Emirados Árabes sob pressão após vazamento de acordos petroleiros na COP28

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R Satish Babu/Getty Images

O governo dos Emirados Árabes Unidos foi acusado de aproveitar seu papel como anfitrião da COP28 para favorecer interesses da indústria petroleira com outros países.

Mais um capítulo da novela protagonizada pelos Emirados Árabes Unidos para a COP28: o governo anfitrião da Conferência da ONU sobre o Clima teria aproveitado essa condição para fechar acordos de combustíveis fósseis com pelo menos 15 países, entre eles o Brasil, de acordo com denúncia publicada pela BBC nesta 2ª feira (27/11).

A reportagem obteve documentos oficiais que mostram como a petroleira estatal ADNOC, presidida pelo executivo Sultan al-Jaber – que, pasmem, também presidirá a COP28 a partir do dia 30 – utilizou reuniões preparatórias às negociações climáticas para assinar acordos comerciais para exploração e venda de petróleo e gás.

Os documentos vazados foram preparados para orientar al-Jaber nas conversas com ministros e representantes governamentais sobre a COP. A reportagem cita que, para o encontro do executivo com a ministra brasileira Marina Silva, ele solicitaria uma ajuda para “garantir o alinhamento e o endosso” em relação a uma oferta da ADNOC para compra de parte da petroquímica Braskem.

Questionada, a equipe organizadora da COP28 negou que essas orientações tenham sido transmitidas a seus funcionários nas interações com representantes governamentais de outros países. Ao mesmo tempo, não está claro se al-Jaber de fato levou essas questões para as conversas com ministros e chefes de governo. De toda forma, o caso intensifica o mal-estar e a irritação da sociedade civil com os conflitos de interesse que marcam a presidência da COP28.

“Se as alegações forem verdadeiras, isto é totalmente inaceitável e um verdadeiro escândalo”, afirmou Kaisa Kosonen, coordenadora de política do Greenpeace Internacional. “O líder de uma COP deveria se concentrar na promoção de soluções climáticas de forma imparcial e não em acordos de bastidores que estão alimentando a crise climática. Este é exatamente o tipo de conflito de interesse que temíamos quando o CEO de uma empresa petroleira foi nomeado para a presidência da COP”.

Já Ann Harrison, da Anistia Internacional, reiterou que a comunidade internacional não pode considerar al-Jaber como um mediador honesto para a COP28 enquanto ele seguir no comando da ADNOC. “Pedimos a al-Jaber que renuncie ao seu cargo na ADNOC se quiser liderar uma cúpula bem-sucedida”.

“Este é o momento ‘Volkswagen 2015’ [alusão ao escândalo do Dieselgate]

para a Presidência da COP. Pega em flagrante, ela não tem outra alternativa senão reforçar a transparência, a responsabilidade e o accountability com os quais lideraram o processo”, avaliou Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em post no falecido Twitter. “Esta Presidência da COP estará sob escrutínio público como nunca antes. Este é um desafio tremendo e uma oportunidade transformacional para ela”.

AFP, Financial Times, Guardian e POLITICO, além do g1, repercutiram a denúncia da BBC contra o comando da COP28.

 

ClimaInfo, 28 de novembro de 2023.

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