Os líderes mundiais devem “parar de perder tempo e começar a agir” contra crise climática, cobra Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC às vésperas da COP28.
A poucos dias da abertura da Conferência do Clima de Dubai (COP28), o secretário-executivo da Convenção Clima (UNFCCC), Simon Stiell, reforçou o apelo aos líderes internacionais por avanços concretos nas negociações. Para ele, todos os países estão na “linha de frente” da crise climática e são vulneráveis a seus efeitos.
“A maioria dos governos ainda está caminhando quando a gente precisa correr”, disse Stiell em entrevista ao Guardian. “Cada ano de passos pequenos como temos dado até agora significa que precisaremos dar saltos maiores a cada ano no futuro se quisermos permanecer nessa corrida”.
Sobre a presença da indústria da energia fóssil, que será mais proeminente nesta COP por conta do local em que ela será realizada – os Emirados Árabes, um dos maiores produtores mundiais de petróleo – Stiell argumentou que o setor deve participar das discussões, mas que precisa se engajar de forma concreta.
“Para que a conversa progrida do quê precisa ser feito para como deve ser feito; a indústria dos combustíveis fósseis tem de fazer parte da conversa. Mas seu envolvimento tem de ser legítimo, tem de abordar as ações necessárias para nos afastar da atual dependência dos combustíveis fósseis para um novo modelo de negócio descarbonizado”, disse.
Já o presidente-designado da COP28, Sultan al-Jaber, demonstrou um “otimismo cauteloso” sobre as perspectivas da Conferência de Dubai. “Espero que consigamos chegar a um acordo coletivo sobre um plano de ação climática tangível. Estamos vendo progressos muito bons nas agendas de energia, finanças, saúde, alimentação e natureza.”
Al-Jaber chega ao comando da COP28 em uma posição criticada por muitos ativistas climáticos:presidindo a maior estatal de petróleo dos Emirados Árabes, a ADNOC, ao mesmo tempo em que preside as negociações que podem resultar em um plano para abandonar o consumo de combustíveis fósseis nas próximas décadas.
“É preciso levar 200 países a um consenso. Isso requer muitas conversas delicadas, muitas trocas. Pelo que sabemos, essas não são coisas que al-Jaber tenha feito no passado”, disse o jornalista Akshat Rathi à Bloomberg sobre o presidente da COP28. “Se ele conseguir fazer isso, será um sucesso para ele e os Emirados Árabes, mas se fracassar, também correrá o risco de tornar verdadeiras todas as críticas que lhe foram feitas enquanto economia petroleira que tenta acolher uma conferência sobre o clima”.
A Reuters também traçou um panorama da atuação de al-Jaber ao longo do ano como futuro chefe das negociações climáticas da ONU. Pressionado pelas críticas de conflito de interesse, o executivo vem tentando se equilibrar entre a defesa da presença da indústria fóssil nas negociações e o reconhecimento de que os países deverão buscar algum entendimento em Dubai sobre a eliminação gradual dos produtos desta indústria.
É exatamente a questão do futuro da energia fóssil que pode representar a maior armadilha para a posição política de al-Jaber na COP28, como bem pontuou o Climate Home. A dúvida é: se o caldo tornar nas discussões sobre combustíveis fósseis, para que lado correrá al-Jaber?
ClimaInfo, 27 de novembro de 2023.
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