Brasil retoma agenda do G20 em encontro de chanceleres e esquiva-se de crise com Israel

Brasil G20 reunião ministros exterior
Márcio Batista/Ministério das Relações Exteriores

Governo brasileiro manteve foco em temas como reforma da governança global, transição energética e financiamento a países pobres, tratando de “ruídos” internacionais em recados indiretos.

A presidência brasileira do grupo que reúne as maiores economias do mundo – o G20 – promoveu nesta 4ª feira (21/2) no Rio de Janeiro um dos encontros ministeriais mais esperados, a primeira reunião de ministros do Exterior. Sob um contexto político tumultuado, o Brasil reiterou seus objetivos para o G20 neste ano, em especial no que diz respeito à transição energética e à ampliação do financiamento internacional (inclusive climático) para os países em desenvolvimento.

O encontro acontece em um momento particularmente desafiador, com os conflitos entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, Israel e Palestina. Neste último, o Brasil acabou protagonizando um conflito diplomático com o governo de Israel no último final de semana, depois do presidente Lula criticar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza e compará-la ao Holocausto. A resposta de Tel-Aviv, que submeteu o embaixador brasileiro em Israel a uma reprimenda pública, desagradou o Itamaraty.

O governo brasileiro buscou isolar a crise diplomática com Israel das discussões no Rio. A proposta de reforma da governança global foi destacada pelos representantes do país como uma saída para evitar novos conflitos armados e remanejar os recursos financeiros que hoje alimentam a máquina de guerra para as necessidades de desenvolvimento e ação climática dos países mais pobres.

“Os desembolsos para combater mudanças climáticas, sob o amparo do Acordo de Paris, mal conseguem alcançar US$ 100 bilhões por ano, portanto menos de 5% dos gastos militares. Não consigo evitar a sensação de que nos faltam ações concretas sobre tais questões”, afirmou o chanceler Mauro Vieira na abertura do encontro. Folha, g1, O Globo, Valor e VEJA destacaram a fala.

“A proliferação de conflitos preocupa de forma muito aguda. Isso mostra que há um déficit de governança para enfrentar os desafios atuais, não somente globais, como a questão da mudança do clima, como o básico de preservação da paz no sistema internacional”, comentou o embaixador Maurício Lyrio, secretário de assuntos econômicos e financeiros do Ministério das Relações Exteriores e representante brasileiro no G20, citado pela CNN Brasil.

A reforma da governança global dialoga com outro objetivo brasileiro – a ampliação da ajuda financeira e tecnológica aos países em desenvolvimento para ação climática. Não à toa, como destacou a Folha, o Brasil priorizou a transição energética e as relações com os países africanos nos convites oficiais a governos fora do G20 para a cúpula deste ano.

Outro esforço do Brasil, também abordado pela Folha, é a discussão em torno do combate à fome e da erradicação da pobreza. Essas tratativas também se iniciaram ontem, com o primeiro encontro da força-tarefa do G20 para a implementação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Nesse sentido, o governo brasileiro quer usar iniciativas domésticas, como o Bolsa Família e o Programa Luz para Todos, como sugestões de política pública para o combate à pobreza. O Globo deu mais detalhes.

Como Míriam Leitão observou n’O Globo, a presidência do Brasil no G20 é um “momento de ouro para a diplomacia brasileira” e o país terá protagonismo em debates relevantes para o contexto internacional. “[O Brasil] retoma seu papel no mundo. Por seu tamanho, o país não pode ser pária.”

“É preciso aproveitar a liderança do G20 e criar agora novos modelos econômicos compatíveis com a natureza, capazes de oferecer alternativas a quem hoje depende de economias danosas à floresta, e que valorizem os serviços ecossistêmicos fornecidos pelo planeta, dos quais mais de metade do PIB do mundo depende”, argumentou Ilona Szabó, do Instituto Igarapé, em artigo na Folha.

O primeiro encontro de ministros do G20 sob a presidência brasileira teve grande repercussão na imprensa, com matérias na BBC Brasil, Band, Deutsche Welle, Estadão, g1, O Globo, Valor e VEJA, entre outros.

 

ClimaInfo, 22 de fevereiro de 2024.

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