Negacionismo no ar: o Spotify e a liberdade de desinformação

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Para quem não trata doença grave com mecânico, nem conserta carros com neurocirurgião, fica mais fácil entender o porquê de cientistas climáticos estarem tão furiosos com Joe Rogan. Ele é apresentador de um dos podcasts mais populares do Spotify no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Austrália. No “Joe Rogan Experience”, o podcaster e seus entrevistados vêm disseminando desinformações sobre vacinas e sobre as questões climáticas, segundo relata o Guardian.

No episódio mais popular, o “controverso” psicólogo canadense Jordan Peterson, quem não é especialista em clima, foi entrevistado por quatro horas e tentou desacreditar as modelagens climáticas, alegando não serem “confiáveis”. Segundo Peterson, “como o clima é tão complexo, não poderia ser modelado com precisão”.

A reação da comunidade científica foi imediata. As declarações foram classificadas como “incrivelmente ignorantes” e “uma salada de palavras sem sentido”. O professor Christian Jakob, especialista em modelagem climática na Universidade de Monash, na Austrália, classificou os comentários como “mal-informados”. “Ele misturou a previsão do tempo com as projeções climáticas”, resumiu. A notícia repercutiu também no Independent e na CNN.

Essa não é a primeira controvérsia envolvendo o podcast. Nesta 5a feira (27/1), BBC, Guardian e a revista Rolling Stone noticiaram a remoção das músicas do compositor Neil Young do Spotify, depois da estrela do rock dar um ultimato à plataforma: ou ele ou o podcaster Rogan. A justificativa de Young foi a campanha de desinformação promovida por Rogan sobre a pandemia de COVID-19 e sobre as vacinas. “Eles podem ter Rogan ou Young. Não os dois”, escreveu o compositor ao seu empresário e à gravadora, exigindo providências imediatas. O Spotify, que tem 381 milhões de usuários de 172 milhões de assinantes, pagou US$ 100 milhões pelos direitos exclusivos ao podcast de Rogan em 2020. Entre a desinformação e a melodia, escolheu a primeira.

 

ClimaInfo, 28 de janeiro de 2022.

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