Agro = 74% das emissões brasileiras

A atividade agropecuária é, de longe, a principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil registradas em 2016.  É o que mostra o mais recente inventário das emissões brasileiras de gases de efeito estufa realizado pelo SEEG – Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), lançado no final de 2017 pelo Observatório do Clima. Ela respondeu por 74% das emissões nacionais, somando as emissões diretas da agropecuária (22%) e as emissões por mudança de uso da terra (51%).

 

Se fosse um país, o agronegócio brasileiro seria o oitavo maior poluidor do planeta, com emissões brutas de 1,6 bilhão de toneladas (acima do Japão, com 1,3 bilhão)

Entre 1990 e 2016, o setor de uso da terra no Brasil emitiu mais de 50 bilhões de toneladas de CO2e, o equivalente a um ano de emissões mundiais.  As emissões por mudança de uso da terra cresceram 23% em 2016, respondendo por 51% de todos os gases de efeito estufa que o Brasil lançou no ar.

 

O descontrole do desmatamento, em especial na Amazônia,  levou o Brasil a emitir 218 milhões de toneladas de CO2 a mais em 2016 do que em 2015. Isso é mais do que duas vezes o que a Bélgica emite por ano.  Aliás, a elevação de 8,90% nas emissões totais brasileiras em 2016 se deveu justamente à alta de 27% no desmatamento na Amazônia.

 

O aumento das emissões no setor de agropecuária também se deve, em parte, à crise econômica.  Os abates de bovinos recuaram pelo segundo ano consecutivo, devido principalmente a uma queda na demanda por carne em função da crise e competitividade das demais carnes, como a de porco (que tem tido abates recordes). Menos gado sendo abatido significa mais bois no pasto e nos currais e mais emissões, já que bois e vacas emitem metano (o gás de efeito estufa mais importante depois do CO2) durante a digestão e também pela degradação do esterco. Em 2016 o Brasil tinha mais de 198 milhões de cabeças de gado, segundo dados do IBGE.

 

Mas também contribuiu para o crescimento das emissões do setor – que foi o maior desde 2011 – um salto inédito no consumo de fertilizantes nitrogenados, que emitem óxido nitroso (N2O) um gás 265 vezes mais potente que o CO2 no aquecimento global. Depois de uma queda de entre 2014 e 2015, ele cresceu 23% em 2016, algo nunca visto antes, o que levou a um aumento proporcional de aumento nas emissões dessa fonte.

 

A conta dos solos degradados

 

O SEEG fez, ainda, pelo segundo ano consecutivo, uma estimativa das emissões e remoções pelo manejo dos solos agrícolas, que não são computadas no inventário nacional divulgado pelo governo. Solos degradados emitem CO2 e solos bem manejados, pelo contrário, removem CO2 da atmosfera. Entender e estimar essas emissões e remoções é fundamental para o cumprimento das metas do Brasil no Acordo de Paris, já que elas envolvem restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas.

 

Se fossem contabilizadas, as variações de carbono no solo resultariam num aumento de 5% na emissão total do setor agropecuário, devido à grande quantidade pastagens degradadas no país.

 

A foto que ilustra este post é do fotógrafo Rodrigo Baleia – clique aqui para conhecer o trabalho dele.