Bolsonaro na Cúpula Climática: as promessas pouco confiáveis de um presidente nada confiável

22 de abril de 2021

Como diz o ditado, “e de onde menos se espera, dali é que sai nada mesmo”. Com um discurso de quase sete minutos, Bolsonaro ignorou uma boiada de fatos – como a escalada do desmatamento, o sucateamento dos órgãos ambientais, a falta de verba para atividades básicas, além de falas recentes dele mesmo – para desenhar um Brasil “líder” na proteção do meio ambiente. Na fala aos chefes de governo na Cúpula de Líderes para o Clima de ontem (22/4), o presidente repetiu a ladainha das últimas semanas: minimizou o peso do Brasil nas emissões globais de carbono, ressuscitou a promessa de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 e reafirmou que o país precisa de recursos externos para fazer mais no combate ao desmatamento e à mudança do clima. A única novidade do discurso presidencial foi uma sinalização de antecipação da meta para descarbonização da economia brasileira de 2060 para 2050, em linha com o que outros países se comprometeram nos últimos meses. Mesmo assim, ao contrário de muitos países que explicaram o que pretendem fazer, inclusive o anfitrião, Bolsonaro passou reto por esse “detalhe”.

Outra promessa duvidosa de Bolsonaro foi a de duplicar os recursos destinados a ações de fiscalização ambiental. Em coletiva dada depois do discurso, o ministro Ricardo Salles confirmou a proposta, mas não quis detalhar de onde virão os recursos para tanto – afinal, o orçamento do ministério do meio ambiente para 2021 é o mais baixo em mais de duas décadas e órgãos como Ibama e ICMBio operam perigosamente próximos de um colapso financeiro generalizado. Segundo Gustavo Uribe na Folha, aliados do governo no Congresso trabalham para destravar cerca de R$ 115 milhões adicionais para a fiscalização ambiental, e empregar a Força Nacional de Segurança Pública nessas atividades.

Ao mesmo tempo, Salles reforçou a “passada-de-caneco” com os EUA, reafirmando que um eventual repasse de US$ 1 bilhão de doadores internacionais poderá impulsionar novas medidas para combater o desmatamento e implementar projetos econômicos verdes na Amazônia – de novo, sem condicionar os recursos a resultados concretos em termos de proteção florestal. Agência Brasil, Estadão, Globo Rural, O Globo, UOL e Valor destacaram a entrevista com Salles.

A credibilidade de Bolsonaro é tamanha que Estadão e Folha publicaram o discurso na íntegra, com comentários e checagem de fatos. Aos Fatos e Fakebook também checaram o pronunciamento. BBC Brasil, Deutsche Welle, O Globo, Reuters, Valor e Veja também repercutiram a fala de Bolsonaro na Cúpula Climática. Vale ler também a análise da jornalista Giovana Girardi.

Em tempo: Enquanto Salles pede dinheiro, o Brasil segue com um abacaxi diplomático nas mãos: o Fundo Amazônia, congelado há mais de dois anos por causa do próprio ministro do meio ambiente brasileiro. No Estadão, André Borges lembrou que, ao mesmo tempo em que o governo Bolsonaro pede recursos internacionais, ele melindrou a relação com os governos doadores da Alemanha e Noruega e, ao fim, inviabilizou o uso de quase R$ 3 bilhões disponíveis no Fundo, mas paralisados por desentendimento entre os países sobre a governança dele. Na paralela, Malu Gaspar informou n’O Globo que os ministérios que fazem parte do Conselho da Amazônia deixaram claro que não terão condições financeiras e operacionais para substituir as Forças Armadas nas atividades de fiscalização na Amazônia depois do encerramento da Operação Verde Brasil 2, prevista para o final deste mês.

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