Quase 1.700 fazendas no país ocupam áreas de Terras Indígenas

grilagem Terras Indígenas
Lidiane Ribeiro/Ibama

Um levantamento do observatório De Olho nos Ruralistas identificou mais de 1,6 mil propriedades rurais sobrepostas a Terras Indígenas em todo o Brasil, somando uma área de 1,18 milhão de hectares, o equivalente ao território do Líbano. A esmagadora maioria (95,5%) das sobreposições entre território indígena e fazenda acontece em terras com demarcação ainda pendente.

No total, 18,6% do território indígena ocupado por fazendas estão sendo utilizados para a produção agropecuária, dos quais 55,6% servem de pasto e outros 34,6% para o cultivo de soja. A análise também identificou o desmatamento de 46,9 mil hectares de floresta no período de 2008 a 2021, considerando apenas as áreas de incidência em TI.

O relatório “Os Invasores” destaca também os interesses econômicos por trás da ocupação de territórios indígenas. Gigantes do agro, como Amaggi, Bunge e Cosan figuram entre os proprietários de terras nesta condição. Da mesma forma, o levantamento também destrinchou as conexões financeiras que viabilizam a incidência de fazendas em TI, com a atuação de grandes bancos como Bradesco e Itaú, além de fundos e gestores de investimento como XP, Gávea Investimentos, IFC e Mubadala.

A ocupação de território indígena por fazendeiros e empresas também está relacionada à escalada da violência contra os Povos Tradicionais. O relatório apontou para uma correlação direta entre as sobreposições e os dados de conflitos e mortes de indígenas, em especial nos territórios dos Povos Kanela/Timbira, no Maranhão; Guarani Kaiowá e Terena, no Mato Grosso do Sul; e Pataxó, na Bahia.

“É o capital nacional e internacional, legal ou ilegal, que assina a violência. O planeta que olha para o Brasil a cobrar a preservação da Amazônia é o mesmo planeta que precisa conhecer melhor quem financia as destruições”, comentou o diretor do observatório, Alceu Luís Castilho. Agência Brasil e Brasil de Fato repercutiram esses dados.

Em tempo: Depois de anos de omissão, o governo federal começa a cumprir uma determinação judicial que pede a retirada de invasores da Terra Indígena Alto Rio Guamá, no Pará. De acordo com Rubens Valente na Agência Pública, as autoridades federais deram até o próximo dia 1º de junho para que os invasores deixem o território voluntariamente. A partir de julho, os agentes do IBAMA e de outros órgãos governamentais deverão fazer um “pente fino” no território, destruindo acessos e instalações ilegais.

ClimaInfo, 3 de maio de 2023.

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