Impactos das mudanças climáticas no Matopiba

Nesta aula, a bióloga e pesquisadora Ludmila Rattis faz um diagnóstico dos impactos das mudanças climáticas – e da crise hídrica decorrente delas –, na região conhecida como Matopiba (na divisa dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Essa fronteira agrícola brasileira é, atualmente, responsável por 10% da produção nacional de grãos e fibras do país.

    Destaques da aula

  • O Matopiba responde por aproximadamente 10% da produção brasileira de grãos e fibras, principalmente soja, milho e algodão.
  • Os produtores rurais da região já estão sentindo os efeitos do aumento médio das temperaturas, e não têm conseguido mais realizar duas safras ao ano, como ocorria no passado.
  • Já houve a perda de 30% das terras mais adequadas para a agricultura no Matopiba, e estimativas indicam que haverá 70% de perdas pelos próximos 30 anos.
  • Cenários regionais do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que, até o final do século, 80% das fazendas localizadas nessa região estarão totalmente fora do ideal climático para plantio de grãos como os que produz hoje.

Duração

26 min

Professor(a)s

Ludmila Rattis é doutora em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com período de doutorado-sanduíche na Carleton University, em Ottawa, no Canadá (bolsa CAPES). É mestre em Entomologia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP/RP, 2011) e bióloga pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG, 2007). Atualmente, é pós-doutoranda no Woods Hole Research Center, em Falmouth, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos.

A expressão Matopiba, também chamada de Mapitoba, resulta de um acrônimo formado com as iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ela designa uma extensão geográfica do Cerrado, considerada uma grande fronteira agrícola nacional. A área responde por aproximadamente 10% da produção brasileira de grãos e fibras, principalmente soja, milho e algodão.

Aquela área, considerada de alta relevância para o Brasil, já está sofrendo com os impactos das mudanças climáticas. Há algumas décadas, o modelo de produção na região seguia um ciclo de safra e safrinha, onde a safra é um primeiro plantio, com as melhores condições climáticas do ano, e a safrinha, um segundo cultivo, com condições menos favoráveis, mas ainda assim com alguma produtividade.

Porém, em um estudo realizado de 2000 a 2016, constatou-se que muitos dos produtores do Matopiba não têm conseguido mais realizar a safrinha, devido ao aumento da temperatura na região. Em 40% dos anos avaliados, o clima estava tão extremo que, ou houve só a safra, ou ocorreu o abandono da área. Já houve a perda de 30% das terras mais adequadas para a agricultura no Matopiba, e a previsão é de 70% de perdas pelos próximos 30 anos. Isso porque a região já está tão no limite climático, que os produtores são muito mais prudentes ao pensar em uma segunda safra.

Os impactos dos extremos climáticos são sentidos na região especialmente nos anos em que ocorre o fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico (e seus efeitos). Esses anos são mais secos do que a média. Com isso, na cultura de milho, por exemplo, a perda de produtividade é 60 vezes maior. Em todo o Cerrado, a perda média é oito vezes maior.

As fazendas do Matopiba estão saindo do chamado ‘ideal climático’, que é aquele clima com o qual os produtores estão costumados a lidar e possuem expertise para plantar. No final deste século, de acordo com cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), 80% das fazendas localizadas no Matopiba estarão totalmente fora do ideal climático.

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