Instabilidade climática deve impedir novo recorde da safra de grãos em 2024, diz IBGE

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CNA/Wenderson Araújo/Trilux

As chuvas excessivas no Sul, calor no Centro-Oeste e seca na Amazônia afetam plantio de verão e derrubam projeções para safra de grãos em 2024.

A instabilidade climática no Brasil deve custar caro para o agronegócio na próxima colheita. De acordo com estimativa do IBGE divulgada na semana passada, a safra de grãos, cereais e leguminosas deve ficar em 308,5 milhões de toneladas em 2024, o que representa uma queda de 2,8% (cerca de 8,8 milhões de toneladas) em relação à safra deste ano, de 317 milhões de toneladas.

Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), a produção de soja e de milho serão as mais afetadas, com redução de 1,3% (quase 2 milhões de toneladas) e 5,6% (7,3 milhões) na próxima safra em relação aos números de 2023. As duas culturas devem ter queda também na área colhida, de 0,6% e 0,4%, respectivamente.

“O principal motivo [para a queda da produção] é a instabilidade climática”, disse Carlos Alfredo Barradas, do IBGE, ao Globo Rural. “A gente vinha do La Niña em 2022, que é caracterizado por seca no Sul e excesso de chuvas no Norte e Nordeste. Agora, passamos para o El Niño, com chuvas no Sul e seca nos Norte e Nordeste. Mas que também traz instabilidade no Centro-Oeste, que responde por mais da metade da produção do país”.

“O excesso de chuvas na região Sul, ao mesmo tempo em que atrapalha a colheita de trigo, atrapalha as lavouras de soja e milho que estão sendo plantadas. O atraso nas chuvas no Centro-Oeste também está atrasando o plantio da soja. (…) Em algumas áreas [no Centro-Oeste], a gente está ouvindo o pessoal comentando que está tendo que fazer replantio de novo da soja, porque não germinou direito”, completou ao Estadão.

O que mais preocupa os produtores de soja neste momento é a recorrência de fortes ondas de calor em boa parte do país. Além da temperatura mais alta, o clima mais seco e a falta de chuvas prejudicam a produção e devem prejudicar as margens de lucro para a próxima colheita. O Globo Rural destacou a preocupação do setor.

Fica aqui uma pergunta aos produtores de soja, em especial às suas entidades representativas: o que os negacionistas da crise climática que vocês financiam e divulgam há tanto tempo têm para dizer sobre a crise atual? O setor acordará para a realidade da crise climática ou seguirá com a cabeça enterrada na terra seca? 

Agência Brasil, Canal Rural e Correio Braziliense, entre outros, também repercutiram os dados do IBGE sobre a produção rural em 2024.

Em tempo: O agronegócio brasileiro está recorrendo ao governo Lula para evitar que o setor seja “rifado” nas negociações climáticas da COP28 em Dubai, informou a Folha. A desconfiança da turma do agro é que o lobby pesado da indústria dos combustíveis fósseis, que passa inclusive pela presidência da COP dos Emirados Árabes, para “tirar o deles da reta”, por assim dizer, acabe jogando os produtores rurais aos leões. A Presidência da COP destacou que pretende discutir o papel dos sistemas alimentares para o enfrentamento da crise climática; para o agro, esse recorte pode colocá-los como vilões no lugar das petroleiras.

 

ClimaInfo, 13 de novembro de 2023.

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