Madeira, desmatamento e incêndios ilegais

3 de setembro de 2019

A indústria da árvore – papel, celulose, produtos madeireiros – está preocupada com a deterioração da situação na Amazônia.

Na semana passada, Paulo Hartung, presidente do Ibá (associação de empresas de base florestal), disse a respeito dos incêndios: “São irresponsáveis e não representam a mentalidade de um mundo moderno, conectado com a bioeconomia, que tanto buscamos e custará caro ao Brasil, para o mundo e para as próximas gerações.” Segundo o Valor, os produtos florestais são o terceiro item da pauta de exportações do país, atrás apenas de soja e derivados e carnes.

O problema não está nas florestas plantadas com eucaliptos e pinus, mas sim na madeira extraída ilegalmente e vendida para a indústria moveleira e de construção. Um dos madeireiros presos em uma operação do Ibama em abril, conversou com André Borges e Gabriela Biló, do Estadão, e disse: Eu trabalhava com a retirada de madeira de projetos de manejo, vendendo para Minas Gerais, São Paulo, mas dentro da lei. Dentro da lei, eu digo, e a Polícia Federal tem áudio meu, é 70% da madeira, o que já é um milagre. Porque os outros 30% estavam errados (…) Eu vou te dizer, é mais ou menos por aí que eu trabalhava. Tem gente que coloca 80% (ilegal) no plano de manejo. Não tem como trabalhar de outra forma.”

O ruralista Valdir Collato, presidente do Serviço Florestal Brasileiro, adotou a meta de acabar com a madeira ilegal aumentando as concessões de exploração florestal. “É fazer a floresta crescer, tirar a riqueza que precisa tirar dela, mas, ao mesmo tempo, manter o meio ambiente. É preciso ver a questão do desenvolvimento sustentável, porque deixar uma floresta lá, contemplativa, ninguém mexe e ela se deteriora.” A notícia é do Valor. Alguém podia avisar Collato de que a Floresta Amazônica está lá há 55 milhões de anos e só começou a se deteriorar nos últimos 50.

O professor Ricardo Abramovay, da USP, escreveu um artigo na Folha, neste final de semana. Diz que “na verdade, o desmatamento é o mais importante vetor da perenização do atraso e das precárias condições de vida na região. Ele exprime uma forma primitiva de extrativismo que se materializa, por exemplo, no tráfico de madeira clandestina, que funciona como obstáculo à exploração madeireira sustentável.” Ao contrário do que diz Collato, Abramovay explica que “a manutenção da floresta em pé não corresponde, portanto, a uma redoma de contemplação, economicamente paralisada. Ao contrário, ela é um manancial de riquezas que se exprimem tanto em seus serviços ecossistêmicos e na cultura dos que lá habitam como no valor de seus produtos.”

 

ClimaInfo, 3 de setembro de 2019.

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