- O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) declaram que as mudanças climáticas são um tema importante de saúde global.
- O programa “A carga global de doenças” quantifica danos de vidas perdidas produtivas por país em decorrência de uma doença específica ou de mortalidade precoce, e o quanto isso impacta no Produto Interno Bruto (PIB).
- Estima-se que morram precocemente, por conta de variações de temperatura no mundo, ao redor de um milhão de pessoas por ano.
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Embora as questões de saúde ainda não sejam relacionadas às mudanças climáticas por muitos profissionais da saúde, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) são taxativos em mostrar que as mudanças climáticas impactam a saúde global.
O médico e pesquisador Paulo Saldiva explica que a saúde pode ser precificada tanto em termos morais e pessoais quanto em custos. O gestor público pode usar os dados para investir no que for mais impactante. A OMS lançou o programa Global Burden of Disease, chamado “A carga global de doenças”, em português. Por meio de seus resultados é possível analisar a carga global de doença quanto aos anos de vida ajustados por incapacidade atribuída a fatores de risco selecionados pelo estudo. Os dados podem ser obtidos por país e correlacionados ao Produto Interno Bruto, mostrando quantitativamente seus impactos econômicos.
Saldiva exemplifica com o cigarro. Apesar de sua cadeia produtiva gerar empregos, os custos à saúde causados pelo tabaco geram perdas que equivalem a seis vezes o lucro que foi gerado pela produção do tabaco. Outro exemplo é a cadeia da energia fóssil. Segundo o professor, “nós fomos criados nessa ilusão de que a energia era infinita. Houve também um aumento da população do planeta que, pelos meios de comunicação, quer também que todo mundo tenha um padrão (de vida) nova-iorquino, por exemplo, de consumo de energia. Isso causou um descompasso sério, uma avidez e uma dependência do consumo de combustíveis fósseis”.
Os gases de efeito estufa permanecem na atmosfera por décadas. Os materiais particulados oriundos da poluição atmosférica reagem no corpo das pessoas, nas proteínas, nas gorduras e nos açúcares que compõem as nossas células. “A poluição do ar – que é associada a emissão de gases de efeito estufa – produz no mundo ao redor de sete milhões de mortes, sendo metade delas na poluição das ruas e metade produzida por queima ineficiente de combustível de biomassa por pessoas pobres – para cozinhar ou para se aquecer”, explica.
“Se você computar e incluir os danos da saúde do clima mais os danos causados pela poluição local, produzida também pelo combustível fóssil, essa queima e produtos de combustão, o custo de abater as emissões é metade do custo de mantê-las. O problema é que o mercado não vai resolver isso, a negociação comercial não vai resolver isso”, analisa Saldiva.
A Organização Mundial da Saúde definiu os gases de efeito estufa como um problema de saúde porque já existem evidências sólidas científicas de suas consequências na saúde das pessoas, por exemplo, devido aos eventos extremos e às doenças infecciosas. “Vamos pegar as arboviroses, como zika, dengue e chikungunya. Nos períodos chuvosos, todos os modelos meteorológicos dizem que as chuvas vão se concentrar em períodos curtos, alternados por períodos de calor. Você cria poças de água no lixo sólido que habita cidades e depois esquenta e aumenta a eclosão dos mosquitos. Então, a dengue, que era uma doença concentrada nas regiões Nordeste e Norte, chega no Sudeste e no Sul e até no Centro-Oeste com grande força”, informa.
Outro problema é a variação climática. “Estimamos que morram precocemente, por conta de variações de temperatura no mundo, ao redor de um milhão de pessoas por ano. Só de insuficiência renal, temos quase 70 mil internações de pacientes renais por ano por causa dos extremos climáticos”, alerta o professor.
O clima já faz parte da rotina dos hospitais, só que não é percebido. “As mudanças climáticas, e a sustentabilidade do planeta vão afetar não só o bicho que está lá no ecossistema distante, mas vão afetar sua vida. Já está afetando agora; afetará mais, e vai ser importante no direcionamento das doenças do futuro, tanto as infecciosas quanto a descompensação das doenças crônicas degenerativas”, explica Saldiva.