ClimaInfo, 5 de dezembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

BRASIL CADA VEZ MAIS LONGE DE SUAS METAS CLIMÁTICAS

Ana Carolina Amaral escreveu um contundente artigo na Folha mostrando que, a cada nova peça legislativa, o país fica mais longe do que prometeu cumprir em Paris. Não só, também fica mais longe do que prometeu no longínquo ano de 2009, na COP de Copenhague. Os subsídios aos fósseis continuam firmes e fortes e a Câmara vai estendê-los por mais tempo e ainda acrescentar mais um pouco para quem quiser explorar o pré-sal. O desmatamento da Amazônia continua na casa dos milhares de quilômetros quadrados por ano e o desmatamento do Cerrado nem entrou na conta. A promessa de criar um mercado de redução de emissões continua empacada porque ninguém se atreve a pôr o guizo no gato, ou seja, dizer quem será obrigado a pagar pelas emissões. Ana Amaral falou com vários atores que apontaram que a governança de uma eventual política climática não existe de fato e que cada linha de ação envolve alinhar múltiplos ministérios. O que, pelo menos neste governo, não acontece.

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/12/1940294-brasil-esta-longe-de-cumprir-suas-metas-climaticas.shtml

 

SENADO: OPOSIÇÃO PROMETE RESISTIR À APROVAÇÃO DA MP DO TRILHÃO

Senadores da oposição estão se movimentando para bloquear a tramitação da MP 795 no Senado Federal. A MP do Trilhão, como ficou conhecida, prorroga uma série de isenções fiscais e amplia a abrangência destas para quem vier a explorar os campos do pré-sal.

Amanhã, a Câmara deve votar os 12 destaques à MP e, a partir de então, a matéria começa a tramitar no Senado. O senador Requião, do Paraná, apresentou um requerimento pedindo para ver todos os pareceres, notas técnicas e estudos elaborados pelas assessorias legislativas, bem como pelos Ministérios da Fazenda e das Minas e Energia e suas autarquias. O senador diz que existem trabalhos que não fazem parte do pacote que acompanha a MP e aos quais não teve acesso. Além disso, senadores pediram a convocação dos ministros da fazenda e minas e energia para esclarecer a MP. O governo corre contra o relógio, pois a MP caduca em 15 de dezembro. Se não for votada até lá, tudo terá que começar outra vez.

http://epbr.com.br/oposicao-articula-resistencia-contra-mp-do-repetro-no-senado/

 

ONU BUSCA FORTALECER COMBATE À POLUIÇÃO E ÀS MUDANÇAS DO CLIMA

Um acordo de cooperação para impulsionar a tomada de decisões em clima e no combate à poluição foi assinado nesta segunda-feira entre a secretária-executiva da Convenção sobre Mudança do Clima da ONU, Patricia Espinosa, e o secretário-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim. Quem relata é Daniela Chiaretti, do Valor Econômico, diretamente de Nairobi, no Quênia, onde até quarta-feira acontece a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O evento foi precedido por um inédito fórum, que reuniu cientistas, ambientalistas, diplomatas e empresários neste fim de semana.  Segundo a jornalista, o encontro mostrou tanto a urgência de ações concretas rumo à economias mais limpas, como  as possibilidades de negócios que já estão abertas.

http://www.valor.com.br/internacional/5216423/onu-soma-esforcos-e-assina-acordo-para-combater-poluicao

http://www.valor.com.br/internacional/5216235/onu-debate-com-empresarios-avanco-da-economia-limpa

 

ATAQUE DE MADEIREIROS A INDÍGENAS

No final do mês passado, houve uma tentativa de assassinato de um índio paiter-suruí. A polícia federal está investigando. Os paiter-suruís estão confrontando e expulsando madeireiros na terra indígena Sete de Setembro, na divisa entre Mato Grosso e Rondônia. A matéria de Fabiano Maisonnave traz uma foto de um caminhão carregado de toras de castanheira, uma das árvores cuja exploração é ilegal.

Um pouco mais ao sul, perto de Colniza, onde ocorreu o massacre de assentados em abril desse ano, o Ibama está realizando operações contra a extração ilegal de madeira. Madeireiros continuam usando o esquema tradicional de pedir autorizações à Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso e usá-las repetidas vezes, incluindo madeiras cuja extração é ilegal. A reportagem da Folha acompanhou os fiscais do Ibama numa das operações. A Secretaria de Meio Ambiente foi consultada e, no lugar das habituais queixas sobre a falta de verbas, diz que está tudo em ordem e que “há total dissenso entre as afirmações feitas pelo Ibama e a realidade”.

http://m.folha.uol.com.br/poder/2017/11/1939655-pf-investiga-ataque-de-madeireiros-contra-indigenas-em-rondonia.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/12/1940075-ibama-caca-origem-de-madeira-ilegal-em-mato-grosso.shtml

 

