
Um relatório da ONU divulgado na semana passada revelou que eventos extremos de seca entre 2023 e 2025 causaram danos econômicos e sociais sem precedentes em regiões desenvolvidas e vulneráveis. A combinação entre mudanças climáticas e o fenômeno El Niño, mais intenso e prolongado que o habitual, agravou a situação em múltiplos países, conforme análise da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em Inglês).
A Amazônia foi um dos biomas mais afetados, com perda de 3,3 milhões de hectares de águas superficiais em 2023. O desmatamento exacerbou a seca, reduzindo a capacidade de absorção de carbono pelas árvores. A crise hídrica impactou comunidades ribeirinhas, reacendendo debates sobre projetos como o asfaltamento da BR-319 – que, segundo especialistas, se realizado ampliará o desmate. Além disso, mais de 200 botos morreram no lago Tefé (AM), onde a água atingiu 39°C em setembro de 2023.
O documento, baseado em dados oficiais e científicos, revela o agravamento da seca em 12 zonas prioritárias da África, Sudeste Asiático, América Latina e Mediterrâneo (incluindo Espanha, Marrocos e Turquia), com impactos devastadores desde 2023 em agricultura, turismo, indústria e abastecimento de água potável, exigindo ações urgentes para conter os prejuízos econômicos e sociais.
O canal do Panamá também sofreu com a seca em 2023, quando choveu metade do volume normal, forçando restrições de carga e desviando navios para rotas alternativas. As perdas chegaram a US$100 milhões mensais entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. No México, 67% do território enfrentou seca extrema, comprometendo reservatórios e acordos históricos de compartilhamento hídrico com os EUA.
No Chifre da África, cinco anos de estiagem causaram a pior seca em 70 anos. No Quênia e na Somália, onde milhares morreram de fome, 1,7 milhão de crianças sofreram desnutrição, rebanhos inteiros foram dizimados e houve um aumento massivo no abandono escolar. Zimbábue e Zâmbia recorreram ao carvão para compensar a queda na geração hidrelétrica.
O relatório sugere investimentos em sistemas de alerta precoce, gestão sustentável da água e adaptação agrícola. “A seca é um risco sistêmico, não isolado”, afirma Daniel Tsegai, da UNCCD.
O relatório da UNCCD foi repercutido pela Folha, com destaques nos sites Edie.net, People Daily e Down To Earth.