Rumo à COP28: déficit de confiança entre países ricos e pobres preocupa

COP28 incertezas
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O drama diplomático observado na última sessão dos órgãos subsidiários da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), realizada neste mês na Alemanha, deixou muita gente preocupada com as perspectivas de sucesso da Conferência de Dubai (COP28) e o futuro das negociações climáticas internacionais. Os problemas são numerosos, mas um ponto tangencia todos eles: falta confiança entre os países, especialmente entre as nações desenvolvidas e aquelas em desenvolvimento.

O déficit de confiança é um elemento perigoso em negociações do tipo. Em 2009, por exemplo, desentendimentos entre os países acabaram potencializados pela desconfiança generalizada e resultaram no pior desastre diplomático da história da UNFCCC na Conferência de Copenhague (COP15). O trauma só foi superado, ao menos em boa parte, seis anos depois, quando os países concordaram com o Acordo de Paris na COP21. Mas a construção de confiança é um trabalho que toma tempo – exatamente aquilo que a humanidade não tem no enfrentamento à crise climática.

“Desenha-se uma COP28 assemelhada a um campo minado”, apontou Carlos Bocuhy no Le Monde Diplomatique. “Além do desalento global em função da instabilidade geopolítica, os trabalhos em Dubai serão conduzidos pelo líder petroleiro Sultan Ahmed al-Jaber, CEO da ADNOC, maior empresa de petróleo dos Emirados Árabes Unidos. O fato caracteriza insuperável conflito de interesses”. 

E como podemos construir a confiança suficiente para garantir que a COP28 não descarrile como a COP15? Carlos Lopes, da Universidade de Cape Town (África do Sul), sugeriu um caminho de retomada da confiança entre os países nos próximos meses. A começar, os principais negociadores e os futuros anfitriões da COP, os Emirados Árabes Unidos, precisam entrar em campo e conduzir as conversas de forma sensível e hábil.

“Em vez de negociar apenas com o interesse próprio em mente, precisamos identificar o terreno comum para bens públicos globais, reconhecer pragmaticamente quem é responsável por quê, enquanto apoiamos a presidência dos EAU a alcançar resultados significativos”, escreveu Lopes no site The Conversation.

Outro ponto levantado é a grande interrogação em torno do financiamento climático. O fracasso da UNFCCC em garantir os recursos necessários para a ação climática nos países pobres resultou em uma pulverização de iniciativas em outras instâncias, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, o que pode enfraquecer a articulação dos maiores interessados nesse debate, o próprio mundo mais pobre. “Os países em desenvolvimento precisam coordenar suas posições para essas várias reuniões de alto nível”, sugeriu o autor.

ClimaInfo, 28 de junho de 2023.

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