SECA ATINGE PESCADORES E AGRICULTORES NO RIO GRANDE DO NORTE

Dos quase 50 reservatórios existentes no Rio Grande do Norte, onze estão completamente secos e outros dezoito estão operando o seu volume morto. Na região de Acari e Currais Novos fica o açude Gargalheiras ou Barragem Mal. Eurico Gaspar Dutra. No Google Maps, dá para ver a diferença entre o mapa e a foto recente de satélite. Pescadores que viviam no entorno do açude abandonaram a região. Já há seis anos chove menos do que a média histórica. A previsão é que a chuva volte à normalidade a partir de fevereiro.

http://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2017/12/estiagem-provoca-dificuldades-pescadores-agricultores-do-rn.html

 

ROTA 2030: A BRIGA PELOS SUBSÍDIOS ÀS AUTOMOTIVAS

Os ministérios da fazenda e da indústria e comércio continuam brigando pelo futuro dos subsídios à indústria automotiva. Em 2012, Dilma agraciou a indústria com redução de impostos em troca da preservação dos empregos e de um aumento na eficiência dos carros produzidos aqui. A isenção não foi estendida aos importados, o que atraiu a instalação no país de linhas de montagem de marcas de luxo como a Audi e a Mercedes. O Inovar-Auto de Dilma vence agora no final do ano e as montadoras querem saber como ficam os subsídios a partir do ano que vem.

O CEO da Mercedes para a América Latina, Philipp Schiemer, avisou que se ocorrer uma abertura total do mercado, quase todas as indústrias fecham. O MDIC montou o programa Rota 2030 para manter as isenções em troca de mais inovação e eficiência nos carros até 2030, o que agrada aos fabricantes. Quem não gosta da ideia é o ministério da fazenda que não quer abrir mão da arrecadação de R$ 1,5 bilhão anuais.

O Rota 2030 tem ainda mais um obstáculo na Organização Mundial do Comércio, que acatou reclamações sobre o Inovar-Auto discriminar produtos importados. Os técnicos do MDIC dizem ter redigido o Rota 2030 em conformidade com a OMC. O MDIC e as montadoras afirmam que todos os países têm uma política automotiva, sem a qual não haveria inovação e desenvolvimento.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,disputa-dentro-do-governo-federal-por-rota-2030-sobe-de-tom,70002103682

 

ÔNIBUS PODERIAM REDUZIR AS EMISSÕES DE POLUENTES E DE GASES DE EFEITO ESTUFA

Antonio Ferro escreveu na Revista Autobus um artigo interessante que, com muita delicadeza, diz que nossos ônibus poluem demais, que não aproveitam desenvolvimentos tecnológicos usados em muitos outros países e que contribuem para que a temperatura global do planeta continue subindo. Como outros, o autor não entende por que não há interesse em aproveitar o leque de biocombustíveis disponíveis no país, do biodiesel ao etanol e ao biometano em localidades onde este último já é competitivo. Ferro, como muitos outros analistas de políticas públicas, diz que nosso país continua “perdendo o bonde da história”. No caso, “bonde” é um retrato bastante adequado.

http://www.revistaautobus.com.br/?p=5883

 

CARROS ELÉTRICOS JÁ SÃO MAIS ECONÔMICOS DO QUE OS A GASOLINA E DIESEL

Pesquisadores da Universidade de Leeds, UK, fizeram as contas de tudo que um proprietário gasta com seu carro, desde o preço de compra até o gasto com combustível e manutenção. Fizeram-nas para carros a gasolina, diesel, híbridos e elétricos a bateria, e para os contextos dos EUA, Japão e Reino Unido, usando preços de 1997 a 2015. A primeira constatação é que o gasto total com híbridos e elétricos vem caindo ano após ano nos três países. Como os três introduziram subsídios para os elétricos, o gasto com estes já é menor do que com os movidos a combustíveis fósseis. Como os híbridos recebem menos subsídios, por enquanto eles saem um pouco mais caros do que os fósseis. Entre outras coisas, os pesquisadores constataram que o subsídio faz sentido enquanto o preço da bateria não cair mais. Ela faz o preço de compra ser mais alto e ainda não compensa a economia alcançada pelo fato da eletricidade ser mais barata do que a gasolina ou diesel.

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S030626191731526X?via%3Dihub

https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/01/electric-cars-already-cheaper-to-own-and-run-than-petrol-or-diesel-study

 

CARTEL GLOBAL DE PRODUTORES DE PETRÓLEO SE AFINA CADA VEZ MAIS

A OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) se reuniu na semana passada e decidiu estender o corte na produção de petróleo até o final do ano que vem e, assim, tentar manter o preço do barril no patamar de US$ 60. De um lado, isso valoriza as ações da Aramco, a maior petroleira do mundo, que deve abrir em bolsas cerca de 5% do seu capital, num negócio que deve render por volta de US$ 100 bilhões para o tesouro real da Arábia Saudita. Também se beneficiarão países produtores que não fazem parte da OPEP. Como, em geral, o preço do gás natural acompanha o do barril de petróleo, os frackeadores da base de apoio de Trump também vão gostar. Até o pessoal do pré-sal está na torcida para que o preço continue assim.

Petroleiras e franqueadores felizes são sinônimos de temperaturas em elevação.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/12/1939710-acerto-entre-gigantes-busca-elevar-cotacao-global-de-petroleo.shtml

http://www.valor.com.br/financas/5213673/opep-estende-corte-de-producao-de-petroleo-ate-o-fim-de-2018#

https://www.reuters.com/article/us-oil-opec-russia-saudi-aramco/saudi-aramco-ipo-on-track-for-2018-officials-idUSKBN1CA0SI

 

MELHOR USO DO SOLO PODE CAPTURAR O CARBONO EMITIDO POR TODO O SETOR DE TRANSPORTES

A Terra contém cinco grandes reservatórios de carbono. A atmosfera está cheia, com mais carbono do que nas últimas dezenas de milhares de anos. O oceano está se acidificando de tanto CO2 que está absorvendo. As florestas estão sendo cortadas e, olhando para a escala de tempo do homem sobre a Terra, desaparecendo. Os reservatórios de carbono fóssil estão sendo esvaziados e queimados. Sobra o solo como candidato para absorver o carbono necessário para mantermos a temperatura global sob controle. Mais do que nunca, cientistas estão estudando os mecanismos por meio dos quais o solo troca carbono com a atmosfera e a biosfera, buscando a dupla vantagem de remover CO2 da atmosfera e regenerar áreas degradadas pelos efeitos do clima e dos 10.000 anos de agricultura que, nos últimos dois séculos, vem se acelerando de forma predatória e insustentável. O potencial parece ser muito grande. Rattan Lal, diretor de um centro de pesquisa no estado norte-americano de Ohio estima que há um potencial de remoção anual de entre 1 a 2,5 bilhões de toneladas de carbono. Para comparar, o setor de transportes global emite atualmente cerca 1,4 bilhões por ano.

A foto fica ainda melhor quando se leva em conta que solos saudáveis equilibram o balanço da água e favorecem a segurança alimentar e a saúde da população humana. A situação é de ganha-ganha-ganha e ganha.

http://news.trust.org/item/20171114172325-qg8w2/

https://mobile.nytimes.com/2017/12/02/opinion/sunday/soil-power-the-dirty-way-to-a-green-planet.html

 

RECEITAS PARA LIMITAÇÃO DO AQUECIMENTO EM 1,5°C

O pessoal da Track 0 publicou um compêndio de receitas para a manutenção da temperatura global abaixo de 1,5°C. Eles colocaram o foco sobre a agricultura, sobre o uso da terra e sobre a indústria da construção e o ambiente urbano. Estas atividades foram escolhidas “por, no nosso entendimento, receberem menos atenção das políticas públicas, mas onde há uma abundância de soluções afeitas aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU) que também contribuem para o portfólio de soluções necessárias para manter as temperaturas globais abaixo de 2°C / 1,5°C”. Houve a preocupação em listar soluções que aportassem casos de sucessos. O relatório se estende para analisar opções de remoção de CO2 da atmosfera com as chamadas BECCS (captura e armazenamento de carbono vindo de térmicas a biomassa). Os resultados do trabalho sugerem que dificilmente as BECCS atingirão a escala necessária para fazer uma contribuição significativa para o Acordo de Paris.

http://www.climatenetwork.org/publication/compendium-solutions-achieving-sustainable-development-goals-and-staying-below-2%C2%B0c-or

http://www.climatenetwork.org/sites/default/files/pdf_-_for_use_standard_file_-_a_compendium_of_solutions_for_achieving_the_sustainable_development_goals_and_staying_at_1.5degc.pdf

 

EVENTOS ‘EL NIÑO’ AUMENTAM AS EMISSÕES GLOBAIS DE CO2

Durante o El Niño de 2015-16 houve um aumento fora da curva das emissões de CO2. Posto que não houve aumento similar das emissões da indústria e da queima de combustíveis fósseis, cientistas começaram a estudar o impacto do El Niño na capacidade que as árvores têm de absorver CO2. Medidas feitas com o uso de satélites mostram que, tanto no último episódio El Niño, como em seus antecessores, o grosso da emissão adicional veio dos trópicos. Só que, enquanto na Amazônia as plantas cresceram mais lentamente e absorveram menos CO2, na África mais seca, houve um aumento da emissão pelas plantas e pelo solo. Para quem gosta de histórias de detetive e de descobertas científicas, vale ler o artigo da Scientific American que vai mostrando como os mecanismos de interação entre o El Niño nos diferentes ecossistemas acabam favorecendo o aumento do aquecimento global.

https://www.scientificamerican.com/article/el-nino-might-speed-up-climate-change/