171 PAÍSES SE COMPROMETERAM A ASSINAR COMPROMISSO DE CORTE PELA METADE DAS EMISSÕES DA NAVEGAÇÃO
No final, 171 dos 173 membros da OMI (Organização Marítima Mundial) presentes à reunião da semana passada se comprometeram a cortar pela metade as emissões da navegação até 2050. Somente EUA e Arábia Saudita ficaram fora do compromisso. O Brasil e a Argentina lutaram contra a semana toda, mas ao final acabaram cedendo.
O Itamaraty publicou uma nota dizendo que, pelo princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas, parte do Acordo de Paris, o Brasil teme vir a ser prejudicado se suas exportações perderem competitividade por um eventual aumento nos fretes. O problema do argumento do Itamaraty é a mistura que faz de bananas com laranjas. Os compromissos com o clima, diferenciados, dizem respeito às emissões de cada país. As emissões da navegação são, por definição, internacionais e não haveria como diferenciar as emissões devido às cargas de minério ou de grãos. O fórum para discutir perdas de competitividade é a Organização Mundial do Comércio.
Uma boa análise do significado das metas definidas na semana passada pode ser vista no site do ICCT.
A mídia nacional e internacional repercutiu o acordo ressaltando que as metas assumidas não são alinhadas com o Acordo de Paris.
Antes de fechar o acordo, a Economist fez um vídeo simples e didático explicando o tamanho da encrenca.
Segundo consta, a Vale deu um forte suporte aos negociadores brasileiros até o final, tentando afundar o acordo. Ainda na 6a feira, a empresa disse, no site Último Instante, que trabalha duro para aumentar a eficiência dos navios e reduzir suas emissões. Se a empresa fizer o que diz, as emissões cairão e o preço dos fretes não subirá. E todos ficarão felizes.
http://www.imo.org/en/MediaCentre/PressBriefings/Pages/06GHGinitialstrategy.aspx
https://www.theicct.org/publications/IMO-initial-GHG-strategy
https://www.facebook.com/TheEconomist/videos/10156483921094060/
SOBRE O PL DO LICENCIAMENTO E O DA ROTULAÇÃO DOS TRANSGÊNICOS
Desde o final do recesso, circulam rumores na câmara sobre a bancada ruralista e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) quererem colocar o assunto na pauta do plenário o mais rapidamente possível.
O Estadão, a Página 22 e o Valor Econômico recentemente publicaram matérias e artigos sobre o Licenciamento Flex que, neste momento, está na Comissão de Finanças e Tributação ( CFT ) com um novo relator, o ex-ministro dos Transportes de Temer, Maurício Quintella Lessa.
No Valor, Daniel Ritter escreveu um interessante artigo sobre o rito atual do licenciamento ambiental. Começa citando dados, mostrando que ficou mais demorado e mais caro obter as licenças e cita dois exemplos para ilustrar o que considera um exagero dos órgãos ambientais. Mas, a seguir, mostra como certos projetos estão situados em áreas onde é evidente e justificada a dificuldade, e outros nos quais o licenciamento é tratado, pelas empresas, como um ritual burocrático a ser cumprido. Ritter termina dizendo que, se o licenciamento for desfigurado como desejado pelos ruralistas e pela CNI, não adiantará mais tarde “chorar pelo estouro das barragens que transformam rios doces em lamaçais. Ou agir como os loiros que dão uns trocados para combater o desmatamento na Amazônia e passam pito em presidente brasileiro, enquanto contaminam águas no Pará”.
Na comissão de meio ambiente do senado tramita um outro projeto de lei buscando retirar o obrigatoriedade da identificação de produtos transgênicos. O projeto é do ruralista gaúcho Heinze. O relator afirma que “uma análise científica rigorosa” é o melhor caminho para que se afaste “o medo em torno deles”, a seu entender fruto de “ignorância e obscuridade”. Mas é exatamente por isso que o selo existe: para informar o consumidor “ignorante e obscuro” do que está comprando. Esconder essa informação do consumidor, isso sim, é apostar na tal “ignorância e obscuridade”.
