Governo gaúcho justifica falta de plano de prevenção por “outras agendas”

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reprodução vídeo Folha Entrevista

Segundo Eduardo Leite, a questão fiscal se sobrepôs a outros temas na lista de prioridades do governo do RS, como a prevenção de desastres climáticos. 

O governo do Rio Grande do Sul segue fazendo malabarismo retórico para justificar a falta de ações preventivas que minimizassem os impactos das chuvas históricas que atingiram o estado neste mês.

Em entrevista à Folha, Eduardo Leite (PSDB) reconheceu que estudos apontavam para a necessidade de investimentos em prevenção de desastres climáticos, mas argumentou que isso era secundário em relação a outros temas na agenda do governo, como o saneamento das contas estaduais. 

“[Os estudos] de alguma forma alertam, mas o governo também vive outras pautas e agendas. (…) A agenda que se impunha era aquela especialmente vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado para poder trabalhar nas pautas básicas de prestação de serviços à sociedade gaúcha”, afirmou Leite.

O governador gaúcho também defendeu as mudanças na legislação ambiental do estado, apontadas por ambientalistas como um dos fatores que contribuíram para o desastre climático deste mês. Na opinião dele, as mudanças serviram para “aprimorar” essas leis. “Simplesmente burocratizar e dificultar licenças não é proteger o meio ambiente. Acabaram com a legislação ambiental? Não, aprimoramos, modernizamos, ajustamos e até endurecemos em muitos pontos”, declarou.

Outro alvo de críticas é a prefeitura de Porto Alegre, uma das cidades mais afetadas pelas inundações no RS. A Folha destacou um levantamento que identificou um gasto de menos de R$ 12 milhões entre 2021 e 2023 com a Defesa Civil. Nesse mesmo período, municípios gaúchos menores, como Canoas e Santa Cruz do Sul, gastaram muito mais com ações de prevenção e resgate, cerca de R$ 54 milhões e R$ 43 milhões, respectivamente.

A expectativa agora é que, em face à dimensão do desastre no Sul, a questão da adaptação climática deixe de ser uma “agenda” secundária aos olhos do poder público. “É uma ignorância total do sistema econômico e fiscal não perceber que é muito pior não fazer nada. Esses eventos levam à morte de milhares de pessoas. Isso é inadmissível”, argumentou o climatologista Carlos Nobre ao UOL.

Na mesma linha, o coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, destacou à Agência Brasil a necessidade do poder público tirar do papel seus planos de prevenção e de adaptação climática. “Prevenção e adaptação têm que ser política prioritária, tanto em orçamento, como prioridade de ações e medidas do poder público, seja ele municipal, estadual ou federal”, afirmou.

“Sociedades resilientes são aquelas que aprendem com as suas próprias tragédias, mas precisamos de vontade política para que essa transformação aconteça”, afirmou Diego Pereira Lindoso, da Universidade de Brasília (UnB), à RFI. “Com base nesse histórico de outras tragédias, eu sou um pouco cauteloso em afirmar que vai haver um aprendizado, apesar de reconhecer que a dimensão da catástrofe do Rio Grande do Sul tem potencial para representar um ponto de inflexão”.

 

ClimaInfo, 21 de maio de 2024.

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