Lula na COP28: Brasil se aliará à OPEP+ para “convencer países a abandonar petróleo” (?!) 

COP28 Brasil OPEP+
Ricardo Stuckert / PR

O conserto de Lula foi pior que o enguiço, e o Brasil que chegou à COP28 querendo protagonizar a agenda climática sai sujo de petróleo.

“Eu acho importante a gente participar, porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para reduzirem os combustíveis fósseis. Muita gente ficou assustada com a ideia, mas [o Brasil] não vai participar da OPEP, vai participar de uma coisa chamada OPEP+. É como se fosse o G7+: vou lá, escuto, só falo depois que eles tomaram a decisão. Não apito nada.”

A confirmação do presidente Lula de que o Brasil se “aliará” à OPEP, cartel dos maiores exportadores de petróleo do mundo, foi um balde de água fria sobre quem esperava um aceno para o abandono gradual dos combustíveis fósseis. A informação surgiu no primeiro dia da COP28, quando o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defensor convicto do petróleo, do gás e da exploração até a última gota, confirmou o convite da entidade. Silveira falou que a proposta estava sendo “analisada”, mas Lula não resistiu e, dois dias depois, não só confirmou que o Brasil se aliará ao cartel como que deseja “ajudar os países da OPEP na transição energética”.

“Ah, tá”, respondeu Daniela Chiaretti no Valor. Só mesmo com ironia para não se revoltar com o fato de que o Brasil – que chegou à Conferência do Clima buscando o protagonismo climático – queima sua imagem ao se aliar a um grupo pró-petróleo, que recentemente disse que a indústria de combustíveis fósseis estava sendo “difamada” pela Agência Internacional de Energia, quando esta cobrou ações efetivas na substituição de petróleo e gás por fontes renováveis.

O choque foi tão grande que quase eclipsou os bons dados de queda do desmatamento na Amazônia, e apagou outros anúncios do governo, como a apresentação do Plano de Transformação Ecológica pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o pleito pela ampliação do financiamento climático. “Festejar a entrada no clube do petróleo no meio de uma conferência do clima é um escárnio”, disse o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

Mesmo especialistas não ligados à área ambiental questionavam a adesão. Jamil Chade revelou que o Itamaraty resistiu à adesão ao “cartel da energia suja”. Na avaliação de diplomatas, não haveria ganhos reais e, ao mesmo tempo, o custo político seria elevado.

O cenário se torna ainda pior pelo Brasil, em nove dias, promover um leilão para exploração de combustíveis fósseis que inclui áreas na Amazônia e no litoral próximas a Fernando de Noronha e Atol das Rocas. “O Brasil está preso em contradições. Por um lado, é olhar para frente e caminhar na direção certa em relação às florestas. Mas, por outro lado, carrega o peso do passado quando se trata de exploração de petróleo. O Brasil precisa ser mais consistente se quiser assumir um papel de líder climático antes da COP30”, avaliou Carol Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil.

A entrada do país na OPEP foi amplamente repercutida pela imprensa nacional e internacional, com matérias em Folha, epbr, g1, Agência Brasil, Valor, Brasil de Fato, Carta Capital, R7, Correio Braziliense, Terra, Metrópoles, IstoÉ, Estadão, Investing.com, Revista Fórum, Veja, DW, BBC, Reuters, Folha e Valor, entre outros.

Em tempo: Petrobras das Arábias? Jean Paul Prates disse à Bloomberg que a estatal avalia abrir uma unidade no Oriente Médio. Para Lula, a cabeça de Prates “é muito fértil”.

 

ClimaInfo, 4 de dezembro de 2023.

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