Com tragédia climática, governo e Congresso costuram “orçamento de guerra” para reconstruir Rio Grande do Sul

6 de maio de 2024
clima extremo Rio Grande do Sul
Defesa Civil/RS

Com a porta arrombada, políticos correm para viabilizar recursos bilionários para reconstruir estado, mas modelos climáticos elaborados há 10 anos já indicavam aumento das chuvas.

O número de mortos e desaparecidos devido às chuvas extremas que atingem o Rio Grande do Sul há uma semana continua aumentando. No início da tarde de 2ª feira (6/5), a Defesa Civil gaúcha contabilizava 83 pessoas mortas e 111 desaparecidas, além de 276 feridos. Com 345 dos 496 municípios do estado atingidos pelos temporais, o governo federal decretou estado de emergência em 336 deles. Ao todo, mais de 850 mil foram afetadas pelas tempestades, com 149,3 mil fora de casa.

No fim de semana, o presidente Lula visitou novamente o estado, acompanhado dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O objetivo era agilizar a costura de um acordo político para liberar o mais rápido possível verbas para iniciar a reconstrução do estado, informam Metrópoles, InfoMoney e Bloomberg Línea. Serão cifras vultosas. Somente as estradas devem precisar de R$ 1 bilhão, segundo cálculo do ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, em entrevista à Globonews, repercutida por UOL, CNN e Poder 360.

O mais doloroso é que, pela milionésima vez, o poder público corre atrás do prejuízo depois da porta climática arrombada. E há cerca de 10 anos já havia indicações dessa tragédia. Como mostra o Observatório do Clima, em 2015, um estudo produzido pelo próprio governo federal afirmava que o sul da América do Sul, em especial a bacia do Prata, poderia ter chuvas mais intensas e por mais tempo, conforme o aquecimento global piorasse. A pesquisa “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima” foi divulgada sem alarde, após o então ministro Roberto Mangabeira Unger assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos e demitir a equipe responsável pela pesquisa.

Além das tempestades no território gaúcho, uma onda de calor incomum para essa época do ano tomou conta de boa parte da área central do país. E essa recorrência cada vez maior, com eventos também mais intensos, destaca o Estadão, deve-se às mudanças climáticas, agravadas por uma “pitada” do El Niño, cujos efeitos ainda são sentidos. 

Dados históricos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) comprovam o agravamento dos efeitos da crise climática em Porto Alegre, capital gaúcha, que tem registrado mais dias de chuvas extremas desde os anos 1960, segundo o Estadão. Na década de 2011 a 2020, Porto Alegre teve 66 dias de precipitação acima de 50 mm, 8 dias acima de 80 mm, e 2 acima de 100 mm. Entre 2001 e 2010, esse total foi de 44 dias e, entre 1961 e 1970, a primeira década contabilizada no estudo, foram 29 dias. Ou seja, o aumento foi de mais que o dobro.

Diante da iminência de novas catástrofes, cientistas fazem o alerta. “Estamos vivendo num novo clima, cheio de ondas de calor e chuvas intensas, que trazem prejuízos socioeconômicos”, disse Paulo Artaxo, professor da USP que integra o IPCC. E além da mitigação e da adaptação ao “novo anormal” do clima, Artaxo destaca: “A única maneira de lidar com isso é reduzir as emissões de gases do efeito estufa”. O que significa eliminar para ontem os combustíveis fósseis da matriz energética global.

Diante das perdas humanas e materiais crescentes, e novamente com governos reagindo em vez de agirem, Miriam Leitão chama atenção n’O Globo para a urgência de um plano de prevenção contra as tragédias climáticas. “É positivo o fato de que os governantes passaram por cima de suas divisões políticas e estão unidos agindo em favor da população. Mas é necessário ir além desses esforços. Por conta do aquecimento global, eventos como este se repetirão em outras partes do país.”

Também é fundamental que os parlamentares entendam a urgência climática e parem de aprovar leis antiambientais, destacou Marcio Astrini, do Observatório do Clima: ‘A tragédia no Rio Grande do Sul é responsabilidade também de senadores e deputados que desmontam a legislação ambiental. Nunca tivemos um Congresso tão dedicado a desmontar”, desabafou.

A tragédia climática no Rio Grande do Sul continua tendo ampla cobertura na imprensa nacional e internacional, com matérias no g1, CNN, Reuters, g1, Agência Brasil, CBSg1, Washington Post, CNN, Agência Brasil, Folha, CNN, g1.

Em tempo: A solidariedade salva vidas e as doações têm sido fundamentais para dar um alento ao povo do Rio Grande do Sul atingido pela tragédia climática. Mas sempre há quem se aproveite desses momentos de dor profunda e desespero para golpes. Para minimizar esse risco, o jornal Zero Hora publicou uma lista confiável de links para doações em dinheiro. Em nossas redes sociais também estamos divulgando informações confiáveis sobre como ajudar.

 

ClimaInfo, 7 de maio de 2024.

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