Silveira chama adesão brasileira à OPEP+ de “benção”

Alexandre Silveira
Divulgação

Ministro diz que adesão à OPEP+ “livrou” o Brasil de “camisa de força ambiental” na COP28, a despeito das explicações (capengas) do seu chefe presidente.

Uma “benção”. É assim que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, classificou a notícia sobre a adesão do Brasil à OPEP+, clube de países aliados ao cartel petrolífero, em plena COP28 de Dubai. A novidade surpreendeu negativamente observadores e ativistas climáticos e chamuscou a participação brasileira na Conferência do Clima.

O argumento de Silveira aponta exatamente essa surpresa negativa como um ponto positivo da notícia: para ele, a declaração feita logo no começo da COP28 teria livrado o Brasil de uma “camisa de força ambiental” que outros governos queriam enfiar no país em Dubai, especialmente nas discussões referentes à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

“Aquilo foi uma grande oportunidade do Brasil não participar de algo que era vontade de alguns países desenvolvidos, em especial dos países da Europa”, disse o ministro à Folha. “Fui muito criticado naquele primeiro momento por estar em um fórum ambientalista discutindo a participação do Brasil numa plataforma dos países exportadores de petróleo. Mas aquilo ali foi muito importante para o Brasil naquele momento, porque mostrou que o Brasil tem musculatura para discutir com altivez a sua matriz energética”.

A “altivez” de defender o petróleo na COP28 não caiu bem e causou um prejuízo à imagem internacional do Brasil, que sediará a COP30 daqui a dois anos. O país ganhou o antiprêmio Fóssil do Dia, entregue pela Climate Action Network (CAN), por “aparentemente confundir produção de petróleo com liderança ambiental”.

A Bloomberg destacou como a “benção” citada por Silveira está diretamente relacionada às disputas de poder dentro do próprio governo Lula. Um exemplo é a queda de braço entre o ministro de Minas e Energia e o colega dele na Fazenda, Fernando Haddad, sobre o Plano de Transformação Ecológica. Enquanto Haddad tenta excluir a indústria fóssil dos incentivos fiscais sob o novo plano, Silveira quer contemplar o setor.

O mal-estar com a política energética brasileira se intensificou na última semana, depois da realização do polêmico “Leilão do Fim do Mundo” que incluiu blocos para a exploração de petróleo em áreas ambientalmente sensíveis. O leilão fechou sem lances para áreas nas proximidades de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas, mas blocos na região amazônica e na Bacia de Pelotas – de alta biodiversidade – foram arrematados, inclusive em áreas que afetam Terras Indígenas e Unidades de Conservação.

 

ClimaInfo, 18 de dezembro de 2023.

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