Cerrado em chamas

Cerrado em chamas

Última atualização
30 de setembro de 2024
  • Apesar de ser mais acostumado com a seca e focos de calor, as taxas de desmatamento continuam altas no Cerrado. 
  • No primeiro semestre de 2024, foram detectados 12.097 focos de queimadas, um aumento de 32% em comparação ao mesmo período de 2023.
  • Destaque de focos de calor no Mato Grosso e do desmatamento no MATOPIBA.
  • Previsão que a seca se prolongue e que tenha menos chuva até outubro.

O Cerrado está pegando fogo.

Apesar de ser um bioma mais resiliente frente ao fogo – elemento inclusive natural na sua dinâmica – as mudanças climáticas e o contínuo desmate do Cerrado tem colocado seu futuro em risco. Junto com o Pantanal, o Cerrado registrou, no primeiro semestre de 2024, o maior número de focos de incêndio desde 1988, quando começou o monitoramento de queimadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O destaque dos focos de calor está em Mato Grosso, com 2.441 registros – aumento de 85% em relação ao ano anterior. Já o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) segue sendo o centro da expansão do desmatamento, puxado muito pelo avanço da agropecuária. 

Áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) lideram os alertas, mostrando que proprietários registrados também desmatam. As queimadas no MATOPIBA estão associadas à expansão agrícola, que tem cada vez mais expulsado os povos tradicionais de seus territórios e lares. 

Logo, para além dos impactos ambientais (perda de habitat, morte de animais, empobrecimento do solo, diminuição da produção de águas e ciclo de chuvas), existem os efeitos sociais, como a disputa de terra, insegurança territorial histórica, que ameaça o direito de populações tradicionais de ter um ambiente saudável e equilibrado. 

Segundo Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a estratégia de por fogo é uma forma mais barata de desmatar. “As pessoas estão trabalhando numa lógica de ‘vamos degradar a floresta e vamos colocar gado do mesmo jeito. E, para degradar a floresta, vamos queimar’. O fogo é muito mais barato, só comprar gasolina e sair espalhando”.

O presidente do IBAMA também afirma que fiscalizar incêndios criminosos é mais difícil que o desmatamento tradicional, que tem sido combatido por meio de satélites.

“Você tem a pessoa que coloca fogo, que é criminoso, mas tem, às vezes, um monte de gente, vizinho dele, que é vítima […] O cara vai lá, passa o correntão, põe fogo, quer destruir mesmo. E, de repente, o vizinho dele queima também. O outro cara, que cuida de onça, também perde a fazenda. O outro que está lá preservando, porque gosta do Pantanal, também é vítima”, avalia.

Como chegamos até aqui? 

No Cerrado está a principal fronteira agrícola para a produção de commodities agrícolas – onde tem avanço do cultivo de soja, tem desmatamento, destacam os dados do RAD (Relatório Anual de Desmatamento), do MapBiomas. Diferente da Amazônia, que teve queda significativa de desmatamento nos últimos dois anos e tem maior proteção legal, o Cerrado vive uma destruição legalizada pelo Código Florestal. 

O bioma tem apenas 3% do território em proteção integral e as propriedades privadas podem desmatar grande parte da sua área – enquanto na Amazônia, o valor é justamente o oposto: a lei obriga os proprietários a preservar 80% do território. O Código Florestal determina a preservação de apenas 20% do Cerrado, enquanto nas áreas de cerrado dentro dos estados da Amazônia Legal, o valor sobe para 37%. 

O fogo é usado no bioma como etapa para limpeza da área que foi anteriormente desmatada, para preparar o solo para uma futura plantação, na maior parte das vezes de commodities ou pasto de braquiária, gramínea utilizada na alimentação do gado. Algumas das mudanças causadas pela alteração na cobertura vegetal são: aumento da exposição do solo, compactação do mesmo e variação na quantidade de água absorvida, além da mudança da vegetação que cresce em cima dessas áreas. 

O impacto do desmatamento também chega na dinâmica da chuva e rios voadores. O Cerrado, por ser um bioma central – responsável por 40% do abastecimento de água do país – também atua na dinâmica atmosférica e ecológica de demais biomas, como Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica. 

Funciona como um efeito dominó, pois está tudo interligado: diminui a quantidade de água que a vegetação libera na atmosfera através da evapotranspiração, diminui as chuvas locais e as que vão para outras regiões por meio dos ventos. Ao mesmo tempo, aumenta a impermeabilização dos solos, diminuindo a quantidade de água que infiltra no solo e abastece rios, córregos, aquíferos e nascentes. 

No Cerrado o fogo não é o vilão, ele é um elemento natural, assim como a água. A condição atual do Cerrado em Chamas, assim como Pantanal e Amazônia em chamas, vem do acúmulo dos impactos das mudanças climáticas e da ação humana, que gera o desequilíbrio de agentes naturais. 

O que precisamos: 

  • Demarcação de Terras Indígenas e criação de novas áreas de proteção ambiental, pois apenas 8% do bioma está protegido, o que agrava os conflitos agrários. 
  • Conclusão do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado).
  • Implementação da lei federal 14.944, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.
  • Aperfeiçoar controles de rastreabilidade e monitoramento de áreas desmatadas no MATOPIBA. 

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