ClimaInfo, 26 de fevereiro de 2019

25 de fevereiro de 2019

Agrotóxicos e aquecimento global afetam polinizadores

Adilson Dias Paschoal, professor da ESALQ, diz que o uso indiscriminado de agrotóxicos é um tiro no pé. Entre outras coisas, porque uma das grandes vítimas dos venenos é a abelha. Segundo Adilson, “a polinização, em nosso país, é essencial (90% a 100%) para as culturas de maracujá, melancia, acerola e melão; alta (40% a 90%) para maçã, pêra, ameixa, pêssego, abacate, goiaba, girassol e tomate; e modesta (10% a 40%) para coco, café, canola, algodão e soja”. Adilson conta que na China, depois de muita aplicação de agrotóxicos no campo, surgiu a figura dos “homens-abelha, pessoas que precisam subir em árvores para realizar o papel dos polinizadores, extintos em várias regiões”. O artigo mostra como os agrotóxicos provocam desequilíbrios em ecossistemas que sobem a cadeia alimentar até chegar ao homem. Preocupado com o destino dos polinizadores, Adilson ainda acrescenta que “estudo conduzido na Escola Politécnica (USP) mostra que o aquecimento global poderá ter significativo efeito sobre esses insetos, notadamente na região Sudeste do Brasil, reduzindo a produção agrícola de várias culturas”.

 

A greve estudantil pelo clima que não chegou ao Brasil

As greves de jovens estudantes às sextas-feiras continuam numa preparação para o grande evento que ocorrerá no mundo todo no dia 15 de março. O que começou com uma adolescente sueca, Greta Thunberg, sentada na frente do parlamento de seu país, incendiou o mundo. Logo ela, que dizia ter sido ao longo de sua vida “uma garota invisível”. Na semana passada Greta foi até a Bélgica discursar na sede da Comunidade Europeia: “O sistema político atual é baseado em competição. Tudo o que importa é ganhar para conseguir mais poder. Isso precisa acabar. Devemos parar de competir uns com os outros, e cooperar. Trabalhar juntos e compartilhar os recursos naturais do planeta de maneira justa. Temos que proteger a biosfera, os seres vivos, os oceanos, o solo e as florestas. Isso pode parecer ingenuidade, mas se vocês (políticos) tivessem feito sua lição de casa, saberiam que não temos outra escolha. Precisamos focar nas mudanças climáticas. Porque, se falharmos em combatê-la, todas nossas conquistas e progressos não valerão nada. E o que restará de legado de nossos líderes políticos será o maior fracasso da humanidade.” O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, aproveitou a presença dela para anunciar que quer dedicar US$ 1,13 trilhão do orçamento da Comunidade para o período 2021- 27 em programas de mitigação das mudanças climáticas.

Além da Europa e do Canadá, o movimento se juntou a outro nos EUA e se espalhou até Japão, Austrália, Índia, Tailândia, Nova Zelândia e Uganda. Na América Latina, por enquanto, só os adolescentes colombianos aderiram. Aliás, Marcelo Leite, na sua coluna de ontem se perguntava “por que estudantes brasileiros não fazem greve pelo clima? (…) O que os jovens brasileiros têm para dizer a respeito? Silêncio ensurdecedor.” Leite faz uma leitura sobre a importância do movimento neste momento. Mas não tenta entender o “silêncio ensurdecedor”.

 

Fazendeiro pagará multa de R$ 1 milhão por desmatamento de área protegida

O fazendeiro Gilberto Luiz de Rezende foi condenado em primeira instância a pagar uma multa de R$ 1 milhão por ter desmatado quase 3.000 hectares na Estação Ecológica Terra do Meio, região próxima de Altamira e São Félix do Xingu, no sul do Pará. Além da multa, o indivíduo terá que recuperar a área ambiental degradada. A sentença diz que “restou demonstrada a ocorrência do dano moral coletivo, na medida em que o flagrante dano ambiental decorrente da conduta ilícita afeta tanto os indivíduos que habitam e/ou retiram seu sustento da Região Amazônica, como também todos aqueles que fazem jus a um meio ambiente sadio e equilibrado, ou seja, a sociedade brasileira, de modo geral”. Ah, se a moda pega.

 

Tuíte presidencial fala da instalação de painéis fotovoltaicos nos canais da transposição do São Francisco

Finalmente um tuíte presidencial traz uma notícia interessante: o governo está estudando a colocação de painéis fotovoltaicos nas margens dos canais de transposição das águas do São Francisco. O principal objetivo do projeto é gerar eletricidade para alimentar as bombas do sistema. A eletricidade é o item mais caro na operação da transposição. Os técnicos dizem que o sistema tem duas vantagens adicionais: ao fazer sombra sobre os canais, reduzem a evaporação e, portanto, a perda de água ao longo do percurso. A sombra também inibe a formação de algas que têm sido uma praga a comprometer a qualidade da água.

 

Costa Rica quer ser o primeiro país descarbonizado do mundo

Cumprindo uma promessa de campanha, Carlos Alvarado Quesada, presidente da Costa Rica, anunciou o Plano Nacional de Descarbonização 2018-2050 que, uma vez implantado, fará do país o primeiro a fazer a transição para uma economia sem emissões. O Plano se desenvolverá seguindo quatro eixos: mobilidade, gestão de resíduos, agropecuária sustentável e, juntos, energia e indústria. A costa-riquenha Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção do Clima e uma das construtoras dos Acordo de Paris, esteve presente no lançamento do Plano e disse que “a visão de descarbonizar a economia nacional é um projeto-país que nos motiva à inovação, criando empregos em prol da independência energética, uma economia robusta e cidades limpas para todos os cidadãos. A Costa Rica toma novamente, a posição de liderança internacional.”

