Dúvidas sobre o clima

Resolva abaixo suas dúvidas sobre as mudanças climáticas.

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1) O Julho mais quente da história é consequência do El Niño ou da mudança do clima?

Julho de 2023 é o mês mais quente nos últimos 120 mil anos e isso é consequência da soma da mudança do clima, causada por atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, com o fenômeno meteorológico El Niño, que aquece as águas do oceano Pacífico, alterando padrões de temperatura e chuva nos hemisférios Norte (onde agora é verão) e Sul (onde é inverno).

O El Niño não surgiu agora: é um fenômeno recorrente. A diferença agora é que a temperatura média do planeta está mais elevada e alterando os padrões climáticos. Com isso, seus efeitos tornam-se mais fortes. Fazendo uma comparação: é como adicionar uma colher de açúcar a uma xícara de café adoçado e a uma xícara de café não adoçado. A colher pode ter o mesmo tamanho para ambas as xícaras, mas em uma delas o café já estava doce. Com o clima é a mesma coisa: o El Niño aquece o verão no hemisfério Norte, mas ele já estava mais quente por causa do aquecimento climático.

O impacto do aquecimento global sobre o El Niño foi comprovado pelos cientistas – já há estudo comprovando que, sozinho, este fenômeno meteorológico não conseguiria quebrar tantos recordes sucessivos de temperatura como o mês de julho registrou.

O que está acontecendo agora é como um “menu degustação” do que poderemos ter de agora até o final do século, se continuarmos emitindo a mesma quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera. As atividades humanas que mais geram esses gases são a queima de combustíveis fósseis, como petróleo e seus derivados (gasolina, diesel), carvão e gás, o desmatamento e queimadas e a pecuária.

2) Como justificar o aquecimento se está tão frio em outros lugares?

A mudança do clima no planeta também é chamada de aquecimento global porque há um aumento na temperatura média da superfície do planeta. Atualmente ela está 1,1ºC superior à temperatura média da Terra antes da Revolução Industrial, que foi quando a humanidade começou a queimar combustíveis fósseis em larga escala para gerar energia. Esse número é. uma média: há lugares onde o aquecimento foi ainda maior.

A principal consequência do aquecimento global é deixar o clima mais extremo. Por isso, quando chove, chove muito, provocando enchentes, alagamentos e desbarrancamentos. No Caribe, há mais evaporação do mar e, por consequência, mais umidade na atmosfera para turbinar os furacões.

O mesmo acontece com o frio: suas ondas tornam-se mais intensas – no caso do Brasil, chegando a provocar a morte, por hipotermia, de moradores de rua. No hemisfério Norte, as ondas mais rigorosas intensificam nevascas que paralisam aeroportos e rodovias.

Outra consequência do aquecimento global é que esses eventos extremos estão cada vez mais comuns. Ou seja: ondas de frio rigorosas não surgiram agora e já aconteciam no passado, causando danos e mortes, mas não com tanta frequência como agora.

3) Quais as principais consequências das mudanças climáticas?

A mudança do clima gera consequências para o meio ambiente e a biodiversidade, para a economia e para a saúde:

• A elevação da temperatura média do planeta coloca em risco a existência de inúmeras espécies e os eventos climáticos extremos decorrentes. Eventos provocados ou intensificados pela mudança do clima, como as queimadas que vimos no Brasil, Austrália e Canadá, matam milhares de animais.

• A mudança do clima mexe com o regime de chuvas, tornando as secas mais frequentes e intensas, com sérias consequências sobre a produção agropecuária. Como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil já vive essa situação, com perdas milionárias causadas pela maior irregularidade do clima.

• Os impactos sobre a saúde são amplos. Estima-se que ocorrerão 250 mil mortes a mais por ano por causa do aquecimento global.

4) Ainda há tempo e possibilidade de reverter a situação?

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima – IPCC, na sigla em inglês – reúne o melhor da ciência climática no mundo. Ele reúne estudos conduzidos por centenas de pesquisadores e centros de pesquisa ao redor do planeta, submete-os ao escrutínio de outros cientistas para checar se são válidos, e condensa as informações em relatórios que são verdadeiros marcos para a ciência global.

A última análise sobre a possibilidade de cumprirmos a meta do Acordo de Paris, de manter o aquecimento global bem abaixo de 2ºC, preferencialmente em 1,5ºC, ainda é possível. Nesse cenário, o mundo ultrapassa a barreira de 1,5 na próxima década, mas consegue recuar depois.

Com os sucessivos recordes de temperatura registrados em julho de 2023, o mundo ultrapassou os 1,5ºC de aquecimento médio de sua superfície. Ou seja, pudemos vislumbrar o futuro e entender porque é tão necessário cumprirmos a meta do Acordo de Paris.

Porém possível não quer dizer fácil. Limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 1,5oC exige que as emissões dos gases que alteram o clima parem de crescer agora, em 2025, e caiam 43% até 2030 (em relação aos níveis de 2019). Por isso que é tão importante – e tão urgente – pressionar os poucos indivíduos que lucram, no curto prazo, às custas da segurança climática de toda a humanidade.

