Presidente da COP28 silencia sobre acusações de acordos petroleiros em conversas sobre clima

ADNOC Sultan al-Jaber
Victor Besa/The National

O executivo Sultan al-Jaber é acusado de aproveitar a COP28 em Dubai para promover os interesses da empresa petroleira ADNOC, da qual al-Jaber é presidente. 

A um dia da abertura da COP28, a Presidência da Conferência vive sua pior crise pública. Acusado de aproveitar as negociações climáticas para defender os interesses da petroleira ADNOC, Sultan al-Jaber manteve o silêncio nesta 3ª feira (28/11), mesmo com a irritação de ativistas climáticos e o desconforto de líderes e negociadores com a notícia.

As revelações foram feitas pela BBC e pelo Centre for Climate Reporting, do Reino Unido, que obtiveram documentos internos da equipe de al-Jaber que mostram a “atuação dupla” dos representantes dos Emirados Árabes nas conversas preparatórias à Conferência de Dubai.

Os documentos continham talking points para encontros de al-Jaber com representantes de outros governos, com itens que nada tinham a ver com negociação climática, mas sim com possíveis acordos da ADNOC e de outras petroleiras dos Emirados Árabes com esses países.

A notícia causou grande comoção entre grupos de ativistas climáticos, que há meses questionam a condição dupla de al-Jaber – que, ao mesmo tempo em que encabeça as negociações climáticas da ONU em Dubai, também preside uma empresa de combustíveis fósseis. Mas a irritação não se limita à sociedade civil organizada.

“Utilizar as negociações internacionais sobre o clima para alavancar novos projetos de petróleo e gás em um momento em que precisamos urgentemente eliminar os combustíveis fósseis é, para dizer o mínimo, totalmente terrível”, criticou o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore em um post no XTwitter.

A ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, também demonstrou seu desconforto com a notícia. “[A revelação] é muito preocupante porque as percepções importam e já havia uma percepção de que a Presidência [da COP] estava pouco comprometida e isso pode tornar a situação ainda mais difícil”, disse, citada pela Euronews.

Uma das autoridades que al-Jaber teria encontrado para tentar defender os interesses da indústria petroleira dos Emirados Árabes foi a ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Questionada pela Folha, ela negou que tenha tratado da venda da petroquímica Braskem com o presidente da COP28.

“Não tenho controle dos assuntos que as pessoas dizem que vão tratar [comigo], mas comigo não foi tratado. E se porventura tivesse, teria sido com a pessoa errada, porque o que eu tenho a ver com a Braskem?”, afirmou Marina.

As acusações contra al-Jaber – e o silêncio do presidente da COP28 – tiveram grande repercussão na imprensa, com destaques em Axios, CNN, Fortune, Independent e NY Times.

 

ClimaInfo, 29 de novembro de 2023.

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