Dashboard – Emissões brasileiras de gases de efeito estufa

04 emissões brasileiras
Por que incluir as emissões brasileiras de gases com efeito estufa no Painel de Controle da crise climática?

Desde a Eco-92, quando o mundo se reuniu no Rio de Janeiro e reconheceu a gravidade do aquecimento global, o Brasil se compromete em lutar contra a emergência climática. É preciso, portanto, conhecer com quanto o país contribui para esquentar a atmosfera e quais são os setores e atividades responsáveis por estas emissões.

Diferentemente dos países ricos e de quase todos os grandes países em desenvolvimento, a maior parte das emissões brasileiras vem do desmatamento da vegetação nativa, também conhecido, no jargão climático, por mudança de uso da terra. Quando é derrubada, parte da madeira é queimada para abrir área para pastos e lavouras, quando o carbono contido nos troncos, galhos e folhas vira dióxido de carbono. Há também liberação de metano da queima incompleta e da decomposição de raízes e galhos. Para conhecer melhor o desmatamento no Brasil, veja esta página.

Nossa segunda maior fonte de emissão é a agropecuária, principalmente devido ao rebanho bovino, mas também proveniente de parte da produção de arroz e de operações agrícolas.

O processo digestivo de ruminantes forma metano que é emitido à atmosfera quando o animal arrota. Cada cabeça de gado arrota mais de 50 kg de metano por ano. Outra fonte importante de gases de efeito estufa são os dejetos animais. Uma parte da decomposição desses dejetos vira metano. Cada cabeça de gado responde pela emissão 1,8 kg de metano por ano por conta de seus dejetos. O rebanho bovino brasileiro, que tem mais de 200 milhões cabeças, responde pela emissão de aproximadamente 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano.

Já o manejo dos solos para o plantio, o qual inclui a aplicação de fertilizantes químicos e de estrume, emite mais 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano.

E, ainda da agropecuária, uma das maneiras de cultivar arroz, em terreno alagado, emite óxido nitroso. Esta produção nacional de arroz emite mais de 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano. Já o chamado arroz de sequeiro não gera emissões significativas,

Deixando de lado as emissões relativas à mudança de uso do solo e à agropecuária, as emissões da queima de combustíveis respondem por pouco menos de 20% das emissões nacionais. Essas emissões são as mais importantes em países ricos. Aqui, elas vêm atrás das emissões do desmatamento e da agropecuária. Cerca de metade das emissões dos combustíveis fósseis vem do transporte de bens e pessoas. Na outra metade, as principais fontes são as indústrias, as usinas térmicas e a exploração de petróleo e gás.

Finalmente, os últimos 10% das emissões nacionais vem do tratamento de resíduos e efluentes e de certos processos industriais como os da fabricação de aço e de cimento.

 

Como calculam as emissões de gases com efeito estufa de cada país?

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) publica periodicamente diretrizes para os países elaborarem seus inventários nacionais de emissão. Além de detalhar maneiras diferentes de calcular as emissões, as diretrizes fornecem fatores de emissão. Por exemplo, o quanto cada bovino emite de metano por ano pode ser obtido de medições próprias ou usar o valor fornecido pelo IPCC. Estes fatores de emissão são compilados a partir de trabalhos científicos publicados e aceitos pela comunidade.

As diretrizes de elaboração de inventários são bastante detalhadas e explicam o que medir e como calcular as emissões. Elas estão agrupadas em 5 blocos agrupando emissões de:

  1. Energia;
  2. Processos Industriais e Usos de Produtos;
  3. Uso da terra e mudanças no uso da terra (inclui o desmatamento); e
  4. Resíduos e efluentes.

 

O podemos prever quanto ao comportamento das emissões brasileiras de gases com efeito estufa?

Assim como o mundo precisa parar de queimar combustíveis fósseis, o Brasil precisará gerar toda sua eletricidade a partir de fontes renováveis e precisará trocar toda a frota de veículos com motores de combustão interna pelos elétricos. Mesmo os carros à álcool e os caminhões e ônibus a biodiesel emitem gases com efeito estufa e, mais cedo ou mais tarde, precisarão ser trocados.

Parar o aquecimento global também implica reduzir, e muito, o consumo de carne e, assim, reduzir as emissões dos animais e baixar a pressão por mais desmatamento.

Existe uma tendência nos países ricos de taxação do carbono contido nos produtos que importam. Produtos que hoje são os nossos principais itens de exportação perderão sua competitividade. Assim, as mudanças necessárias talvez aconteçam mais por pressões externas do que devido a decisões internas ao Brasil.

 

Metodologia

Os inventários nacionais oficiais são publicados a cada 6 anos. O último inventário brasileiro, e o quarto da série, foi publicado em dezembro de 2020 com as emissões feitas até 2016.

Para preencher a lacuna destas importantes informações, um grupo de organizações da sociedade civil se juntou e criou o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa). O sistema adota as mesmas regras do IPCC e publica anualmente as emissões nacionais a partir de bases de dados oficiais. A última versão do SEEG, a oitava, saiu no final de 2020 com as emissões até 2019.

 

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1 – Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa http://seeg.eco.br/

2- Metano (CH4) é um gás efeito estufa bem quase 30 vezes mais potente do que o dióxido de carbono.

3 – O óxido nitroso (N2O) é um gás efeito estufa bem mais de 300 vezes mais potente do que o dióxido de carbono.

4 – https://plataforma.seeg.eco.br/

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ClimaInfo, agosto de 2021.

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