
A emergência climática tem nome e sobrenome: as petroleiras mundiais.
Os termômetros falam por si: 2024 foi o primeiro ano a ultrapassar o limite de 1,5°C do Acordo de Paris. Em todo o mundo, as ondas de calor mataram milhares de pessoas, seja por causa dos termômetros nas alturas, seja por incêndios ou tempestades extremas. Casos como o Rio Grande do Sul, Espanha e Califórnia são exemplos dessa tragédia humana provocada pelas mudanças climáticas.
Enquanto isso, as petroleiras de todo o mundo, mas sobretudo as chamadas “big oil”, multinacionais que atuam em diversos países, mantêm planos de produzir mais e mais, no que são acompanhadas por carvoeiras e demais produtoras de combustíveis fósseis. E fazem isso sabendo, há quase 50 anos, que o petróleo e o gás fóssil são os principais responsáveis pelo aquecimento do planeta – um relatório da “big oil” Exxon-Mobil de 1977 já previa a crise climática.
Não é preciso ser especialista para verificar que a temperatura média do planeta subiu à medida que a produção e o consumo dos combustíveis fósseis – e também os lucros das empresas do ramo – cresceram de forma exorbitante. É uma relação direta e evidente.
Algumas dessas grandes petroleiras, como a Shell e a BP, chegaram a anunciar há alguns anos que reduziriam investimentos em combustíveis fósseis e que passariam a investir mais em fontes renováveis de energia, numa aparente preocupação em acelerar a transição energética para um mundo de baixas emissões de carbono à atmosfera. Mas os planos mudaram, e ambas não apenas diminuíram os recursos investidos em fontes renováveis de energia, como refizeram suas projeções e querem produzir mais petróleo e gás fóssil.
Enquanto os países pobres e em desenvolvimento cobram justificadamente os US$ 100 bilhões anuais prometidos pelas nações ricas para que enfrentem as mudanças climáticas, as petroleiras passam desapercebidas e sem doar um tostão para ajudar quem já sofre com o clima extremo causado por elas.
Pelo contrário: continuam sugando recursos de bancos e outras instituições financeiras, e também de governos via subsídios, desviando assim recursos que poderiam financiar a transição energética para fontes renováveis de energia. Para dar um exemplo do tamanho do desvio, a Agência Internacional de Energia (IEA) mostrou que, em 2022, os subsídios globais à energia fóssil somaram US$ 1,1 trilhão – o dobro do ano anterior.
Estes subsídios, somados à elevação do preço internacional do petróleo e do gás natural fóssil decorrente da guerra na Ucrânia, fizeram explodir os lucros das petroleiras. Exxon, Shell, Chevron, TotalEnergies e Petrobras, entre várias outras, registraram lucros líquidos recordes em 2022.
Então, por mais que finjam que “não é com elas”, a culpa dos transtornos climáticos que estamos vivendo é, sim, das petroleiras e de suas colegas fósseis. A crise climática tem nomes e sobrenome, como ExxonMobil, Shell, BP, Chevron, TotalEnergies, Saudi Aramco, PetroChina, Sinopec… e segue a lista, incluída aí a Petrobras. Estas têm o estímulo velado ou explícito dos governos de seus países de origem para continuarem produzindo mais e mais energia suja, à revelia da necessidade urgente de frear a tragédia que já é uma realidade.
Imagine chamar ondas de calor ou tempestades pelos nomes das petroleiras. Pode parecer um exercício bem humorado, mas transmitiria um recado sério: ou damos “nomes aos bois” e responsabilizamos – e cobramos – os verdadeiros responsáveis pelas mudanças climáticas – os combustíveis fósseis e quem os produz –, ou vamos ficar enxugando gelo com medidas paliativas, que tentam jogar sobre as pessoas, e não sobre as corporações, a culpa verdadeira do que está acontecendo.
Dar nome e cobrar dos culpados é Justiça Climática. E mais do que nunca precisamos dela.
Por Alexandre Gaspari, ClimaInfo