A presidência da COP28 está fazendo malabarismos retóricos para não enfrentar o maior bode na sala para as negociações de Dubai, os combustíveis fósseis.
O The Guardian teve acesso a um memorando interno da direção da Conferência no qual, em suas “mensagens estratégicas” para a imprensa, não cita as fontes fósseis de energia nem uma mísera vez.
O documento inclui a argumentação de que o mundo precisa se esforçar para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, já que os compromissos nacionais atualmente em vigor sob o Acordo de Paris estão muito aquém de impedir que o aquecimento global ultrapasse os 1,5oC neste século. Para qualquer leitor com um mínimo de conhecimento e senso crítico, o “reduzir as emissões” passa obrigatoriamente por diminuir a queima de petróleo, gás e carvão. Para a presidência da COP, no entanto, isso parece ser apenas um detalhe irrelevante.
Além de fingir que os fósseis não são o problema, o documento da presidência da COP28 se esforça para apresentar dados para mostrar que os Emirados Árabes Unidos e sua principal petroleira, ADNOC, estão trabalhando para reduzir a intensidade de carbono da exploração de petróleo e gás no país. Um detalhe: a ADNOC é presidida por Sultan al-Jaber, o presidente-designado da COP28.
O caso é mais um exemplo do conflito de interesses instalado no comando da COP28. Para o Observatório do Clima, “a estratégia vazada indica uma liderança muito mais comprometida com a indústria fóssil do que aquela promovida por Al-Jaber duas semanas atrás, quando apresentou uma carta de intenções a diplomatas do mundo inteiro. Ali, o presidente da COP28 falava em defender corte de emissões antes de 2030, incluindo um chamado aos países para melhorarem suas NDCs, pressionarem os países por financiamento climático e em reduzirem os combustíveis fósseis”.
Pois é, a carta de intenções, que parecia um avanço, agora parece uma cortina de fumaça, já que as mensagens chave divulgadas pelo The Guardian se assemelham muito mais à posição apresentada no começo do ano: redução de “emissões dos combustíveis fósseis” sem prever redução no volume da produção.
Ainda sobre a COP, a Presidência da Conferência e o Secretariado Executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) apresentaram uma declaração conjunta nesta 3ª feira (1º/8) prometendo uma “COP inclusiva” e com espaço para participação e manifestação da sociedade civil. “Queremos expressar nosso compromisso de tornar a COP28 um espaço inclusivo e seguro para todos os participantes”, disseram.
Entre as promessas, está o direito à livre manifestação de organizações e ativistas da sociedade civil durante a COP28. Isso pode parecer banal, mas os Emirados Árabes Unidos são governados sob um regime autoritário que persegue defensores dos Direitos Humanos. Por isso, ainda existe uma incerteza e um desconforto de ativistas climáticos com a resposta das autoridades do país a eventuais manifestações.
No ano passado, a liberdade de expressão e manifestação foi um desafio na COP de Sharm el-Sheikh, no Egito. A ditadura do país também tinha prometido espaço para manifestações da sociedade civil na Conferência, mas o que se viu foi perseguição e constrangimento dentro e fora do espaço oficial de negociação.
AFP e Al-Jazeera deram mais informações sobre as promessas da presidência da COP28 e da UNFCCC.
ClimaInfo, 2 de agosto de 2023.
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