O presidente Quesada recebeu mensagens de cumprimentos pela iniciativa de figuras internacionais como Al Gore, Pedro Sanchez, primeiro ministro espanhol, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, e Patricia Espinosa, atual secretária executiva da Convenção Clima, dentre outras.

 

Exxon quer bloquear proposta de resolução climática feita por investidores

A Exxon está tentando bloquear a demanda de investidores pelo estabelecimento de metas de redução de emissões de carbono. A empresa argumentou junto à Securities and Exchange Commission, dos EUA, contra a proposta que deverá ser votada na sua assembleia geral de maio. A resolução foi apresentada por fundos que gerem carteiras que, somadas, chegam a US$ 1,9 trilhão. Entre os investidores está o Church Commissioners for England, que alertou para o fato das “empresas de combustíveis fósseis [estarem] na mira, depois de sua bem-sucedida campanha para conseguir que a mineradora de carvão Glencore limite sua produção de carvão”. O Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra votou esmagadoramente, na 6a feira, pela “intensificação do seu programa ambiental em resposta à ameaça crescente da mudança climática”, acrescenta o Daily Mail.

 

Editorial do Washington Post apresenta nova proposta para um Green New Deal

“Somos a favor de um Green New Deal para salvar o planeta. Acreditamos que tal plano pode ser eficiente, eficaz, focado e exequível. (Mas) O novo acordo verde proposto por [alguns] Democratas do Congresso não satisfaz estas condições”, diz o Washington Post. O jornal apresenta sua alternativa, que considera melhor do que a dos Democratas: a política deve “começar com a precificação do carbono” para, em seguida, “preencher as lacunas”. O jornal diz que, para os EUA, “reentrar no Acordo de Paris teria que ser prioridade máxima”, e adverte que “boas intenções não são suficientes”, lembrando do caso da Alemanha, “cujo governo impôs custos de eletricidade extremamente altos em nome da redução de emissões, enquanto o país segue queimando enormes quantidades do carvão nocivo”. O New York Times também publicou um editorial sobre o Green New Deal, dizendo que “o plano ambicioso teve um começo difícil, mas também mudou a conversa nacional. Só isso é motivo para aplaudi-lo”. No Vox, David Roberts diz que “os críticos do Green New Deal estão perdendo o quadro geral”, e explica: “Para ser franco: isto não é normal. Não estamos numa era de política normal. Não há precedente para a crise climática, os seus perigos ou as suas oportunidades. Acima de tudo, o momento exige coragem e um novo pensamento (…) As crianças estão na rua, organizadas, exigindo uma solução. Vamos tentar dar-lhes uma resposta”.

 

Gigantes da tecnologia contribuem para aquecer o planeta

Normalmente, gigantes da tecnologia como Google, Microsoft e Amazon aparecem no mundo climático como corporações do bem, seja por produtos ambientalmente corretos ou por meio de iniciativas de apoio a mitigação e adaptação mundo afora. Mas Brian Merchant diz na Gizmodo que não é bem assim. As chamadas Big Tech fazem parcerias e negócios bastante lucrativos com as grandes petroleiras. Esses acordos, que somam bilhões de dólares, promovem a automação, a inteligência artificial e a computação na nuvem para a indústria dos fósseis. Uma joint-venture formada entre duas gigantes da automação, a Rockwell e a Schlumberger, foi criada, segundo analistas, para “ajudar produtores a extrair mais petróleo e gás com menos trabalhadores”. O climatólogo Michael Mann disse à Merchant que “é de fato perturbador ver a indústria de tecnologia ajudando a empurrar a civilização de volta para a era fóssil, ainda que eles se gabem de estar na vanguarda tecnológica que nos levará até o futuro. No final, trata-se da amoralidade dos interesses corporativos”.

 

A Grande Barreira de Corais na Austrália atingida por mancha de lama

As chuvas torrenciais que castigaram o nordeste da Austrália provocaram inundações e encheram os rios de lama, sedimentos e resíduos de agrotóxicos das plantações. A Galileu publicou fotos de satélite que mostram a pluma de lama saindo da foz desses rios e avançando por sobre a Grande Barreira de Corais. O temor dos cientistas é que a lama venha a fazer sombra e reduzir a atividade fotossintética do delicado ecossistema dos corais. E que concentrações altas de agrotóxicos possam afetar ainda mais o ecossistema. A Galileu lembra que “em 2016, 93% dos recifes da região foram atingidos devido ao clima quente, sendo que 50% foram classificados como mortos ou morrendo.”

 

RIP Ernesto Moeri, RIP Paulo Nogueira Neto

Soubemos ontem da morte do geólogo suíço-brasileiro Ernesto Moeri num desastre de avião no sul do Pará neste sábado. Ernesto fundou a Geoklock, empresa especializada em remediação de áreas contaminadas, e o Instituto Ekos Brasil, que se dedica à conservação da biodiversidade. Ernesto era um apaixonado pelo Brasil, sua biodiversidade e a diversidade de seus povos. RIP Ernesto.

E ontem, perdemos o decano do ambientalismo brasileiro Paulo Nogueira Neto, aos 96 anos. Não é possível resumir em uma simples nota a longa e notável trajetória ambientalista de Nogueira Neto. RIP Paulo.

 

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Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
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