Otimismo com ressalvas e cobranças: as reações sobre os combustíveis fósseis no texto final da COP28

COP28 repercussão documento final
UNFCCC Flickr / COP28 / Christopher Pike

Ambientalistas e especialistas veem avanço na inclusão da transição dos combustíveis fósseis no texto da conferência, mas criticam pouca ambição e cobram efetividade de ações.

“Depois de 30 anos, o que era óbvio entrou em um texto de clima da ONU. Antes de tudo significa uma mensagem direta contra o uso de combustíveis fósseis. Mas aqueles que sofrem com as consequências do clima só podem comemorar algo quando ações concretas forem tomadas.”

A fala de Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, divulgada pelo Valor, resume a avaliação de ambientalistas e especialistas sobre a versão final do Global Stocktake (GST) da COP28. A duras penas, após uma versão pífia que “passava pano” para os combustíveis fósseis, e 24 horas após o fim previsto para a Conferência, o texto aprovado, enfim, começou a dar nome aos bois, ainda que deixando de lado o “phasing out” e utilizando transitioning away. A inclusão foi considerada positiva e de algum modo salvou a COP de um fracasso retumbante. Mas não atacou como deveria o status quo de petróleo, gás fóssil e carvão mineral, as raízes do problema climático.

Além disso, o texto também deu brechas para duas questões-chave para a indústria do petróleo, explica a Bloomberg. Diz que o gás fóssil pode desempenhar um papel na redução das emissões e, também, colocou a captura e o armazenamento de CO2 – o caro e pouco efetivo CCS – ao lado de energias renováveis e nuclear como tecnologias-chave para a transição.

“O que vemos (…) é um passo na direção certa, mas não o salto que o mundo precisa dar para chegar a um futuro com zero emissões líquidas até 2050. Não se enganem: incluir todos os combustíveis fósseis no texto final sinaliza que os governos estão mais abertos para lidar com o elefante na sala”, reforçou ao g1 o diretor da The Nature Conservancy, Andrew Deutz.

E aí é que está o problema: lidar com o elefante dos combustíveis fósseis na sala. O texto não deixou claro quem deve puxar as iniciativas de “transitioning away” dos hidrocarbonetos. Uma das propostas, inclusive defendida pelo Brasil, era atribuir essa tarefa aos países ricos, por razões óbvias, já que foram eles os primeiros a queimar combustíveis fósseis e fazer o planeta chegar à crise climática atual. No entanto, ficou no “deixa-que-eu-deixo”, já que o texto do Global Stocktake não estabeleceu esse rumo.

Após a plenária que aprovou o texto, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, voltou a cobrar o protagonismo dos países ricos na empreitada de eliminação dos combustíveis fósseis, destaca o Valor. E adiantou que a tarefa do governo brasileiro, já mirando a COP30 de Belém, é obter avanços no financiamento climático e garantir a transição justa.

“O compromisso que estamos assumindo aqui redireciona nossas ambições, mas também nossas responsabilidades, nosso comprometimento em todas as suas dimensões: mitigação, adaptação e meios de implementação alinhados a 1,5°C são agora incontornáveis”, ressaltou.

Sem phase out ou phase down e sem os caminhos para quando, afinal, vamos começar a tal “transição”, os países insulares – os mais ameaçados pela elevação dos oceanos provocada pelas mudanças climáticas – saíram da COP28 com mais perguntas do que respostas. Foi o que disse à Reuters Anne Rasmussen, de Samoa, em nome da Aliança dos Pequenos Estados Insulares.

“Não queríamos interromper a ovação de pé quando entramos na sala [plenária onde o documento da COP foi aprovado], mas estamos um pouco confusos sobre o que aconteceu. Parece que você simplesmente segue com as decisões e os pequenos estados insulares em desenvolvimento não estavam na sala. Chegamos à conclusão de que a correção de curso necessária não foi garantida. Fizemos um avanço incremental em relação aos negócios normais, quando o que realmente precisamos é de uma mudança exponencial em nossas ações.”

O documento final da COP28 e reações a ele foram amplamente repercutidos na imprensa, com matérias e análises em Agência Pública, The Guardian, Bloomberg, Um só planeta, Estadão, g1, UOL, Brasil de Fato, Valor, Reuters, Brasil 247, O Globo e New York Times, entre outros.

 

ClimaInfo, 14 de dezembro de 2023.

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