POLÍTICA REGIONAL E POLÍTICA INTERNA DIFICULTAM INTENÇÃO BRASILEIRA DE HOSPEDAR A COP25 EM 2019
Não se sabe exatamente por que o Paraguai aparentemente avançou o sinal e nomeou – para logo na sequência “desnomear” – o Brasil para ser o hospedeiro da COP25 agendada para a região. Guy Edwards especula na Global Americans, que a ação do Paraguai pode ter tentado evitar uma longa e possivelmente inconclusiva reunião do Grupo de Países Latino Americanos e do Caribe (GRULAC), grupo presidido rotativamente pelo Paraguai durante a COP23 e que tem a missão de indicar qual país da região deve hospedar a cúpula do clima de 2019. O fato é que o GRULAC vive momentos turbulentos. Um dos problemas é a relação do grupo com a Venezuela, país que já perdeu a oportunidade de hospedar a COP19 para o Peru e que segue no intento. A política regional anda especialmente difícil para os lados da Venezuela. O regime de Maduro foi duramente criticado pela recente Declaração de Lima assinada por vários países, entre eles Paraguai, México, Brasil, Peru e Argentina. A harmonia do GRULAC é também perturbada pela perspectiva de eleições próximas para a presidência em sete países latino-americanos.
A política doméstica brasileira também apresenta problemas para a realização da cúpula no país. As organizações ambientais lideraram a ideia de sediar a COP25 e o ministro Sarney Filho encampou a proposta. Para os mais interessados na agenda climática, hospedar a COP25 seria uma boa maneira de chamar a atenção sobre a questão, especialmente no contexto das eleições presidenciais de 2018 e de um novo governo que tomará posse exatamente no ano de sua realização.
Mas com as crises econômica e política em curso no Brasil, a estratégia pode ser arriscada. A hospedagem de uma COP com 20 mil participantes e o capital diplomático necessário para bem conduzi-la têm seu preço. O acolhimento de uma COP bem-sucedida exige facilitar o processo, fortalecer a confiança entre os países, demonstrar uma forte ação climática doméstica e planejamento e organização maciços. Como a COP25 deve ser o momento de negociação climática mais importante desde o Acordo de Paris, o Brasil enfrentaria uma tarefa enorme, e não se sabe se o novo governo terá o estofo necessário.
Caso o GRULAC não chegue a um consenso sobre quem será o anfitrião da COP25, a UNFCCC organizará a conferência em outra região.
SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA PARA O SISTEMA CANTAREIRA
O Estadão fala de um grupo de pequenos produtores rurais de Piracaia, a 90 km de São Paulo, que abriu suas terras para ajudar a proteger o Sistema Cantareira, o maior responsável pelo fornecimento de água para a região metropolitana de São Paulo. Nas propriedades, a mata atlântica está sendo recuperada em pastagens degradadas e áreas desmatadas das margens de rios e do entorno de nascentes para aumentar a capacidade de absorção de água do Sistema, que sofreu com a pior seca de sua história entre 2014 e 2015.
O projeto desenvolvido em Piracaia e outras cidades da região que abastece o Cantareira pretende restaurar 4 mil hectares de vegetação nativa e, nos cálculos do World Resource Institute no Brasil, “pode maximizar a produção de altíssima qualidade de água e trazer um benefício líquido de US$ 70 milhões em 30 anos”.
O projeto é um dos destaques de um relatório que detalha 15 iniciativas desse tipo já em andamento ou ainda em fase de projeto no Brasil, que buscam resolver problemas da sociedade usando a natureza e os ecossistemas como parte da solução.
http://www.p22on.com.br/wp-content/uploads/2017/12/P22ON_DEZEMBRO-2017-FINAL.pdf
BOLSONARO COMPAROU TERRA INDÍGENA COM ZOOLÓGICO
Na semana passada o pré-candidato Jair Bolsonaro esteve em Manaus e, para uma plateia de simpatizantes, levantou a ideia de que a Amazônia não é mais do Brasil. Disse que o indígena aqui está condenado “a ficar preso dentro de uma terra indígena como se fosse algo no zoológico”. Defendeu a exploração mineral em território Ianomâmi antes que novos países nasçam dentro do Brasil. Bolsonaro é criador de frases polêmicas, como, por exemplo: “Se alguns dizem que quero carta branca pra Polícia Militar matar, eu respondo: ‘Quero, sim’. Policial que não atira em quem atira nele não é policial”.
Bolsonaro disse, também, que o aquecimento global existe, e que o remédio é controlar o aumento da população.
GRANDES DO MUNDO FINANCEIRO COMEÇAM A ATUAR POR UM MUNDO DE BAIXAS EMISSÕES
Ao longo deste ano, grandes corporações do mundo financeiro começaram a dar passos na direção de reconhecer as ameaças climáticas aos seus negócios e a tomar providências para reduzir o risco à suas operações, umas deixando de apoiar fósseis, outras apoiando renováveis ou, ainda, sinalizando para investidores o aumento do risco de projetos, programas e regiões.
Durante a reunião de cúpula em Paris, no começo do mês, a maior seguradora europeia, a francesa AXA, cancelou os seguros dados a operadoras de oleodutos e gasodutos nos EUA e Canadá, reduziu seus investimentos em indústrias carvoeiras e se comprometeu a investir mais em renováveis.
Durante o mesmo evento, o Banco Mundial anunciou que estava estendendo para a indústria de petróleo e gás, seu compromisso de não dar crédito a novos projetos de produção de carvão.
Após uma briga de anos com seus acionistas, a ExxonMobil anunciou esta semana que vai abrir para estes sua avaliação do risco que a mudança do clima traz para seus negócios. Os riscos vão desde a redução de demanda – seja por regulação, seja pela concorrência com a eletricidade – até às suas operações em si.
Por sua vez, a agência de rating Moody’s avisou cidades e estados norte-americanos que estava incluindo na sua análise os planos e preparações destes para eventos climáticos extremos que poderiam afetá-los. Um rebaixamento do rating implica empréstimos e outras operações financeiras mais caras ou linhas de financiamento simplesmente deixando de ser acessíveis.
https://news.vice.com/story/4-of-the-biggest-names-in-finance-just-vowed-to-fight-climate-change
TREINANDO JUÍZES NA ARTE DO NEGACIONISMO CLIMÁTICO
Em outubro, nos EUA, aconteceu um seminário de três dias de duração e com todas as despesas pagas dedicado a ajudar juízes a examinar melhor as evidências e a defender as regulações do governo Trump. Segundo matéria do The Guardian, foi o primeiro de uma série de seminários para promover ceticismo em relação a evidências científicas apresentadas nas cortes. Os convidados são os prováveis candidatos a ocupar 140 cortes que Trump terá que preencher nos próximos anos. O único instrutor de ciências, Louis Anthony Cox Jr., é um analista de risco com uma longa história de colaboração com a indústria do petróleo e recentemente indicado para ser um dos executivos da EPA (Agência de Proteção Ambiental) nessa fase obscurantista de Trump e Scott Pruitt. Em uma fase pregressa, Cox testemunhou a favor da indústria química e foi pesquisador da Phillip Morris, a gigante da indústria do tabaco. Os cargos de juiz nos EUA são, em geral, vitalícios. O preenchimento de várias destas vagas com juízes que aprenderam a duvidar das evidências científicas apresentadas, ajudará as petroleiras em embates judiciais. A matéria do The Guardian é longa e cheia de histórias, situações e análises interessantes, e bem pessimistas.
https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/17/big-oil-climate-change-lawsuits-environment
PARTE DA GROENLÂNDIA DERRETE 80% MAIS RÁPIDO DO QUE O RESTO
Trabalho recém publicado na Science Advances dá conta que em uma bacia do sudoeste da Groenlândia a taxa de derretimento aumentou 80% entre 2003 e 2014, quando comparada com o período anterior de 26 anos. A descoberta se estende, talvez a taxas menores, por toda a grande ilha. A camada de gelo da Groenlândia é um dos pesadelos recorrentes dos climatologistas. A estimativa mais atual leva em conta a descoberta recente de que a camada de gelo é mais profunda do que se supunha e, portanto, o volume de gelo também é maior. Se tudo derreter, o nível do mar sobe quase 8 metros. Essa água toda acabaria acelerando o derretimento no outro polo, na Antártica, que contém gelo suficiente para elevar o nível do mar em mais 60 metros.
http://advances.sciencemag.org/content/advances/3/12/e1701169.full.pdf
FOTOS E MATÉRIA SOBRE O QUE SOBRA DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO ÁRTICO
O New York Times publicou uma matéria e fotos do único poço de petróleo aberto no Refúgio Nacional Animal no Ártico, (Arctic National Wildlife Refuge) no nordeste do Alasca. Em meados dos anos 1980, o poço exploratório foi fechado e tampado. As fotos infravermelhas recentes tomadas por satélite mostram claramente, no meio da tundra, um retângulo de 1,2 hectares, quase 40 anos após o poço ter sido desmontado e abandonado. Uma foto tirada dois anos após o fechamento, mostra a extensão de tundra destruída. Francis Mauer, um biólogo aposentado do USFWS (sigla em inglês do Serviço de Fauna e Peixes dos Estados Unidos) disse que “é simples alterar algo na tundra, mas muito difícil restaurá-la”. Essa matéria é importante porque é muito grande a pressão republicana para que Trump revogue a proibição de exploração de petróleo e gás no Refúgio. Não que Trump precise de muita pressão para ajudar seus amigos fósseis.
https://www.nytimes.com/2017/12/15/climate/arctic-drilling-anwr.html
NÍVEL DO MAR PODE SUBIR QUASE 3 METROS NESTE SÉCULO, MAS A ALBÂNIA JÁ ESTÁ PERDENDO SUA COSTA
Um estudo que acaba de sair na Earth’s Future prevê que o nível do mar pode subir até três metros por causa do colapso de partes das plataformas de gelo da Antártica seguido de um derretimento acelerado de geleiras terrestres. Os modelos usados no último relatório do IPCC não levaram em conta esta possibilidade. Entende-se, agora, que as plataformas de gelo flutuante atracadas nas pontas das geleiras funcionam como rolhas, freando e limitando a quantidade de gelo que cai no mar. Tire a rolha e a velocidade de escoamento da geleira aumenta rapidamente, despejando gelo suficiente para elevar o nível de todos os mares. E o enfraquecimento e colapso dessas plataformas se aceleraram porque subiu a temperatura da atmosfera e da água em certas regiões do continente Antártico.
Mesmo antes dessa anunciada tragédia, a Albânia, país que fica paralelo ao calcanhar da bota itálica, do outro lado do Mar Adriático, já vem perdendo terreno para o mar. Na lagoa de Kune, onde havia uma floresta separando o mar da lagoa em si, hoje só sobraram troncos fossilizados. Dos 427 quilômetros do litoral albanês, “154 km estão afetados pela erosão” declarou o ministro do Meio Ambiente, Blendi Klosi. A costa albanesa é muito pouco alta e o mar já cobriu quase meio quilômetro nos últimos quinze anos. A lagoa praticamente não existe mais, a quantidade de peixes caiu e, dos 50 mil pássaros que existiam na região em 1970, sobraram somente 7 mil. Eglantina Bruci, especialista em mudanças climáticas na capital Tirana, disse que “a única solução… seria a construção de estruturas rochosas paralelas à costa e a reconstituição das dunas”. Mas o custo disso é muito grande para um dos países mais pobres da Europa. “Mas, se nada for feito, o país empobrecerá cada vez mais. E o território da Albânia encolherá” diz Jak Gjini, encarregado de Meio Ambiente na região.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2017EF000663/epdf
OS SURTOS DE CRESCIMENTO ACELERADO DOS FURACÕES ESTÃO FICANDO MAIS FORTES
Os quatro grandes furacões deste ano, Harvey, Irma, José e Maria ficaram muito fortes, muito rapidamente. Maria, por exemplo, passou de uma depressão tropical, o primeiro nível de perturbação, a um furacão categoria 5 em três dias. Pesquisadores examinaram a evolução de todos os furacões entre 1950 e 2014 olhando para sua trajetória e a evolução das velocidades dos ventos. Não encontraram nenhuma mudança significativa na quantidade de furacões que cresceram rapidamente. Também não encontraram diferenças nas intensidades dos furacões. Olharam, então, só para os furacões que ficaram realmente mais fortes. Para esses, a cada ano, a intensificação aumentou 0,4 nós diariamente. Ainda não encontraram uma explicação clara de porque vem acontecendo essa intensificação rápida para os furacões no Atlântico tropical central e ocidental, mas não para os mais a oeste. A hipótese mais provável tem a ver com a Oscilação multidecadal do Atlântico que vem aumentando a temperatura da água em partes do Atlântico tropical. Águas mais quentes contribuem para furacões mais fortes. É possível que o aquecimento global também esteja contribuindo. É isso que os pesquisadores estão investigando agora. Desvendar o processo é importante para poder prever a força dos furacões dos próximos anos.
https://www.nature.com/articles/d41586-017-08719-y