http://pagina22.com.br/2018/04/09/o-pantano-que-ameaca-o-licenciamento-ambiental/
http://www.valor.com.br/brasil/5449849/licenca-ambiental-vila-da-infraestrutura
GOVERNO DE MATO GROSSO ESCONDEU A EXPLORAÇÃO ILEGAL DE MADEIRA
Foi encontrado um relatório do governo de Mato Grosso mostrando que ⅔ da madeira extraída do estado veio de áreas não autorizadas, ou seja, é madeira ilegal, no período entre junho de 2013 e outubro de 2015. O relatório estava aberto ao público, mas em local tão escondido que ninguém o havia visto até recentemente. Fabiano Maisonnave escreveu para a Folha contando o caso e lembrando que, recentemente, o ICV tinha denunciado que mais de 40% da madeira retirada do estado era ilegal. Acusação essa que provocou um desmentido forte do governo do estado. Pelo jeito, o governo tinha razão, não eram 40%, mas 67%. Segundo o pessoal do ICV, a diferença surgiu do maior período de tempo considerado no relatório do governo, que soma meses secos nos quais o corte de madeira aumenta. Como os dados já têm mais de quatro anos, o governo atual afirma que já tomou providências para que isso não aconteça mais. Espera-se que não demore outros cinco anos para se confirmar que as providências realmente foram tomadas.
BRASILEIROS E SEUS CARROS, NA CONTRAMÃO DO CLIMA
Os SUV, utilitários-esportivos, chegaram a 21% das vendas de automóveis e comerciais leves no primeiro trimestre deste ano, ultrapassando por pequena margem a venda de sedãs. Os fabricantes preveem que, em até três anos, os SUV cheguem a 30%, quando alcançarão a liderança do mercado, deixando para trás os automóveis hatch, hoje o segmento líder no Brasil. Somente neste ano serão lançados 22 novos modelos. Segundo a consultoria Roland Berger, o Brasil está acompanhando a tendência global, especialmente o que vem acontecendo nos EUA e na China. Enquanto isto, por falta de crédito barato, o segmento dos carros populares está perdendo participação no mercado. Em 2003, o segmento representava 44% do mercado; em 2017, sua participação caiu para 17%.
A tendência é desfavorável para o clima do planeta. Normalmente maiores e mais pesados que hatches e sedãs, os SUV são beberrões e emitem mais CO2 por quilômetro rodado.
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,suv-vira-tendencia-no-pais-e-abocanha-20-8-das-vendas,70002268887
ROTA 2030 QUASE PARANDO DE NOVO
Após mais de ano discutindo o programa Rota 2030, um presentão para a indústria automobilística na forma de isenções fiscais, no mês passado parecia que os ministérios da fazenda e a indústria e comércio tinham chegado a um entendimento, e que o programa seria lançado em seguida. Parecia. Temer adiou uma reunião com executivos da automotivas para o final do mês. Eliseu Padilha, o amigo da casa civil, disse que a divergência entre os ministérios tinha rebrotado depois da saída de Meirelles da fazenda duas semanas atrás. Marcos Munhoz, vice-presidente da GM do Brasil, comentou que está difícil explicar para a matriz a razão de tanto atraso. Talvez porque o país vive sua maior crise fiscal da história e não faça muito sentido transferir dinheiro do contribuinte para acionistas das montadoras multinacionais.
http://www.valor.com.br/brasil/5446441/rota-2030-e-adiado-de-novo-gm-diz-que-fica-dificil-explicar-matriz
A INVASÃO DO CORAL-SOL AJUDADA POR UMA BOIA DA PETROBRAS PREJUDICA A PRÓPRIA EMPRESA
O coral-sol é tido como a espécie exótica mais devastadora da biodiversidade das costas brasileiras. Ele se reproduz muito mais rapidamente do que as espécies de corais nativas e tem capacidade de atacar diretamente outras espécies. Ao que se sabe até agora, as duas espécies encontradas vieram, uma das Galápagos e outra do Indo-Pacífico. Acredita-se que o que as impulsionou no litoral de São Paulo foi uma monoboia da Petrobras que, incrustada de corais-sol, veio da Bacia de Campos para o porto de São Sebastião, de onde vem se espalhando pelas costas paulistas.
O problema deve se agravar com os muitos equipamentos da Petrobrás na bacia de Campos, que estão chegando ao final de sua vida útil e, brevemente, precisarão ser descomissionados, desmontados, e ao que não puder ser reaproveitado, terá que ser dado um destino ambientalmente correto. Muitos desses equipamentos estão com quantidades grandes de corais-sol incrustadas e uma grande preocupação é não levá-los para locais onde possam abrir novas colônias e multiplicarem sua devastação. http://www.valor.com.br/brasil/5449825/coral-ameaca-renovacao-da-bacia-de-campos
DEZHOU, CHINA, A PRIMEIRA CIDADE SOLAR DO MUNDO
Dezhou, cidade de 550 mil habitantes, fica 300 km ao sul de Beijing e é um importante entroncamento de estradas e ferrovias. Dezhou também é a primeira cidade solar do mundo. Segundo a Deutche Welle, “na cidade, quase todos os telhados são cobertos de painéis solares. Existem laboratórios de pesquisa e mais de 100 empresas de energia solar.” 98% da energia consumida em Dezhou é gerada pela insolação e isso inclui eletricidade e calor de aquecedores e fogões solares.
