Enquanto IEA aponta queda do petróleo, Petrobras insiste na foz do Amazonas

IEA queda do petróleo
iea Oil 2023

O uso de combustíveis fósseis no transporte deve entrar em declínio após 2026, com a expansão dos veículos elétricos, o crescimento dos biocombustíveis e a melhoria da eficiência energética dos motores reduzindo o consumo. Dois anos depois, em 2028, o mundo deverá atingir o pico de demanda geral por petróleo.

Após isso, a tendência é de queda. Isso porque os altos preços e as preocupações com a segurança do abastecimento destacadas pela crise global de energia vão acelerar a mudança para energias mais limpas, aponta um novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

A IEA projeta que a demanda por gasolina será a primeira a atingir o pico antes de iniciar um declínio constante. Segundo a agência, a procura pelo combustível já deve começar a cair neste ano, relata o UOL. Resultado de um forte aumento na demanda por carros elétricos e uma mudança duradoura no mercado de trabalho, com a migração para o trabalho remoto estimulada pela pandemia, explica o Valor.

Economias asiáticas continuarão sustentando o apetite global por petróleo nos próximos anos, e a demanda por combustível de aviação, nafta e outros derivados com uso industrial seguirá aumentando, afirmam Época Negócios e InfoMoney. No entanto, mesmo na China, o consumo diminuirá de forma acentuada antes do fim da década. Em 2027, a Índia ultrapassará a China como principal motor do avanço na demanda pelo combustível fóssil, diz a IEA.

As novas projeções da agência ainda não são suficientes para fazer a Petrobras desistir de explorar mais petróleo – e na Margem Equatorial, onde está a Bacia da Foz do Amazonas. O gerente-executivo de Reservas da petroleira, Tiago Homem, reforçou que a companhia mantém os planos de avançar sobre a região, informa o UOL. Homem sugeriu que a Margem é parte do futuro natural da atividade, já que as bacias do Sudeste começam a “amadurecer”.

Para isso, porém, a Petrobras terá de provar ao IBAMA que há segurança. O que não conseguiu fazer em relação à Foz do Amazonas, como ressaltou o presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho, em entrevista ao UOL.

“O plano de emergência individual da Petrobras é ruim, o plano de proteção à fauna na região é ruim, o plano de comunicação num eventual acidente também é frágil. É um conjunto de situações. O principal estudo que está faltando é o de avaliação ambiental de área sedimentar, que é obrigatório”.

Agostinho reconhece que o estudo é de responsabilidade do governo brasileiro, não da empresa, mas “a Petrobras, como maior interessada, também poderia subsidiar”. E deixa claro: “O IBAMA nunca faz estudos, o IBAMA analisa estudos. Até para manter a independência da análise”.

Em artigo no UOL, o biólogo Lucas Ferrante questiona o ataque que o órgão ambiental vem sofrendo nas últimas semanas. Ele lembra que a campanha de desmoralização é liderada por ruralistas, mas ganhou apoio dos defensores da exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Atividade que, para ele, o órgão negou acertadamente. “Neste tipo de empreendimento, temos que entender que os danos podem ser ambientais, sociais e econômicos, tal como ocorreu em Brumadinho e Mariana com o rompimento das barragens de rejeitos.”   Para o ex-diretor de Política Amazônica do WWF nos Estados Unidos, Pedro Bara, a Petrobras precisa ser “estimulada politicamente a assumir um papel de liderança, tratando novos negócios, como eólica offshore e hidrogênio, não só como ‘diversificação rentável’, mas também como oportunidades para um planeta menos dependente do petróleo e bem mais seguro para as próximas gerações”, diz ele, em artigo no Valor.

ClimaInfo, 15 de junho de 2023.

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