Ouro ilegal de Terra Indígena termina em gigante italiana

garimpo Terra Kayapó

Inocentes noivos italianos podem estar carregando em suas mãos parte da destruição da Terra Indígena Kayapó, no sul do Pará. Graças a um esquema criminoso, o ouro extraído ilegalmente dessa Terra Indígena é esquentado e chega à italiana Chimet – um braço da UNOAERRE, responsável por produzir 70% das alianças de casamento vendidas na Itália.

À Repórter Brasil, a autora da investigação que foi reproduzida pela Folha, a UNOAERRE disse nunca ter comprado ouro diretamente do Brasil. No entanto, em seu balanço de sustentabilidade de 2020, a empresa informa realizar a maioria de suas aquisições e o refinamento do ouro com a Chimet. Como se tratam de empresas de um mesmo grupo, é bastante provável que o ouro extraído ilegalmente da Terra Indígena dos Kayapós tenha terminado nos dedos dos noivos italianos.

As duas empresas são controladas pela família Squarcialupi. O fundador da Chimet, Sergio Squarcialupi, que já foi presidente da UNOAERRE, chegou a ser condenado por diversos crimes, incluindo dano ambiental, organização para tráfico ilícito de rejeitos e falsidade ideológica. A condenação foi revertida na Suprema Corte de Cassação (equivalente ao nosso Supremo) em 2017.

Questionada, a empresa declarou que sempre compra o metal acompanhado de documentos que atestem sua origem legal. Só que as notas fiscais que declaram a origem do minério são em papel, preenchidas pelo vendedor, que facilmente pode mentir sobre o local de onde foi extraído o metal.

A fragilidade do controle da comercialização do ouro é apontada pelo Instituto Escolhas como um dos principais fatores que turbinam as vendas deste metal extraído ilegalmente. Ontem, o Escolhas lançou um estudo apontando indícios de ilegalidade na venda de mais de 200 toneladas de ouro extraído no país entre 2015 e 2020. O volume equivale a metade da produção nacional de ouro no período. Segundo o Instituto, cinco empresas concentraram um terço desse montante. Mais da metade do volume de ouro considerado suspeito pelo Instituto foi produzido na Amazônia, principalmente no Mato Grosso e no Pará. A Folha e o Projeto Colabora noticiaram o lançamento. O estudo do Escolhas pode ser acessado neste link.

Em tempo: A partir de agora o Mato Grosso tem três Terras Indígenas sob vigilância da Força Nacional por causa de invasões, desmatamento e extração ilegal de madeira. Portaria do Ministério da Justiça autorizou o uso da Força Nacional nas Terras Kawahiva do Rio Pardo e Piripkura. Ambas estão localizadas em Colniza (MT). O Povo Kawahiva é isolado e o Piripkura é formado por indígenas em isolamento voluntário, vivendo em território ainda não demarcado. Os Kawahiva enfrentam ameaças de madeireiros. Já os Piripkura são alvos de garimpeiros. Pelo menos 8 cooperativas entraram em contato com a ANM (Agência Nacional de Mineração) para pedir o direito de exploração do solo. A Terra dos Sararé está sendo vigiada desde o ano passado. Poder 360, g1 e O Globo noticiaram.

 

ClimaInfo, 11 de fevereiro de 2022.

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