A solução para os apagões é a energia renovável

Bastou um apagão de grandes proporções no Brasil para os lobistas dos combustíveis fósseis bradarem contra as fontes eólica e solar. Para defenderem seus interesses na energia suja, sequer esperam as conclusões sobre as causas do desabastecimento elétrico e gritam que a “culpa” é da “intermitência” das fontes renováveis. Para esse grupo, claro, a solução para o problema é aumentar a geração de energia elétrica suja..

Até o início da tarde desta quarta-feira (dia 16), ainda não se sabia o que causou o apagão que só poupou Roraima, o único estado não conectado à rede elétrica nacional. Mas ontem, em coletiva de imprensa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apontou como um dos problemas uma linha de transmissão no estado do Ceará. E, hoje, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse que a falta de energia elétrica no país teria sido um “erro técnico”. 

Ou seja, tudo indica que nada, absolutamente nada, estaria ligado à geração de energia, seja ela eólica, solar ou hidrelétrica, mas sim à transmissão e à operação do complexo Sistema Interligado Nacional (SIN).

Para tornar o lobby pró-combustíveis fósseis ainda mais leviano no ataque às fontes renováveis, este apontou como uma das possíveis causas em análise para o desligamento dessa linha de transmissão o excesso de geração eólica no Nordeste! Porém, o sistema de distribuição de energia elétrica tem mecanismos de proteção que, ao detectar sobrecarga, “desligam” linhas de transmissão e subestações para evitar danos. Vale lembrar que grandes potências mundiais – como China, Estados Unidos e Reino Unido –  estão entre os países com maior geração de energia eólica no planeta, devido a ser uma fonte renovável com baixo impacto ambiental e teores de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Na verdade, as energias hidro-solar-eólica são a solução para evitar possíveis novos apagões de energia elétrica no país, como comprovado no recente relatório da Coalizão Energia Limpa. Aliás, neste exato momento, as hidrelétricas estão com seus reservatórios cheios, sem qualquer problema para gerar eletricidade. E a complexa rede básica de transmissão conta com a força das usinas eólicas e solares para suprir as demais demandas, permitindo “jogar” energia de um lugar para outro. Este, inclusive, é o trabalho do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS): alocar diariamente as cargas de acordo com a produção e o consumo.

Mais um “pequeno detalhe” depõe contra a falácia do lobby pró-geração a gás fóssil referente às fontes eólica, majoritariamente instalada na Região Nordeste, e solar. O Norte abriga as maiores hidrelétricas do país. No entanto, junto com o Nordeste, foi a Região que mais tempo demorou para ter sua eletricidade restabelecida. Qual é a resposta que dão para isso? O silêncio.  

A verdade é que os lobistas dos combustíveis fósseis não cansam de vender o gás fóssil como a solução para tudo. Eles desprezam as emissões de gases de efeito estufa ou os demais impactos socioambientais decorrentes desse tipo de geração elétrica. Não importa nem mesmo o preço, muito mais caro que a eletricidade gerada por fontes renováveis, que vai afetar diretamente o bolso de cada consumidor e consumidora do Brasil.

E outro ponto que os lobistas dos combustíveis fósseis ignoram (ou fingem ignorar) é que uma alternativa a sofrer apagões é a geração distribuída, majoritariamente dominada por fontes renováveis. A autoprodução de energia elétrica – como sistemas fotovoltaicos instalados em residências – faz com que consumidores gerem sua própria eletricidade, deixando de sobrecarregar o sistema interligado. Mas, claro, isso não atende aos interesses de quem está ávido por produzir mais e mais gás fóssil.

É preciso, sim, saber o que causou o apagão da terça-feira (15) que deixou praticamente todos os estados brasileiros no escuro, provocando diversos problemas para a locomoção e à saúde, para evitar que o problema se repita. Mas é preciso, acima de tudo, a verdade e a seriedade. E a vontade para o país seguir como uma potência socioambiental produzindo energia elétrica por meio de fontes renováveis. 

 

ClimaInfo, 17 de agosto de 2023.

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