Captura e armazenamento de carbono: a ilusão cara no deserto de ideias da COP28

12 de dezembro de 2023
COP28 CCS captura e armazenamento de carbono
UNFCCC Flickr / COP28

As petroleiras querem nos convencer que o mundo não precisa reduzir o consumo de combustíveis fósseis, basta capturar e armazenar o carbono da atmosfera. Será?

A Conferência do Clima de Dubai (COP28) trouxe à tona a necessidade da economia global se livrar o quanto antes da dependência dos combustíveis fósseis como caminho para evitar mudanças climáticas ainda mais catastróficas. Não à toa, ao mesmo tempo em que se discute a eliminação progressiva dessa energia suja, a indústria petroleira tenta convencer o mundo que isso é desnecessário. 

O argumento é tão simples que parece um passe de mágica: vamos sugar o carbono da atmosfera e armazená-lo em algum lugar. Pronto! Aí podemos seguir queimando combustíveis fósseis sem nos preocuparmos com o aquecimento global. A mágica tem até uma sigla: CCS, carbon capture and storage, ou captura e armazenamento de carbono em Português.

O efeito mágico da CCS começa a se enfraquecer quando olhamos com detalhe a proposta. Fora alguns projetos-piloto em escala muito reduzida, não há neste momento qualquer tecnologia que permita a captura e o armazenamento de carbono da atmosfera terrestre em uma proporção que faça qualquer diferença na luta contra a mudança climática.

A Bloomberg lembrou o exemplo dos Estados Unidos, que destinaram bilhões de dólares em incentivos e crédito nas últimas décadas para impulsionar empreendimentos da CCS em centrais elétricas e instalações industriais. Mesmo com todo o dinheiro despejado, apenas 14 projetos estão em funcionamento atualmente, metade deles ligados às aplicações mais baratas – processamento de gás e produção de etanol.

Mas nada disso impede que muitos países petroleiros e empresas de combustíveis fósseis pressionem na COP28 pela adoção da CCS como um caminho para limitar o aquecimento global. Vide o tamanho da delegação de lobistas do setor presente em Dubai: de acordo com o Guardian, são pelo menos 475 representantes desse setor credenciados para participar da Conferência.

O entusiasmo da indústria petroleira e de alguns países com CCS pode afetar a ambição dos compromissos em discussão em Dubai sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Os defensores da CCS propõem que apenas as emissões de combustíveis fósseis que não possam ser “compensadas” por absorções artificiais fiquem na mira do phase-down ou phase-out da energia fóssil.

Por mais que o “canto da sereia” seja forte em Dubai, os países não podem cair na tentação da CCS. “Embora possa ser útil marginalmente, a CCS não logra reduções nas emissões de gases de efeito estufa na escala necessária para evitar o desastre climático. Isto só poderá acontecer se as principais fontes de emissões – os combustíveis fósseis – forem eliminadas gradualmente”, alertaram Laurence Tubiana (ex-diplomata e uma das arquitetas do Acordo de Paris) e Emmanuel Guérin, ambos da European Climate Foundation, no Climate Home.

Guardian e Independent também abordaram a insistência da indústria fóssil e de países produtores de petróleo com CCS na COP28.

 

ClimaInfo, 12 de dezembro de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar