Brasil amplia reservas de petróleo a seu maior nível desde 2015

reservas petróleo maior nível desde 2015
TÂNIA REGO/AGÊNCIA BRASI

Volume garante nível atual de produção pelos próximos 13 anos; somado às reservas prováveis, chega a 22,8 bilhões de barris, ou 18 anos de produção.

Os amantes dos combustíveis fósseis, que incluem o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, tentam defender a exploração de petróleo na foz do Amazonas dizendo que, caso não haja novas descobertas, o Brasil vai passar a importar óleo cru a partir de 2030. Mas os dados da ANP – outra árdua defensora da exploração desenfreada de combustíveis fósseis – relativos às reservas brasileiras jogam [mais] essa falácia por terra.

Como mostra Nicola Pamplona na Folha, o Brasil atingiu no ano passado o maior volume de reservas provadas de petróleo, cuja viabilidade é comprovada, desde 2015, fruto de novas descobertas no pré-sal. As reservas provadas chegaram a 15,9 bilhões de barris em 2023, menores apenas que os 16,2 bilhões de barris de 2014, e que representam um crescimento de 7% em relação ao volume verificado em 2022.

Esse volume, segundo a ANP, garante o nível atual de produção nacional pelos próximos 13 anos – ou seja, até 2037, sete anos após o pico de demanda global por petróleo projetado pela Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em Inglês). Somando as reservas prováveis, que tem menor grau de confiança, mas que podem se tornar provadas, o volume chega a 22,8 bilhões de barris, ou 18 anos da produção atual.

Atualmente o Brasil produz mais petróleo do que consome, mesmo considerando a necessidade do país de importar diesel fóssil e gasolina por gargalos no refino. Parte significativa da produção brasileira de óleo cru é exportada. Assim, ainda que haja um crescimento do consumo interno – o que é questionável, diante da crescente aposta de montadoras em veículos elétricos e híbridos flex, que também usam etanol –, o que já foi descoberto sem precisar perfurar um poço sequer na foz do Amazonas dá para suprir a demanda nacional com folga.

O diretor do Instituto Arayara, Juliano Araújo, alega que o Brasil realizou diversos leilões de áreas exploratórias nos últimos anos, com potencial de descobertas que eliminariam a necessidade de abertura de novas fronteiras. “Com o que a gente já tem hoje leiloado, não precisa em hipótese alguma tocar a margem equatorial ou a Amazônia profunda. Se acontecer, é fruto de decisão política”, afirma.

Essa decisão política é destacada pelo R7, que lembra que o governo enfrenta um dilema quando se trata da política energética. Enquanto o presidente Lula se apresenta como um líder contra a crise climática global, ao mesmo tempo o país continua investindo e incentivando a exploração de combustíveis fósseis, especialmente o petróleo.

Outro nome além de Silveira, Prates e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, entrou no rol dos defensores dessa energia suja. Em entrevista n’O Globo, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, defende o direito da Petrobras de “fazer pesquisas” na região da foz do Amazonas. O que Góes tenta disfarçar é que “pesquisa”, nesse caso, é exploração de combustíveis fósseis, com todos os imensos riscos envolvidos na perfuração de um poço de petróleo em uma região tão sensível ambientalmente.

O Valor mostra que o setor de transportes responde por cerca de 50% da demanda mundial por petróleo. Considerando também a aviação e o setor marítimo, esse percentual sobe para mais de 60%. Ou seja, sabe-se perfeitamente a chave para que abandonemos os combustíveis fósseis, e é nisso que montadoras, fabricantes de aviões e de navios e companhias aéreas e de navegação estão investindo – ainda que num ritmo muito aquém da urgência climática.

Enquanto isso, a poluição atmosférica, causada majoritariamente pela queima de combustíveis fósseis, mata 7 milhões de pessoas todos os anos – o equivalente à população do Rio de Janeiro, a 2ª mais populosa cidade do país, compara o Valor. E são justamente os moradores dos centros urbanos que mais sofrem com a queima de combustíveis fósseis.

“Os caminhões, carretas e ônibus são responsáveis por 80% das emissões atmosféricas na região metropolitana de São Paulo. Além do CO2, esses veículos pesados também podem emitir gases tóxicos, como os óxidos de nitrogênio”, diz Carlos Lacava, gerente do Departamento de Emissões Veiculares da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).

Em tempo: Quem defende petróleo costuma associá-lo a desenvolvimento econômico e social. Mas a Bahia é mais um exemplo dessa falácia, já que a riqueza dos combustíveis fósseis é concentrada, enquanto seus estragos impactam os mais pobres. O quilombo Dom João, em São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, resiste em meio aos primeiros campos de petróleo explorados comercialmente no Brasil. A pobreza e a degradação locais contrastam com os royalties recebidos pelo município, no distante 2.573º lugar do ranking nacional do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As cerca de 60 famílias da comunidade precisam ir cada vez mais longe em busca dos peixes, mariscos e caranguejos guaiamum que garantem seu sustento, destaca o Valor. São constantes os conflitos com proprietários rurais remunerados pelos poços em suas fazendas. “O petróleo para nós só dá prejuízo”, afirma Joselita Santos, a Dona Joca, liderança quilombola. Outro exemplo da miséria do petróleo está em Lobato, bairro de Salvador onde foi perfurado o primeiro poço de petróleo do Brasil, há 85 anos. O cenário reflete o desafio da justiça climática diante dos impactos das mudanças climáticas, que têm o petróleo como vilão e atingem principalmente as populações mais pobres, ressalta o Valor. “Morar no bairro do ‘ouro negro’ sempre foi motivo de visibilidade e orgulho nas escolas, mas hoje vemos que a vida local não melhorou”, afirma o professor de educação física José André Barbosa Junior.

__________

ClimaInfo, 23 de abril de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.