Empresas renegam apoio à “boiada” de Ricardo Salles

abag

O anúncio publicado na semana passada por associações empresariais em favor da política ambiental de Ricardo Salles acabou saindo pela culatra. Diversas empresas que fazem parte de associações signatárias reagiram duramente e desautorizaram seu endosso. Algumas chegaram a pedir desfiliação das associações.

De acordo com Joana Cunha, na Folha, o resort Beach Park e a rede de hotéis Bourbon comunicaram sua saída da Associação para Desenvolvimento Imobiliário e Turístico (ADIT), uma das signatárias do anúncio pró-Salles. A ABIHPEC, entidade representativa da indústria de cosméticos, retirou seu endosso após ser pressionada por gigantes do setor como o Grupo Boticário, a Natura e L’Occitane.

No agronegócio, a reação à campanha pró-Salles também não foi boa. Ouvido por Giovana Girardi no Estadão, o presidente da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag), Marcello Brito, avaliou que tanto a peça publicitária quanto o discurso do ministro Salles sobre “passar a boiada” por cima das regulamentações ambientais são contraproducentes e comprometem o esforço do setor para desburocratizar processos na agricultura: “Não precisa passar coisas de baciada. Pegou mal. Pega mal pro agro. E veja bem.: não era a ministra da agricultura que estava falando, era o ministro do meio ambiente. Tem um processo meio maluco nisso aí”.

Outro porta-voz importante do setor, Pedro de Camargo Neto, que trabalhou no Ministério da Agricultura sob o governo FHC e servia como vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), renunciou ao posto por conta do apoio da entidade ao ministro Salles. “Fui contra assinar o anúncio de apoio ao Ministério do Meio Ambiente que entendo ser equivocado e que fere meus princípios. Pretender usar o momento de dor e mesmo pânico na Saúde Pública para aprovar medidas contra a burocracia fere meus princípios”, disse Camargo Neto à Mônica Scaramuzzo no Estadão.

Enquanto empresas e sociedade civil discutem a “boiada” de Salles, a verdade cruel é que o ministro está avançado em seu esforço de enfraquecimento do regramento ambiental, algo evidente pela explosão no desmatamento nos principais biomas brasileiros. Como bem coloca Eudes Lima na IstoÉ, “a boiada já está no pasto”.

 

ClimaInfo, 1º de junho de 2020.

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