5) O que precisa ser feito e qual a prioridade nestas ações?

Para controlarmos o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, só precisamos fazer uma coisa: cortar a emissão dos gases que causam o aquecimento global.

A principal fonte desses gases é a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia. Portanto, incentivar a produção de energias limpas e desincentivar a produção e uso de combustíveis fósseis é uma prioridade.

Na prática, isso significa transferir os inúmeros incentivos e subsídios que a produção de petróleo recebe atualmente em todo o mundo, inclusive no Brasil, para a produção de energia eólica, solar, hidráulica etc. Significa investir mais em transporte público para que as pessoas não precisem usar carros – e transporte público movido a energias limpas. Significa investir em eficiência energética.

Mas isso significa também ir contra os interesses de quem lucra com os combustíveis fósseis – grupo que reúne desde países dependentes do petróleo, como Arábia Saudita, Rússia e Venezuela, a grandes empresas, como Exxon, Shell, BP, Total e Petrobras. Como grandes doadoras de campanhas políticas e detentoras de fortes lobbies nos congressos nacionais, essas empresas têm atrasado o avanço da ação climática. No caso da norte-americana Exxon, já foi provado que a empresa sabia dos perverso efeitos da queima dos combustíveis fósseis desde 1977 – e não fez nada a respeito. Ou melhor: fez – promoveu a desinformação climática, junto com outras petroleiras.

No caso do Brasil, onde a principal fonte dos gases de efeito estufa é o desmatamento para abertura de novas áreas de agropecuária, os representantes do setor no Congresso consistentemente votam contra medidas de proteção ao meio ambiente que favorecem os desmatadores.

6) É possível conciliar os interesses de um sistema capitalista com ações efetivas de combate à mudança do clima?

Esse é um tema controverso, mas uma coisa é certa: o esforço para manter grandes agentes agente e estruturas econômicas que também são grandes emissores de gases de efeito estufa é certamente um dos principais motivos da lentidão e do atraso no enfrentamento da emergência climática.

Também é certo que não faz diferença se é capitalismo ou socialismo se as petroleiras não deixarem de explorar e comercializar petróleo como seu negócio principal e se o agronegócio global não parar de desmatar.

7) Existem culpados pela emergência climática? Quem?

São responsáveis pela emergência climática os países do norte global que se desenvolveram com base em atividades poluidoras, as empresas que extraem e comercializam combustíveis fósseis e os desmatadores. Eles se tornam culpados na medida em que têm consciência dos impactos de suas atividades e, ainda assim, trabalham para manter tudo como está. É o caso das grandes petroleiras norte-americanas, por exemplo. Já foi provado que a Exxon não só sabia dos perverso efeitos da queima dos combustíveis fósseis desde 1977, como promoveu a desinformação climática, junto com outras petroleiras. Nas negociações climáticas no âmbito da Nações Unidas, países produtores de petróleo, como Rússia e Arábia Saudita, são notórios obstrutores. Mesmo países que não dependem unicamente do petróleo em sua economia, como o Brasil, a responsabilidade beira a culpa quando pensamos nos subsídios à produção de petróleo que são concedidos atualmente, quando a consciência sobre as consequências da queima de combustíveis fósseis é cientificamente comprovada e amplamente conhecida.

Bancos e investidores também têm sua parcela de responsabilidade, quando investem na produção de combustíveis fósseis.

8) Qual o melhor caminho para quem quer se engajar e se envolver com a luta climática? Para quem quer se envolver com a mudança?

É importante fazermos nossa parte, como consumidores, evitando o desperdício e optando por marcas e empresas empenhadas em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Mas precisamos ter em mente que reverter o atual cenário está, de fato, nas mãos de poucos indivíduos: políticos, empresários, acionistas, produtores agropecuários, profissionais do setor financeiro e as respectivas associações de classe desses setores. São eles que podem implementar planos e políticas públicas para redução das emissões, para o fim do desmatamento e para a tão necessária transição energética. Então nossa ação precisa também tê-los em conta. No caso dos políticos, o voto é o melhor caminho. Mas entre uma eleição e outra, você pode participar de campanhas em redes sociais e abaixo-assinados, que surgem sempre que o Congresso pauta algum projeto danoso ao clima e ao meio ambiente. Você pode se informar seguindo organizações ambientalistas nas redes sociais e/ou assinando seus respectivos boletins. O ClimaInfo, por exemplo, tem um boletim diário, de segunda a sexta, com o resumo das notícias referentes à crise climática. O mesmo vale para empresas: pressioná-las por ocasião de suas assembleias de acionistas ou quando fazem grandes campanhas e lançamentos, cobrando por mais ação climática, é uma forma de pressioná-los. Somos pequenos, mas somos muitos e, em última instância, somos nós que damos dinheiro a elas, ao consumir seus produtos. Mais que um direito: é nosso dever cobrar que elas ajam em favor da segurança climática.

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