.
Durante a sessão, o deputado ainda deu um show de negacionismo climático, ao sentenciar que o clima no planeta sempre mudou e citar, sem fontes, que os desastres como os de 2024 no Rio Grande do Sul terão uma queda drástica nos próximos dez anos. Estudos científicos, claro, apontam para a direção oposta.
O presidente da comissão, deputado Rodolfo Nogueira, seguiu a mesma linha, dizendo que Marina Silva estaria deixando um “rastro de destruição” no ministério. Ele também acusou a ministra de distorcer informações sobre as queimadas no país. As declarações acirraram a disputa entre o governo e a bancada ruralista no Congresso, intensificado pelo clima de confronto durante a audiência.
Questionada pelo deputado Alberto Neto (PL-AM) sobre sua oposição ao asfaltamento de 400 km da BR-319, a ministra do Meio Ambiente reagiu afirmando que virou o “bode expiatório” pelo atraso da obra, observou o BC Amazonas.
Marina Silva ancorou-se nas citações bíblicas, como notado pela Folha, para rebater às críticas por horas. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. De que ela liberta? Da mentira. Porque o desmatamento em 2024 teve uma queda de quase 46% em relação ao ano de 2022”, disse, ao defender o atual governo. A ministra rebateu as ofensas, afirmando ter sido “terrivelmente agredida”. Negou, ainda, qualquer perseguição ao agronegócio.
Sobre o aumento das queimadas, Marina atribuiu o problema a fatores climáticos e ações criminosas. Dados do INPE mostram 278.229 focos de incêndio em 2024, alta de 46% em relação a 2023. Destacou também que secas e altas temperaturas agravam os incêndios, fenômeno também observado em países como Canadá e Austrália. Além disso, citou o triplo de inquéritos da Polícia Federal sobre queimadas intencionais, reforçando a combinação perversa entre clima e crimes ambientais.
Apesar dos ataques, a ministra reiterou seu compromisso com a legislação e a atuação técnica, rejeitando acusações de radicalismo. Após a sessão, afirmou estar satisfeita. “Havia um requerimento dizendo que havia uma preocupação em relação ao aumento do desmatamento e eu trouxe o dado de que o desmatamento, nos dois primeiros anos do governo do presidente Lula, no caso da Amazônia, caiu cerca de 46%. E caiu 32% em todo o país”, sintetizou em coletiva de imprensa.
Agência Brasil, O Globo, g1, JOTA, VEJA, Band, UOL, Brasil de Fato, CartaCapital, Correio Braziliense, Revista Cenarium e Metrópoles, entre outros, noticiaram as agressões da oposição contra Marina na Câmara.