https://marsemfim.com.br/dezhou-china/
BOAS NOVAS SOBRE CARROS ELÉTRICOS NA SUÉCIA, HOLANDA, ESPANHA…
A cada semana aparecem novidades na arte de recarregar as baterias de carros elétricos, reduzindo custos, aumentando a abrangência geográfica e criando novos modelos de negócio. Na Suécia, estão experimentando colocar trilhos em trechos espaçados de uma estrada para carros elétricos equipados com um braço flexível embaixo. O carro percebe que há um trecho de trilho à frente e baixa o braço e a corrente no trilho alimenta a bateria do carro. A estrada identifica o carro e cobra a energia no cartão do motorista/proprietário. O sistema foi bolado pensando muito na segurança. Segundo um dos autores do projeto, dá para andar descalço em cima do trilho sem levar choque algum, mesmo que o trilho esteja coberto de água. O governo estima que o custo é 50 vezes menor do que o de construir os trilho dos trams europeus e já está fazendo planos para eletrificar 20 mil dos 500 mil quilômetros de estradas suecas. Técnicos estimam que, dada a rede rodoviária, esses 20 mil km são suficientes para garantir a recarga de todo o tráfego.
Na Holanda, a Fastned criou um novo modelo de negócio de recarga de elétricos. As vendas mais que dobraram em 2017 e a empresa estima que seu custo operacional é coberto por 30% das vendas. Hoje, a empresa promete recarga completa em 20 minutos nas suas quase 80 estações na Holanda. Os próximos passos incluem uma estação ainda mais rápida e um aumento de abrangência na direção da Alemanha, da Bélgica e de algumas cidades da Inglaterra.
Na Espanha, a Iberdrola pretende instalar 25.000 estações de recarga nos próximos 4 anos, a maioria em residências e anunciou uma parceria com uma rede de postos de gasolina para instalar estações rápidas de recarga. Pelas suas contas, para o motorista, o quilômetro rodado elétrico custa 10% do que o mesmo quilômetro à gasolina.
CEO DA 5a MAIOR GERADORA DOS EUA DIZ QUE CARVÃO É RELÍQUIA DO PASSADO
Geisha Williams, cubana naturalizada americana e CEO da PG&E (Pacific Gas and Electric Company), declarou recentemente que “o carvão é uma relíquia do passado”. E completou: “Acho que o carvão teve um papel importante. Não acho que é econômico. E certamente não é limpo”. A PG&E é a 5a maior elétrica dos EUA, atende boa parte do norte da Califórnia e tem 16 milhões de clientes. Seu parque gerador é composto de 3,9 GW hidrelétricos, uma nuclear de 2,4 GW e mais três térmicas à gás. A empresa está investindo em fotovoltaicas no deserto do Mojave, ao sul da sua área de concessão.
http://ieefa.org/pge-ceo-says-coal-is-a-relic-of-the-past/
FRACKING É CULPADO POR FAZER A TEMPERATURA PASSAR DOS 2oC ATÉ 2030
Anthony Ingraffea, professor emérito da Universidade de Cornell dos EUA, fez uma conta reversa para estimar o prejuízo para o clima causada pela invenção do fracking. Diz ele que o Departamento de Energia prevê que haverá 1 milhão de poços extraindo gás nos EUA em 2050, sendo que hoje existem 100 mil. Se o fracking não tivesse aparecido, a produção norte-americana de gás natural teria seguido sua rota de queda e os EUA quase não produziriam mais gás natural. Seu lugar, assim como o do carvão, teria sido ocupado por fontes renováveis. Ingraffea mostra que boa parte dos estudos feitos antes de 2012 não levavam em conta a explosão de poços de gás de folhelho e que todo esse metano ia ser queimado. Em um dos gráficos do trabalho ele mostra que passaremos em breve o limite de 1,5oC nos próximos anos e que, se nada for feito, o gás e o óleo de folhelho sozinhos nos levarão para além do 2oC de Paris.
https://www.reddit.com/r/videos/comments/8c0qs6/shale_gas_the_technological_gamble_that_should/
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