Na batalha política entre Ricardo Salles e a dupla Paulo Guedes e Hamilton Mourão, a principal vítima é o meio ambiente. Na 4ª feira (21/10) à noite, a diretoria de proteção ambiental do Ibama determinou a suspensão dos trabalhos de combate às queimadas em todo o país, alegando “exaustão de recursos”.
No Estadão, André Borges revelou que a situação financeira do Ibama e do ICMBio é difícil. Os dois órgãos acumulam dívidas de R$ 25 milhões ao todo, entre contas de energia, abastecimento de veículos e aluguel de aeronaves. O jornal também destacou a oferta feita pelo ministério do desenvolvimento regional, que propôs o repasse de R$ 30 milhões de seu orçamento para cobrir as dívidas dos órgãos ambientais federais. O secretário nacional de proteção e defesa civil da pasta, coronel Alexandre Lucas, confirmou o repasse, mas explicou que existem condicionantes para o uso desses recursos: por exemplo, só poderiam ser usados em operações realizadas em municípios ou estados em situação de calamidade ambiental. Ou seja, apenas os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estariam cobertos, deixando de fora a maior parte da Amazônia.
De acordo com Ana Flor, no G1, Salles não alertou Guedes nem o ministro-chefe da casa civil, general Walter Braga Netto, sobre a decisão. Os três estiveram juntos na tarde de 4ª feira. Mourão, por sua vez, também disse não ter sido informado da decisão, mas afirmou que buscaria “esclarecer a situação”.
A notícia foi amplamente repercutida na imprensa, com destaques em Congresso em Foco, Estadão, Globonews, Metrópoles, O Globo, Poder360 e Último Segundo IG, entre outros.
Em tempo: Na Folha, Ana Carolina Amaral publicou que Salles está tentando adiar a entrega do 4º inventário nacional de emissões de gases de efeito estufa, previsto para ser encaminhado à ONU até dezembro. De acordo com a reportagem, o documento está pronto, mas o ministro não o apresentou na reunião do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), realizada na última 4ª feira. O 4º inventário revisa os cálculos de emissões desde 1990 e inclui novos dados de 2011 a 2016. Salles estaria insatisfeito com as altas emissões atribuídas ao setor agropecuário e teria proposto apresentá-las em duas categorias diferentes para tentar disfarçá-las. A matéria diz que as regras de elaboração de inventários nacionais são rigorosas e que a manobra só enfraqueceria ainda mais a credibilidade do governo.
ClimaInfo, 23 de outubro 2020.
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