“Olhar para tudo isso é desesperador”: a rotina de um gari na limpeza dos destroços da tragédia climática no RS

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Ricardo Stuckert / PR

Trabalho para limpar Canoas, na Grande Porto Alegre, tem sido árduo: há 120 pessoas trabalhando na limpeza das ruas da cidade de 348 mil habitantes.

Quando começa mais um dia de trabalho, Paulo Renato Barbosa, de 29 anos, sabe que irá se deparar com novos detalhes da tragédia humana causada pela catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul. Ele estava desempregado até ser contratado como agente de limpeza pública há pouco mais de um mês por uma empresa terceirizada da prefeitura de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, duramente atingida pelas inundações.

Com luvas e botas, Barbosa segue com uma equipe pelos bairros mais atingidos para auxiliar na limpeza de uma cidade que teve áreas completamente tomadas pela água, principalmente os bairros mais pobres. “Quando ajudo as pessoas a tirarem os restos das coisas que foram destruídas em suas casas, confesso que dói muito. Olhar para tudo isso é desesperador”, disse ele à BBC, em matéria reproduzida pelo g1.

Ao longo do dia, o gari acompanha a rotina de inúmeras pessoas que foram duramente afetadas. E o trabalho para limpar Canoas tem sido árduo. Segundo a prefeitura, há 120 pessoas trabalhando na limpeza das ruas da cidade de quase 348 mil habitantes (dado do Censo do IBGE de 2022). A limpeza ainda conta com 120 motoristas. 40 operadores de retroescavadeiras, 30 ajudantes e 10 monitores.

Com a trégua das chuvas e o recuo das águas, os dramas pessoais emergem. O Jornal Nacional chama atenção para um fenômeno que globalmente preocupa a ONU e vem sendo visto no Rio Grande do Sul: os refugiados climáticos. Devido à destruição em várias regiões do estado, a Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul estima que 25 mil famílias devem migrar para a Serra Gaúcha nos próximos quatro anos, já que a região enfrentou consequências menos catastróficas das chuvas do que outros municípios.

É o que já aconteceu com a auxiliar de treinamento Débora Duarte, que deixou para trás uma vida inteira em Roca Sales, no Vale do Taquari, e se mudou para Caxias do Sul, distante 95 km, onde conseguiu emprego em uma clínica veterinária. “É triste tu ter que sair da tua cidade, uma cidade onde tu cresceu. E a gente está recomeçando do zero de novo”, desabafou ela.

Algumas pessoas transformaram o sofrimento pessoal em força para ajudar. Na região das Ilhas, em Porto Alegre, a pescadora Carla Drover e o mecânico de barcos Pablo Silveira, que perderam tudo quando sua casa foi levada pelas águas, decidiram transformar a tragédia em uma missão de resgate. Há 38 dias eles vivem em um barco enquanto se dedicam a salvar vidas e ajudar a comunidade afetada, relata o g1. Nesse período, o casal prestou socorro a mais de 1.000 pessoas e a cerca de 600 animais. “A única solução que achamos de não ficar chorando, lamentando, foi ajudar as pessoas”, explicou Pablo.

O drama de parte das 2,3 milhões de pessoas atingidas pela tragédia climática mobiliza o apoio de projetos que buscam amenizar essa dor. Uma das iniciativas para ajudar moradores que perderam tudo já arrecadou mais de R$ 1 milhão a partir de doações, distribuindo mais de 30 mil colchões, cobertores e travesseiros, detalha o g1. Outra busca garantir mobílias para o retorno dos atingidos a um lar.

 

 

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ClimaInfo, 12 de junho de 2024.

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