Rumo à COP28: déficit de confiança entre países ricos e pobres preocupa

27 de junho de 2023
COP28 incertezas
Wikimedia Commons

O drama diplomático observado na última sessão dos órgãos subsidiários da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), realizada neste mês na Alemanha, deixou muita gente preocupada com as perspectivas de sucesso da Conferência de Dubai (COP28) e o futuro das negociações climáticas internacionais. Os problemas são numerosos, mas um ponto tangencia todos eles: falta confiança entre os países, especialmente entre as nações desenvolvidas e aquelas em desenvolvimento.

O déficit de confiança é um elemento perigoso em negociações do tipo. Em 2009, por exemplo, desentendimentos entre os países acabaram potencializados pela desconfiança generalizada e resultaram no pior desastre diplomático da história da UNFCCC na Conferência de Copenhague (COP15). O trauma só foi superado, ao menos em boa parte, seis anos depois, quando os países concordaram com o Acordo de Paris na COP21. Mas a construção de confiança é um trabalho que toma tempo – exatamente aquilo que a humanidade não tem no enfrentamento à crise climática.

“Desenha-se uma COP28 assemelhada a um campo minado”, apontou Carlos Bocuhy no Le Monde Diplomatique. “Além do desalento global em função da instabilidade geopolítica, os trabalhos em Dubai serão conduzidos pelo líder petroleiro Sultan Ahmed al-Jaber, CEO da ADNOC, maior empresa de petróleo dos Emirados Árabes Unidos. O fato caracteriza insuperável conflito de interesses”. 

E como podemos construir a confiança suficiente para garantir que a COP28 não descarrile como a COP15? Carlos Lopes, da Universidade de Cape Town (África do Sul), sugeriu um caminho de retomada da confiança entre os países nos próximos meses. A começar, os principais negociadores e os futuros anfitriões da COP, os Emirados Árabes Unidos, precisam entrar em campo e conduzir as conversas de forma sensível e hábil.

“Em vez de negociar apenas com o interesse próprio em mente, precisamos identificar o terreno comum para bens públicos globais, reconhecer pragmaticamente quem é responsável por quê, enquanto apoiamos a presidência dos EAU a alcançar resultados significativos”, escreveu Lopes no site The Conversation.

Outro ponto levantado é a grande interrogação em torno do financiamento climático. O fracasso da UNFCCC em garantir os recursos necessários para a ação climática nos países pobres resultou em uma pulverização de iniciativas em outras instâncias, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, o que pode enfraquecer a articulação dos maiores interessados nesse debate, o próprio mundo mais pobre. “Os países em desenvolvimento precisam coordenar suas posições para essas várias reuniões de alto nível”, sugeriu o autor.

ClimaInfo, 28 de junho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar