Bancos brasileiros são os que mais financiam o agronegócio que desmata

6 de dezembro de 2023
Brasil bancos financiamento agronegócio
Fernando Martinho/Repórter Brasil

As instituições financeiras brasileiras injetaram pelo menos US$ 127 bilhões entre janeiro de 2016 e setembro de 2023 em empresas com histórico de violações socioambientais.

Os bancos brasileiros são os que mais fornecem crédito para o agronegócio que representa risco às florestas tropicais no planeta. Segundo análises da Coalizão Florestas & Finanças, entre janeiro de 2016 e setembro de 2023, instituições financeiras brasileiras injetaram  ao menos US$ 127 bilhões em empresas com histórico de violações socioambientais na produção de carne bovina, soja, óleo de palma, celulose e papel, borracha e madeira. A cifra representa nada menos que 41% do total global de empréstimos (US$ 307 bilhões) levantado pelo estudo. E o Banco do Brasil, controlado pelo governo federal, lidera o ranking.

O fato do Brasil ter uma elevada produção de commodities conta para o resultado, mas a coordenadora da coalizão, Merel van der Mark, sinaliza que os investimentos têm sido feitos sem que sejam observados os riscos dessas transações para a biodiversidade, destaca a Repórter Brasil. “O Brasil é um dos países que mais produz carne e soja. Mas é urgente que  as instituições financeiras adotem políticas de desmatamento zero”, enfatiza ela.

Na ponta dos recebedores de recursos, empresas que operam no Brasil receberam mais de US$ 20 bilhões ao ano, somando US$ 188 bilhões entre 2016 a 2023 – o que inclui tanto crédito nacional como de fontes estrangeiras. As multinacionais de papel e celulose, Suzano e Klabin, receberam a maior parte dos recursos, seguidas pela Marfrig, gigante do setor pecuário.

Investigações recentes feitas pela Repórter Brasil mostraram que a Klabin extraía minérios de áreas de preservação ambiental, e a Suzano arrendava fazenda flagrada com trabalho escravo. Uma denúncia feita na França em novembro se baseou em análise do Center for Climate Crime Analysis (CCCA) para afirmar que 40% dos fornecedores de duas plantas da Marfrig em Mato Grosso tinham alguma irregularidade socioambiental.

Em tempo 1: A Polícia Federal deflagrou na 4ªa feira (6/12) a Operação Retomada II, contra uma organização suspeita de grilar e desmatar cerca de 22 mil hectares, equivalentes a mais de 20 mil campos de futebol, de Terras da União para a pecuária. A Justiça determinou o sequestro de R$ 116 milhões em bens, explicam Folha, g1, CNN, R7 e O Liberal. Segundo a PF, o grupo provocou o maior desmatamento da Amazônia. Os 11 mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Pará e em Mato Grosso, contra empresários, engenheiros e até servidores públicos, que atuariam junto a uma família de pecuaristas na destruição da floresta. “Identificou-se que empresas, por meio de seus sócios e funcionários, teriam fraudado cadastros de áreas públicas da União através da inserção de dados falsos em sistemas e falsificação de documentos”, diz a PF, que não divulgou os nomes dos suspeitos.

Em tempo 2: A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) de Goiás multou uma empresa que pertence ao governador Ronaldo Caiado (UB) e sua família por desmatamento ilegal. A vegetação retirada fica em uma área de preservação permanente dentro da Fazenda Limoeiro, no norte do estado, informa o g1. A propriedade está registrada nos nomes do governador e de mais cinco irmãos. Dois deles aparecem com administradores.

Em tempo 3: Acabar com o desmatamento – o ilegal e também o legal – e investir na restauração da vegetação nativa em larga escala estão entre as medidas sugeridas por um estudo da Universidade de Oxford para que o Brasil atinja a meta de zerar a emissão líquida de gases do efeito estufa até 2050. A pesquisa afirma que a melhor forma para isso é com o uso de Soluções Baseadas na Natureza (SBN). Já alternativas mais tecnológicas, como captura, utilização e estocagem de carbono (CCUS), além de mais caras, não se adaptam completamente à situação brasileira, explica a Agência Brasil. Olha isso aqui, Jean Paul Prates!

 

ClimaInfo, 7 de dezembro de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar