Saúde e a emergência climática

Nesta aula, o médico Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, explica como as mudanças climáticas afetam a saúde humana. Ele alerta que, embora isso ainda não seja amplamente percebido, doenças relacionadas às questões climáticas já fazem parte da rotina dos hospitais. Também orienta para a necessidade de se questionar as cadeias produtivas e o quanto o aquecimento global piora a disseminação de doenças ou agrava as enfermidades já existentes.

    Destaques da aula

  • O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) declaram que as mudanças climáticas são um tema importante de saúde global.
  • O programa “A carga global de doenças” quantifica danos de vidas perdidas produtivas por país em decorrência de uma doença específica ou de mortalidade precoce, e o quanto isso impacta no Produto Interno Bruto (PIB).
  • Estima-se que morram precocemente, por conta de variações de temperatura no mundo, ao redor de um milhão de pessoas por ano.

Duração

25 min

Professor(a)s

Paulo Saldiva é médico e professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Há mais de 25 anos, desenvolve pesquisas sobre os efeitos da poluição do ar na saúde humana, incluindo estudos experimentais, epidemiológicos e clínicos. Foi pioneiro em Autópsia Minimamente Invasiva na Pandemia do COVID-19 (SARS-CoV-2). É membro titular da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências. Foi diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), membro do comitê científico da Organização Meteorológica para temas de Clima e Saúde, presidente do Comitê de Pesquisa da FMUSP, membro do Conselho Científico Comitê da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, EUA, membro do Comitê de Qualidade do Ar da OMS, membro do painel do International Agency for Research on Cancer (IARC), que avaliou a carcinogenicidade da poluição do ar ambiente. É coordenador do Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental do CNPq e do Núcleo de Pesquisa em Autópsia e Imagenologia (NUPAI-FMUSP). Foi agraciado com a Medalha Anchieta (Câmara Municipal de São Paulo), a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico e com a Medalha Armando Salles de Oliveira. É ciclista e gaitista.

Embora as questões de saúde ainda não sejam relacionadas às mudanças climáticas por muitos profissionais da saúde, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) são taxativos em mostrar que as mudanças climáticas impactam a saúde global.

O médico e pesquisador Paulo Saldiva explica que a saúde pode ser precificada tanto em termos morais e pessoais quanto em custos. O gestor público pode usar os dados para investir no que for mais impactante. A OMS lançou o programa Global Burden of Disease, chamado “A carga global de doenças”, em português. Por meio de seus resultados é possível analisar a carga global de doença quanto aos anos de vida ajustados por incapacidade atribuída a fatores de risco selecionados pelo estudo. Os dados podem ser obtidos por país e correlacionados ao Produto Interno Bruto, mostrando quantitativamente seus impactos econômicos.

Saldiva exemplifica com o cigarro. Apesar de sua cadeia produtiva gerar empregos, os custos à saúde causados pelo tabaco geram perdas que equivalem a seis vezes o lucro que foi gerado pela produção do tabaco. Outro exemplo é a cadeia da energia fóssil. Segundo o professor, “nós fomos criados nessa ilusão de que a energia era infinita. Houve também um aumento da população do planeta que, pelos meios de comunicação, quer também que todo mundo tenha um padrão (de vida) nova-iorquino, por exemplo, de consumo de energia. Isso causou um descompasso sério, uma avidez e uma dependência do consumo de combustíveis fósseis”.

Os gases de efeito estufa permanecem na atmosfera por décadas. Os materiais particulados oriundos da poluição atmosférica reagem no corpo das pessoas, nas proteínas, nas gorduras e nos açúcares que compõem as nossas células. “A poluição do ar – que é associada a emissão de gases de efeito estufa – produz no mundo ao redor de sete milhões de mortes, sendo metade delas na poluição das ruas e metade produzida por queima ineficiente de combustível de biomassa por pessoas pobres – para cozinhar ou para se aquecer”, explica. 

“Se você computar e incluir os danos da saúde do clima mais os danos causados pela poluição local, produzida também pelo combustível fóssil, essa queima e produtos de combustão, o custo de abater as emissões é metade do custo de mantê-las. O problema é que o mercado não vai resolver isso, a negociação comercial não vai resolver isso”, analisa Saldiva. 

A Organização Mundial da Saúde definiu os gases de efeito estufa como um problema de saúde porque já existem evidências sólidas científicas de suas consequências na saúde das pessoas, por exemplo, devido aos eventos extremos e às doenças infecciosas. “Vamos pegar as arboviroses, como zika, dengue e chikungunya. Nos períodos chuvosos, todos os modelos meteorológicos dizem que as chuvas vão se concentrar em períodos curtos, alternados por períodos de calor. Você cria poças de água no lixo sólido que habita cidades e depois esquenta e aumenta a eclosão dos mosquitos. Então, a dengue, que era uma doença concentrada nas regiões Nordeste e Norte, chega no Sudeste e no Sul e até no Centro-Oeste com grande força”, informa.

Outro problema é a variação climática. “Estimamos que morram precocemente, por conta de variações de temperatura no mundo, ao redor de um milhão de pessoas por ano. Só de insuficiência renal, temos quase 70 mil internações de pacientes renais por ano por causa dos extremos climáticos”, alerta o professor.

O clima já faz parte da rotina dos hospitais, só que não é percebido.  “As mudanças climáticas, e a sustentabilidade do planeta vão afetar não só o bicho que está lá no ecossistema distante, mas vão afetar sua vida. Já está afetando agora; afetará mais, e vai ser importante no direcionamento das doenças do futuro, tanto as infecciosas quanto a descompensação das doenças crônicas degenerativas”, explica Saldiva.

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